O ex-assessor do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), Eduardo Marzagão, irá recorrer à Justiça contra a sua demissão do Senado, determinada na semana passada pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele foi o autor das gravações que mostraram o ministro Aloizio Mercadante (Educação) em conversas para evitar uma delação premiada do senador. Marzagão acusa a Casa de ter tomado uma decisão política.
A justificativa oficial do Senado para a demissão foi "quebra de confiança" por Marzagão ter supostamente dito ao ministro que Renan e o ex-senador José Sarney (PMDB-MA) teriam xingado a presidente Dilma Rousseff de "filha da puta" em ligações feitas a esposa de Delcídio, Maika, logo após a prisão do senador, em 25 de novembro do ano passado. Marzagão, no entanto, nega ter dito que os dois peemedebistas tenham proferido tais palavras. No áudio da conversa, entregue pelo ex-assessor à Folha, é possível ouvir ele dizendo que a esposa de Delcídio foi quem teria insultado a presidente. "No dia do acontecido, ligou o Renan para a Maika, em solidariedade, e o Sarney para a Maika. Absolutamente mais nada", diz Marzagão na gravação. Mercadante responde: "eu ia ligar para a Maika, mas como eu não tinha relação com ela, eu fiquei com medo de que ela pudesse reagir e tal". Marzagão completa: "E disseram barbaridades. Que ela ligou para parlamentares, que ela chamou a presidente de filha da puta". A gravação foi feita no dia 1º de dezembro do ano passado, uma semana após a prisão de Delcídio. "Eu vou recorrer da decisão porque eles alegam um fato que não é verdade. Eu nunca falei que Renan e Sarney xingaram a presidente. Renan precisava de uma desculpa para me demitir, a pedido do governo, e embarcou nessa mentira", afirmou. Segundo Marzagão, seu advogado deverá acionar a Justiça na terça-feira (29). Para o assessor, sua demissão é mais um reflexo da perseguição política que vem sofrendo após a revelação das gravações. No dia 15 de março foi homologada a delação premiada de Delcídio, da qual fazem parte os registros feitos por Marzagão. O senador foi preso sob a acusação de obstruir as investigações da Operação Lava Jato. Delcídio afirmou em depoimento que o ministro da Educação agia como "emissário" da presidente Dilma Rousseff e buscava passar recados para impedir que fechasse um acordo de colaboração. Ele entregou gravações à PGR (Procuradoria-Geral da República) de conversas entre Marzagão e Mercadante, nas quais o ministro tenta evitar a delação de Delcídio, oferecendo ajuda financeira e lobby junto ao Supremo Tribunal Federal para a soltura do parlamentar. Em entrevista a jornalistas logo após a revelação da conversa, Mercadante explicou que estava prestando "solidariedade" ao senador preso e que não tinha intenção de impedir sua delação, influenciando na Operação Lava Jato. Apesar da demissão, Marzagão continua assessorando Delcídio informalmente. Ele trabalha com o senador há 13 anos e é tido como o homem de confiança dele. Desde que foi solto, em 19 de fevereiro, Delcídio tem feito exames médicos em São Paulo. Ele renovou pela terceira vez sua licença no Senado nesta semana e, se não pedir nova extensão do prazo de afastamento, deve retornar à Brasília em 6 de abril. Na semana passada, a assessoria de imprensa do presidente do Senado negou ter havido qualquer tipo de pressão política na decisão tomada por Renan. "A iniciativa foi do presidente. Não houve nenhum pedido do Palácio do Planalto ou do ministro Aloizio Mercadante. O cargo é de confiança e ele, Marzagão, perdeu a confiança ao reportar palavras que o presidente da Casa nunca disse". A assessoria fez menção ao trecho contestado por Marzagão.
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