O novo ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), apresentou nesta quarta-feira as diretrizes da política externa brasileira, em cerimônia de transmissão de cargo com seu antecessor, o chanceler petista Mauro Vieira. "A nossa política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não de um governo e jamais de um partido", disse Serra: "Estaremos atentos à defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país, em qualquer regime". Serra também criticou a "ingerência" em questões nacionais de outros países, depois de rebater na semana passada declarações de Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua, que criticaram o processo de impeachment que afastou temporariamente a presidente petista Dilma Rousseff. Sob aplausos e diante de uma platéia do corpo diplomático, embaixadores e dezenas de parlamentares, governadores tucanos e outros ministros do governo Michel Temer (PMDB), Serra afirmou que vai recuperar a capacidade financeira do Itamaraty e que contará com a ajuda do ministro do Planejamento, Romero Jucá, para recuperar o ministério da "penúria". "A Casa será reforçada e não enfraquecida. No governo Temer, o Itamaraty volta ao núcleo central do governo", discursou o novo chanceler, frisando que, no ministério, não vai apenas "fazer visitas inócuas para cumprir tabela". O ministro afirmou que o País terá de buscar um "papel pioneiro" na gestão do clima e poderá receber "recursos caudalosos" de entidades internacionais para preservação da biodiversidade. Na política regional, Serra disse que buscará um aprofundamento da parceria com a Argentina de Maurício Macri, para reorganização da política e da economia. Pouco antes, o ex-ministro petista Mauro Vieira, a quem Serra elogiou pela "prestatividade", havia dito que a "parceria com a Argentina é mais estratégico pilar da integração do Mercosul". Para Serra, no entanto, mesmo as relações comerciais ainda deixam a desejar. "Precisamos renovar o Mercosul com objetivo de fortalecê-lo, antes de mais nada, com relação ao livre comércio", disse. Ele disse que também vai buscar aproximação com os países regionais da Aliança Para o Pacífico - Chile, Peru, Colômbia e México. Também afirmou que buscará retomar as relações com Japão e Estados Unidos e trabalhar para a remoção de barreiras tarifárias. E buscar parceiros novos na Ásia, consolidando acordos comerciais com mercados de grande porte, como a China e a Índia. Serra criticou a postura do País na Organização Mundial do Comércio e disse que, nos governos do PT, o Brasil "fez concessões sem reciprocidade" e ficou amarrado a esforços multilaterais que não prosperaram e ficou à margem da multiplicação de parceiros bilaterais. Serra ainda criticou a política externa de aproximação no hemisfério sul com países da África, colocada em prática no governo Lula. O tucano disse que, na década anterior, as relações com países africanos virou "estratégia publicitária" e não priorizou o comércio. "Não pode essa relação restringir-se, como pretendiam e pretendem alguns, a laços fraternos do passado e a correspondências culturais, mas sobretudo forjar parcerias concretas para o futuro. A África espera um efetivo intercâmbio tecnológico e econômico", afirmou: "Um país do tamanho do Brasil não escolhe ou repele parcerias".
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