Agora, sim, as coisas entram nos eixos; não fazia sentido o partido se negar a participar do futuro governo
Por Reinaldo Azevedo - E a conversa de Michel Temer, que vai assumir a Presidência da República em meados do que mês que vem, com o PSDB entra nos eixos. O partido negocia a adesão para valer ao futuro governo, mas diz que a conversa deverá seguir um figurino institucional. É o correto. Nesta terça à noite, os líderes do partido na Câmara e no Senado, respectivamente Antônio Imbassahy (BA) e Cássio Cunha Lima (PB), estiveram com Temer. Ficou acertado que as conversas passarão a ser feitas com o comando do partido. Nos próximos dias, o senador Aécio Neves (MG), que preside a legenda, deve se reunir com o futuro presidente. Que seja assim. É o melhor figurino. O que vinha gerando sombras de desinteligência e ruídos? O senador José Serra (SP), amigo pessoal de Temer, figura em todas as listas de ministeriáveis, transitando para as pastas as mais variadas, e isso não implicava uma conversa formal com o PSDB. Serra é interlocutor há muito de Temer, mas não falava com delegação do partido — e também não fingiu que assim fosse, que fique claro. A situação acabou gerando uma proposta exótica no tucanato. Alguns chegaram a defender que o partido desse apoio a Temer no Congresso, mas fechasse questão contra a participação de quadros seus no governo. É claro que seria uma tolice ímpar: tratar-se-ia de escolher o ônus da governabilidade sem o bônus da governança. A tese não fazia o menor sentido e, tudo indica, era só uma forma de abrir a tal negociação institucional. Coube ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizer o óbvio: ao aderir ao impeachment, como aderiu, o PSDB estava assumindo um compromisso com o País. Os tucanos devem apresentar uma pauta de 12 itens a Temer para negociar o seu apoio ao governo, com assentos na Esplanada dos Ministérios. O partido quer que o vice assuma o compromisso, por exemplo, de não interferir na Lava Jato. Bem, trata-se apenas de marcar uma posição política. Ainda que quisesse, essa interferência, hoje em dia, seria impossível. Os tucanos gostariam também que o vice se comprometesse com uma reforma política que passasse pela criação de uma cláusula de barreira que impeça a contínua balcanização de partidos e a instituição do voto distrital misto, além de medidas para a retomada do crescimento. Não parece que seja uma pauta difícil de absorver, sempre lembrando que uma reforma política, por exemplo, depende menos do empenho do governo do que da vontade do Congresso de implementá-la. Agora, sim, estamos no terreno da racionalidade. De resto, a despeito de afinidades eletivas, o certo é que as conversas sejam feitas mesmo com os partidos. Esse negócio de derrubar um governo e negar apoio àquele que o substitui é coisa de petistas. Eles fizeram isso em 1992. Ainda bem que o PSDB não vai repetir a besteira imoral.
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