Em sua proposta de delação, José Antunes Sobrinho revelou que fez pagamentos a lobistas, autoridades brasileiras e venezuelanas para que uma subsidiária do grupo fizesse os reparos da fragata Warao. O navio Warao se aproximou demais do Porto de Fortaleza, no Ceará, e encalhou no litoral brasileiro no dia 3 de agosto de 2012. A embarcação fora entregue havia um ano para a Marinha daVenezuela, a Armada Bolivariana. Depois do acidente, a fragata foi transportada para o Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro, onde está atracada desde então. Mas onde está o prejuízo de uns está também a oportunidade de alguém lucrar. José Antunes Sobrinho, um dos donos da construtora Engevix, revelou em sua proposta de delação premiada, obtida com exclusividade por ÉPOCA, que pagou propina a lobistas, autoridades brasileiras e venezuelanas para que uma subsidiária do grupo, a Ecovix, fizesse os reparos da fragata Warao, em um contrato de US$ 160 milhões.
Em depoimentos a procuradores da República e documentos enviados aos investigadores da Operação Lava Jato, conforme ÉPOCA revelou, Antunes fez acusações contra o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), o presidente do Senado, Renan Calheiros(PMDB), o ministro da Secretaria de Comunicação Social do Governo, Edinho Silva, a ex-ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula, Erenice Guerra, e o ex-marido da presidente Dilma Rousseff, Carlos Araújo. Antunes também disse que houve pagamento de propinas para conseguir o contrato com a Marinha venezuelana e garantir que a armada bolivariana teria onde atracar o navio em águas brasileiras. A empreitada para o conserto do Warao começou ainda em 2012. Segundo Antunes, para levar o negócio, a Engevix adotou o mesmo modo de atuação do petrolão e de outros esquemas de estatais em que a empreiteira era partícipe do cartel que fez fortuna nos governos Lula e Dilma. Era preciso pagar propina às pessoas certas. Era preciso recorrer a operadores que unissem as pontes entre corrompidos e corruptores. Assim, surgem na cena Henrique Welisch e Francisco Carrasqueiro, dois lobistas argentinos que prometiam conseguir o contrato para a Engevix – desde que recebessem, cada um, uma comissão de cerca de 10% do valor do negócio. Antunes disse que Welisch e Carrasqueiro pediram US$ 32 milhões para garantir o reparo da fragata. A propina, segundo Antunes, foi distribuída pela Engevix para duas empresas deles, a Glamox Incorporate e a Dunston Industries. A proposta de delação não esclarece o período dos pagamentos. Mas nem tudo saiu como o planejado. A Marinha da Venezuela, combalida pela falta de recursos durante o final do governo de Hugo Chávez, atrasou parcelas do pagamento pelo conserto da fragata para a Engevix – e, consequentemente, o repasse de propina aos operadores desandou. Antunes diz que foram pagos US$ 8 milhões à dupla argentina.
Na parte brasileira do negócio, segundo Antunes, também houve propina. O sócio da Engevix diz que fez pagamentos ao contra-almirante Mário Ferreira Botelho, diretor do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. Novamente, Antunes ainda não explicou quando nem como pagou ao contra-almirante. Botelho, segundo Antunes, foi o responsável pela assinatura de um contrato entre a Marinha e a Ecovix para a locação de um espaço e da infraestrutura para que a fragata ficasse atracada na zona portuária do Rio, onde permanece até hoje. De acordo com a proposta de delação de Antunes, o contrato de locação entre a Emgepron, uma estatal da Marinha, e a Ecovix foi assinado em 8 de fevereiro de 2013 – não foi informado o valor. “Houve efetivamente o pagamento de propina feito ao contra-almirante Mário Ferreira Botelho, que foi quem assinou o contrato de uso do píer do Arsenal e que foi responsável por permitir a atracação da fragata avariada no Rio de Janeiro”, diz Antunes em sua proposta de delação. A proposta de delação de Antunes também faz menção a uma auditoria contratada pela Ecovix para investigar irregularidades na empresa. A investigação independente foi solicitada pela Mitsubishi Heavy Industries, que era sócia da Engevix na subsidiária Ecovix até janeiro deste ano. No documento, obtido por ÉPOCA, os auditores constataram que a Ecovix superfaturou despesas para a manutenção de 16 autoridades da Marinha da Venezuela no Brasil durante os reparos. “A Ecovix pagou por acomodação (aluguel de imóveis e melhorias) e aluguéis de veículos para autoridades em valores maiores do que os estipulados em contrato”, diz o texto da auditoria. A auditoria também identificou pagamentos de propina para Samuel Fayad Filho, um filiado ao PSB e um dos diretores da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) em 2003. Fayad foi demitido em março de 2013. A propina, segundo a auditoria, foi paga disfarçada em um contrato de R$ 4,5 milhões, assinado com uma empresa de Fayad. “O contrato com a S.L. Fayad foi realizado de maneira fictícia, tão somente para justificar a saída de dinheiro da Ecovix e pagamento de compromissos assumidos pela Ecovix junto a agentes militares que possuíam ingerência na operação de locação do espaço e infraestrutura na Marinha do Rio de Janeiro”, diz o documento. Antunes confirma os pagamentos a Fayad: diz que foram pagos pelo menos R$ 3,1 milhões entre agosto de 2013 e janeiro de 2015.
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