Por Reinaldo Azevedo - Xiii… As nuvens da tempestade se adensam um pouco mais lá pelas bandas do Palácio do Planalto. E estabelecem uma conexão com outro palácio, o da Liberdade, em Belo Horizonte, sede do governo de Minas Gerais. O que os une, para o provável mal de ambos, é uma agência de publicidade, a Pepper. A dona da empresa, a publicitária Danielle Fonteles, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no âmbito da Operação Acrônimo. É muito provável que o escândalo engolfe de vez o governador de Estado, o petista Fernando Pimentel, e torne ainda mais apimentada a vida de Dilma. Antes que avance, algumas considerações. Dilma e Pimentel! Eis aí uma relação antiga, para quem não sabe. Ele foi aluno da Escolinha de Marxismo da Professora Dilma quando ainda era um adolescente. Acabou ingressando em seu grupo político, o Colina (Comando de Libertação Nacional), que tinha sua base principal em Belo Horizonte. Mais tarde, o Colina se fundiu com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), liderada por Carlos Lamarca, dando origem à VAR-Palmares. O então marido de Dilma, um dos chefes da organização, despachou Pimentel para Porto Alegre. Lamarca não gostou da “holding” e decidiu desfazê-la, refundando a VPR, e Pimentel preferiu segui-lo. Foi como seguidor do militar desertor e ladrão de armas que o agora governador e ex-ministro “consultor” assaltou o carro pagador de um banco e tentou sequestrar o cônsul americano, que se safou, saindo ferido, com um tiro no ombro. Consta que Dilma nunca pegou num berro. Pimentel já. Se esquerdistas não querem acreditar em mim, acreditem em Jacob Gorender, historiador de esquerda e autor do livro “Combate nas Trevas”. É lá que ele afirma que o Colina, o primeiro grupo a que Dilma e Pimentel pertenceram, foi um dos poucos a fazer a defesa aberta e inequívoca do terrorismo. Pronto. Encerrada a sessão “Teu Passado Te Condena”, voltemos ao presente. A Operação Acrônimo investiga desvio de dinheiro público para campanhas do PT — tanto em Minas como federal. A Pepper produz material de Internet para o partido. A dona da agência se mostrou disposta a implicar Pimentel e o empresário Benedito Rodrigues Oliveira Neto, o Bené, em falcatruas. Mas a bandalheira atingiria também o governo federal. Pimentel e Bené já são investigados. E qual é o busílis? O de sempre: a Pepper teria sido usada apenas como intermediária na transferência do bom e velho dinheiro público para o PT. Vocês conhecem essa história? A Operação Acrônimo se cruza com a Lava Jato. Em sua delação, a Andrade Gutierrez contou ter transferido R$ 6 milhões para a Pepper por meio de um contrato fictício. Segundo a empreiteira, era dinheiro para o… PT. Também a OAS estaria disposta a revelar ter pagado dívida de campanha de Dilma por meio da agência. Vejam que coisa: a Operação Acrônimo foi deflagrada em 2015 para apurar possíveis irregularidades na campanha do PT ao governo de Minas Gerais. Tudo começou no dia 7 de outubro de 2014, quando a Polícia Federal apreendeu, em Brasília, R$ 114 mil em dinheiro vivo num avião oriundo de Belo Horizonte. Na aeronave, estava Bené, amigão de Pimentel e espécie de caixa de sua campanha. Em 2010, ele já tinha sido personagem de outro escândalo: participou do grupo que montou um bunker para produzir dossiês falsos contra adversários. Sabem quem liderava a turma? Pimentel, que era então coordenador da campanha de Dilma. Revelada a safadeza, ele se afastou da disputa. O empresário é dono de empreendimentos que mantêm negócios multimilionários com o governo federal. O escândalo, que é político, também assume coloração, vamos dizer, doméstica: há a suspeita de que a mulher de Pimentel, Carolina Oliveira, seja sócia oculta da Pepper. Vamos ver o que a delação vai esclarecer. Os petistas não precisam se queixar de uma vida pacata, não é mesmo? Se Pimentel se enrolar de vez, corre também o risco de perder o mandato. Depois de Dilma, ele é o petista a ocupar o cargo mais importante da República. É um vexame sem fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário