Poucas horas após prestar depoimento à Polícia Federal em São Paulo, Lula concedeu entrevista coletiva na sede do diretório nacional do PT na capital paulista para dizer-se "ultrajado", "ofendido" e "magoado" com a decisão da força-tarefa da Operação Lava Jato de conduzi-lo coercitivamente para depor. Sem responder a perguntas dos jornalistas, Lula fez um discurso em que abusou do papel de vítima e proferiu duros ataques contra o juiz federal Sergio Moro, responsável por conduzir os processos da Lava Jato em Curitiba. O petista sugeriu que Sérgio Moro é arrogante e serve ao inimigo de sempre do PT: a imprensa livre: "O juiz poderia ter me convidado a prestar depoimento e eu iria, como já fui outras três vezes". Depois de proferir uma série de ataques a Moro e ao Ministério Público, chegando a dizer que o salário dos membros do Judiciário é custeado com o imposto pago pelas empresas investigadas no petrolão, como se isso obrigasse os membros da Justiça a serem gratos às empresas responsáveis por desvios bilionários de verba dos cofres da Petrobras, Lula afirmou que sexta-feira representará um marco para a história do PT. E que sairá em caravana pelo País a partir da semana que vem para "defender o partido": "Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve". Em um discurso para convertidos, Lula não usou sequer um segundo para dar explicações ao País sobre as graves acusações que pesam contra ele, como a de que enriqueceu à custa do Petrolão do PT. Aproveitou o tempo para chorar, pedir desculpas aos 'companheiros' do Instituto Lula, como Paulo Oakamatto, e à mulher, Marisa Letícia, pelos transtornos provocados pela operação de sexta-feira. Lula afirmou que, ao contrário dos agentes que foram à sua casa em São Bernardo, Marisa trabalha desde os 11 anos e não merecia passar por tamanho constrangimento. Em um recado direto a Moro e aos demais integrantes da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que "antes deles, nós já éramos democráticos". Depois de discursar sobre a própria importância para a liberdade de expressão, Lula aproveitou para atacar os meios de comunicação - cujo controle é um sonho histórico do PT. Lamentou a "arrogância e prepotência" de Moro, um juiz que, segundo ele, está trabalhando em associação com a imprensa. "Hoje a primeira coisa que você faz é determinar quem é o criminoso. Depois que você coloca a cara dele na imprensa você cria os crimes que ele cometeu", afirmou. Reforçando o discurso petista de que o partido por trás do maior escândalo de corrupção já descoberto no país é, na verdade, vítima de uma conspiração da elite em resposta aos avanços sociais promovidos pela legenda, Lula afirmou: "É preciso criminalizar o PT". E continuou: "Ser amigo do Lula hoje é uma coisa perigosa". "A gente trabalhou durante todos esses anos para fazer com que as pessoas do andar de baixo subissem um degrau. E já haviam me avisado: 'Lula, você precisa parar de querer subir os do degrau de baixo, os do andar de cima não vão deixar você chegar lá'", afirmou. Lula ainda sugeriu que é um dos responsáveis pela autonomia que detêm hoje a Polícia Federal e o Ministério Público. Afirmou que "não se arrepende" disso, mas que ao Ministério Público cabe um alerta: autonomia requer responsabilidade. Ele disse também que, atualmente, quem mais precisa de autonomia é a presidente Dilma Rousseff: "Porque desde outubro de 2014 não querem deixar que ela governe o País". O ex-presidente afirmou reiteradas vezes que se sentiu um "prisioneiro" e que está magoado e indignado com o tratamento que recebeu na sexta-feira. "Nada justifica irem atrás dos meus filhos", disse. "Eu mereço um pouco mais de respeito deste País", prosseguiu. Para encerrar, Lula conclamou os petistas a erguerem a cabeça e saírem às ruas. "O que eles fizeram hoje foi fazer com que, a partir da semana que vem, eu saia por esse País em passeatas. Podem me convidar, quem quiser discurso de Lula, é só comprar passagem", disse. "Há muito tempo o PT estava de cabeça baixa. Há muito tempo todo dia alguém faz o PT sangrar. É preciso recomeçar. Vamos recomeçar".
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