Ainda que Donald Trump o tenha derrotado por margens esmagadoras, de New Hampshire à Flórida e ao Arizona, o senador Ted Cruz até recentemente podia se reconfortar ao recordar uma vantagem crucial: ele vinha derrotando Trump nas obscuras disputas internas por delegados que podem terminar decidindo a indicação do Partido Republicano à Presidência. "É assim que se vence uma eleição nos Estados Unidos", vangloriou-se Cruz depois de conquistar a maioria dos delegados no Wyoming, um mês atrás. Agora, diante de uma disputa que pode ameaçar sua candidatura nesta terça-feira (3), em Indiana — onde uma pesquisa da NBC News, "Wall Street Journal" e Marist divulgada no domingo (1º) o mostrava 15 pontos percentuais atrás de Trump —, Cruz não terá grande consolo a extrair de sua tão alardeada operação de captura de delegados, mesmo que vença no Estado.
A realidade é que os delegados — como os eleitores comuns — são suscetíveis a viradas de opinião pública. E à medida que a gravitação das recentes vitórias esmagadoras de Trump nas primárias atrai mais republicanos à sua candidatura, o apoio a Cruz entre os 2.472 delegados que participarão da convenção do partido vem caindo, o que coloca em risco sua esperança de impedir a nomeação de Trump ao derrotá-lo em uma votação plenária no evento em Cleveland, em julho. Cada delegado que Trump conquista o aproxima dos 1.237 votos de que ele necessita para garantir a indicação diretamente, e as chances de Cruz de detê-lo — mesmo que consiga uma virada improvável em Indiana — estão se reduzindo. Antes da vitória esmagadora de Trump na Pensilvânia, na semana passada, a campanha de Cruz se vangloriava de ter 69 pessoas dedicadas a adquirir o maior número possível de delegados entre os 54 delegados avulsos do Estado, que estão livres para votar como preferirem na primeira votação da convenção, o que poderia lhes conferir papel decisivo em uma convenção disputada. Ted Cruz conquistou apenas três delegados. Na Dakota do Norte, onde a campanha de Ted Cruz declarou vitória depois da convenção republicana no Estado em 3 de abril e disse ter conquistado "vasta maioria" dos 28 delegados avulsos do Estado, o apoio a Cruz parece estar em queda. Em entrevistas, delegados disseram que o candidato tinha apenas 12 promessas firmes de voto, para começar, e que mesmo alguns desses simpatizantes parecem estar começando a vacilar agora que a vantagem de Trump aumentou muito. E em Estados de todo o sul, supostamente o baluarte de Cruz, alguns delegados começam a ecoar um sentimento que parece crescer no Partido Republicano: uma sensação de resignação diante da ideia de que Trump representará a agremiação na eleição presidencial. "Honestamente, não acreditávamos que ele chegaria até onde chegou", disse Jonathan Barnett, representante do Arkansas no Comitê Nacional Republicano, sobre Trump. Barnett, que apoiava a campanha frustrada do ex-governador Mike Huckabee, disse que seu foco agora estava em vencer em novembro, mesmo que isso acarretasse a necessidade de aderir, a contragosto, a Trump. As mudanças de opinião tiveram pouco a ver com qualquer súbita inspiração quanto às chances de eleição de Trump ou com os recentes esforços de sua campanha para retratá-lo com mais seriedade. Em lugar disso, disseram delegados e dirigentes do partido, eles estão prontos a ir adiante e se unir em apoio a alguém, para que os republicanos não cheguem à eleição geral irremissivelmente divididos. E muitos delegados também mencionam dúvidas quanto a Cruz ser de fato uma melhor escolha. "O número de pessoas que questionaria a ideia de aderir a Cruz é igualmente grande", disse Barnett. Essa aquiescência gradual revela uma falha ainda maior na estratégia de Cruz de se tornar o único candidato alternativo a Trump que restou de um grupo inicial de 17: o caso era menos de adesão a ele do que de uma busca desesperada de alternativas mais palatáveis a Trump. Mas o "nunca" do movimento "Nunca Trump" agora parece estar se transformando em "relutantemente". "Não faço parte da campanha 'qualquer um menos Trump'", disse Jim Poolman, delegado do Dakota