Ao menos num lugar Donald Trump e Ted Cruz aparecem unidos: os rivais na corrida para ser o candidato republicano à Casa Branca estampam uma camisa à venda por US$ 24,95 (R$ 90) no site do Tea Party. Sob a imagem: "The Anti-Establish-Men", trocadilho sobre serem "os homens antiestablishment". Há, porém, um racha interno sobre qual dos dois melhor representa o discurso ultraconservador do movimento.
Parte do grupo vê motivos de sobra para rejeitar o empresário. Ameaçar 11 milhões de imigrantes com deportação? Isso conta pontos. Ruim é quando Trump ataca um pleito inegociável, o livre mercado. Posições que lhe renderam, entre "puristas" do Tea Party, o apelido "Rino": Republican in Name Only (republicano só no nome). Ser um "Rino", de certa forma, é também trunfo entre ativistas energizados pela retórica agressiva do candidato. Para essa parcela do Tea Party, os republicanos falharam em repelir a política "esquerdista" do presidente Barack Obama. "Já demos chance aos republicanos. Nunca seriam maioria no Congresso sem nossa ajuda", afirma Amy Kremer, cofundadora do movimento. "E Trump é o cara, o macho-alfa", afirmou Danny Joyner, à frente do Alabama Patriots, filiado ao Tea Party. Seria a hora e a vez do "pugilista", disse Vanessa Williamson, doutora por Harvard e coautora do livro "The Tea Party and the Remaking of Republican Conservatism" (o Tea Party e a transformação do conservadorismo republicano). "Trump se beneficiou da disposição em atacar com extremismo imigrantes e estrangeiros." Estrela do Tea Party, a ex-candidata a vice-presidente Sarah Palin foi uma das primeiras a apoiá-lo, num discurso repleto de "aleluias" e frases de efeito ("ele vai chutar o traseiro do Estado Islâmico"), em janeiro. Porta-voz de sua campanha, Katrina Pierson é prova de como Trump galvaniza um eleitorado eclético.
Em 2008, ela era uma democrata pró-Obama. Virou a casaca e ingressou numa célula do Tea Party em Dallas (Texas), onde colaborou na campanha de Cruz ao Senado (ele a chamava de "destemida conservadora"). Provocadora como seu atual chefe, Trump, ela já usou um colar de balas em uma entrevista à CNN. Mas, alto lá, dizem líderes como Jenny Beth Martin, do primeiro time do Tea Party, de Atlanta. "Nossa organização não é apenas sobre estar com raiva de Washington, é sobre um conjunto de princípios", afirma. Valores carregados pelo evangélico Cruz, que entrou na disputa presidencial com "selo de aprovação" do Tea Party. Trump, por sua vez, "ama mais a si mesmo do que o país", diz Martin. Declarações mais progressistas feitas pelo candidato no passado, como ser pró-aborto, afastarão uma "parcela significante" do Tea Party, afirmou Rick Tyler, ex-colaborador de Cruz, ao site "Politico". "O que importa é que os últimos homens em pé são do Tea Party", disse Taylor Budowich, porta-voz do Tea Party Express, uma das correntes internas mais ativas – e que em breve anunciará se vai apoiar Trump ou Cruz. Para Vanessa Williamson, o Tea Party já está no lucro, independentemente do resultado. "Sua força vem de redirecionar o partido para a extrema-direita. Todo candidato neste ano teve de adotar posições mais radicais do que o fariam dez anos atrás".
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