O rapaz é um ótimo ator, mas é um fraude moral; pior: não chega a ser inovador no vício de servir e de ser remunerado. Mesmo sem precisar, o que torna a coisa mais abjeta
Por Reinaldo Azevedo - Vejam isto.
Wagner Moura é bom ator. Como ele diz de si mesmo, sem modéstia, é “premiado e aclamado”. Certamente conseguiria viver sem tomar grana do estado, liberada por seus amigos do PT, para tocar os seus projetos. Mas sabem como é o vício… Falemos mais desse rapaz. Ele é capaz, repetindo a sujeira moral do stalinismo, mas agora em nova perspectiva, de reconhecer “evidências de que o PT montou um projeto de poder amparado por um esquema de corrupção”. Mesmo assim, ele considera o impeachment um golpe, ancorado numa argumentação jurídica canhestra, e ainda reivindica a superioridade moral de quem pretende ser governista e contra o impedimento por motivos sublimes. Gente com ideias tão exóticas há que se comportar como a mulher de Cesar: além de ser honesta, tem de parecer honesta. O que vai a seguira vai nos dizer. O Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura liberou para o “aclamado e premiado”, na forma “mecenato”, nada menos de R$ 1,5 milhão para a montagem do espetáculo de teatro “Esperando Godot”. Essa gente pega grana pública para encenar Beckett à noite e fica de quatro para o governo de dia. Pobre Beckett! Deve estar se revirando na tumba. Na síntese do projeto, pode-se ler o seguinte: “O projeto ‘Esperando Godot’ propõe uma montagem teatral conduzida pelo premiado e aclamado Wagner Moura. Estreando na função de encenador, Wagner Moura enfrentará o desafio de criar um espetáculo a partir da obra-prima do irlandês Samuel Beckett, ‘Esperando Godot”, divisor de águas na dramaturgia do século XX (…)” Em seu estúpido artigo na Folha, Moura, o caridoso, além de “premiado e aclamado”, escreve também sobre o governo que ele apoia: “O Brasil vive uma recessão que ameaça todas as conquistas recentes. A economia parou e não há mais dinheiro para bancar, entre outras coisas, as políticas sociais”. Bobagem! Os pobres que se virem. Não pode é faltar dinheiro para o “premiado e aclamado” encenar Beckett, enquanto justifica a permanência no poder de um governo que ele admite corrupto. Como a gente lê na síntese, o rapaz “estréia como encenador”. E, para que ele experimente essa sensação nova, nós pagamos.
NOTA – Não sei, a ver, se o dinheiro foi liberado diretamente — afinal, é “mecenato” — ou se é um limite de captação entre financiadores privados. Num caso, a grana sai dos cofres; no outro, deixa de entrar via renúncia fiscal. Em qualquer deles, é dinheiro da pobrada que está sendo transferido para o “aclamado e premiado”.
Precisa?
Wagner Moura precisa disso para ganhar a vida? Claro que não! E daí? Isso não torna moral o conjunto da obra. A meu ver, só piora as coisas. Gente com a sua reputação, que recorre ao capilé público para montar um espetáculo, agrega a preguiça à sabujice. Que deixe o incentivo público, então, para quem realmente precisa. Wagner Moura é um concentrador de renda da cultura nacional. Nem inovador esse rapaz é. Leiam a biografia de Stálin, escrita por Simon Sebag Montefiore. Vejam lá quão abjeto podia ser um escritor competente como Máximo Górki. Chegava a visitar campos de concentração em companhia de Stálin. Nos primeiros anos, o aparato “cultural” nazista conquistou uma boa parcela da intelectualidade alemã, incluindo escritores, atores e diretores de teatro e cinema. A questão está magnificamente retratada no filme “Mephisto”, de István Szabó. Wagner Moura é um ótimo ator. Mas é uma fraude moral.
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