quarta-feira, 25 de maio de 2016

Temendo grampo, ex-presidente da Transpetro bloqueava celulares


Em sua sala na Transpetro, no Centro do Rio de Janeiro, o ex-presidente Sérgio Machado, de 69 anos, mantinha sobre a mesa um bloqueador de sinal de telefones celulares. Durante as 14 horas diárias que permanecia no escritório, mantinha ligada uma música em baixo volume, o que confundiria conversas ao telefone. Temia ser gravado. Curiosamente, o presidente mais longevo da estatal – ficou no cargo de 2003 a 2014 –, voltou a ser assunto a partir de gravações de conversas suas com o ministro do Planejamento, o senador Romero Jucá (PMDB). A Sérgio Machado se afastou da presidência da Transpetro em novembro de 2014, a partir dos primeiros depoimentos da Lava Jato que o citaram em um esquema de repasse de propina da subsidiária da Petrobras para o senador Renan Calheiros. De acordo com Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Machado doou ao PMDB de Alagoas R$ 400 mil oriundos de propina, e o partido repassou o dinheiro a Renan. O lobista Fernando Baiano prestou depoimento semelhante. À Polícia Federal, Sérgio Machado admitiu encontros com Baiano. O processo envolvendo o ex-presidente da Transpetro tramita em sigilo no Supremo Tribunal Federal. Cearense, Sérgio Machado iniciou sua carreira política ao lado de Ciro Gomes e Tasso Jereissati, em um grupo de novas lideranças que se orgulhava de ter quebrado a hegemonia de coronéis no Estado. Nesta época, era filiado ao PMDB e coordenou a campanha que levou Tasso a comandar o Estado em 1986. Foi secretário de governo durante o mandato. Em 1990, foi para o PSDB, onde se elegeu para o Senado no fim da década. Em 2001, filiou-se ao PMDB para concorrer ao governo do Ceará – ficou em terceiro lugar na disputa. Machado foi também proprietário da fábrica de jeans Vilejack. Na época, a empresa tinha uma dívida de R$ 30 milhões com o Banco do Brasil. Foi vendida logo depois. Formado em administração, não tinha experiência na área de atuação da Transpetro quando assumiu a presidência, em 2003, por indicação de Renan Calheiros. Na estatal, lançou o Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), que tinha como objetivo contratar navios no País para permitir a reabertura de estaleiros no Brasil. O programa contratou 49 embarcações a preços mais altos do que no mercado internacional e levou à abertura de três estaleiros: Atlântico Sul (EAS) e Vard Promar, ambos em Pernambuco, e o Rio Tietê, em Araçatuba (SP). Com a crise da Petrobras, o Promef teve uma reviravolta: foram suspensos oito contratos com o estaleiro Mauá, que fechou as portas em julho do ano passado alegando falta de dinheiro e deixando três navios inacabados. No Vard, dois contratos foram cancelados. Há rumores sobre o cancelamento de outros no EAS. Em 2010, quando assumiu o primeiro mandato, a presidente Dilma Rousseff tentou trocar o comando da estatal, mas não conseguiu. Sérgio Machado chegou a mostrar à presidente que tinha o apoio de 11 senadores para permanecer no cargo. Ficou por mais quatro anos, até o início da Lava Jato. 

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