do Norte. "Minha campanha é qualquer um menos Hillary", acrescentou. Poolman disse que ainda planeja votar em Cruz na primeira votação, que foi o compromisso que ele assumiu com a direção de campanha do candidato. Mas acrescentou que não se tratava de uma decisão irreversível. "Estou tentando manter meu compromisso, mas ser pragmático", disse. "Há muita coisa que pode acontecer antes de Cleveland. E sei que isso me faz soar vacilante, mas não é isso que quero dizer." Delegados como Poolman são emblemáticos dos problemas mais amplos da campanha de Cruz para reter votos, caso a indicação não esteja confirmada antes da convenção. Poolman inicialmente era partidário do senador Marco Rubio, da Flórida, que deixou a disputa em março. Enquanto Poolman buscava outro candidato, conta, voluntários locais da campanha de Cruz perguntaram se podiam incluir seu nome na lista de delegados que apoiariam Cruz na convenção estadual. Ele disse que Heidi, a mulher de Cruz, telefonou para ele e lhe deu o número de seu celular, afirmando que o delegado sempre teria "uma linha direta para a campanha". Poolman terminou eleito como delegado. Mas agora, Poolman diz se preocupar com a desunião do partido, e o que isso poderia representar para os republicanos em novembro. "Minha meta pessoal", disse, "é não permitir que nossa convenção se torne um circo".
Kelly Armstrong, presidente do Partido Republicano em Dakota do Norte, disse que Cruz continua a ter muito apoio no Estado, mas define o número de votos com que ele conta entre os 28 delegados avulsos como "pelo menos 10" — bem abaixo da "vasta maioria" que a campanha de Cruz vinha alardeando. Armstrong, que não tomou partido na disputa, disse que os delegados também precisam considerar o efeito que negar a indicação a Trump poderia ter entre seus partidários. "Não podemos causar imensa irritação a algumas pessoas com relação ao processo e imaginar que teremos o apoio delas em novembro", disse Armstrong. Os resultados na Pensilvânia foram os mais perturbadores para Cruz. Ele tinha dominado a disputa por delegados no Colorado e Wyoming, votações influenciadas pela espécie de ativista do partido que ele tende a atrair. Mas Trump parece ter conquistado pelo menos 40 dos 54 delegados irrestritos da Pensilvânia. "Não haverá segunda votação", disse Ash Khare, eleito na terça-feira passada (26) como delegado irrestrito pela Pensilvânia. Khare se recusou a declarar apoio a qualquer candidato antes da eleição, ainda que Trump, Cruz, e o governador John Kasich, do Ohio, o tenham procurado, segundo ele. "Prometeram-me uma foto, uma conversa privada. Pode esquecer", disse Khare, dizendo que sua intenção havia sido sempre a de votar no candidato que tivesse ganhado em seu distrito. Isso quer dizer Trump. Khare afirmou que nada o atrai especialmente, em Trump ou em suas ideias. "Se ele terá ou não sucesso, não sei", disse. Mas afirmou que não podia contrariar a vontade de tamanho número de eleitores. "Há uma revolução em curso", afirmou. Os eleitores podem estar começando a aceitar o raciocínio de Trump, de que ele mereceria a candidatura mesmo sem obter 1.237 delegados. Uma recente pesquisa da rede de TV NBC e do "Wall Street Journal" constatou que mais de 60% dos republicanos acreditam que o nomeado deve ser o candidato com mais votos, mesmo que ele não tenha o apoio da maioria dos delegados. Ainda assim, a campanha de Trump está atuando para garantir o compromisso dos delegados de que necessitaria para obter a maioria. Já que a primária de Indiana pode ser um momento decisivo para seu esforço de deter Trump, Cruz só pode esperar que a campanha uma vez mais tome rumos inesperados. "Trump é muito popular em nosso Estado", disse Alec Poitevinte 2º, veterano líder republicano na Geórgia e antigo simpatizante de Rubio, agora sem candidato decidido. Ele será um delegado restrito na primeira votação, mas ainda não lhe foi designado um candidato à indicação. E se ele tiver de votar em Trump, que venceu com 39% dos votos na Geórgia? "Tudo bem, por mim", disse.
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