O deputado federal José Mentor (PT-SP) admitiu, em depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal, que recebeu R$ 38 mil das mãos do doleiro Alberto Youssef como pagamento de uma dívida contraída pelo seu então colega no Congresso, André Vargas (ex-PT-PR). Mentor disse que, na ocasião, não reconheceu o doleiro, que posteriormente foi condenado na Lava Jato. Mentor se faz de anjinho, mas ele foi relator da CPI do Banestado (antigo Banco do Estado do Paraná, que comandou o escândalo das operações de envio de recursos para o Exterior por meio das chamadas contas CC5); ele recebeu o relatório das autoridades judiciais de Nova York, contendo milhares de nomes de correntistas e de seus depósitos nas famosas contas-mãe Beacon Hill, em termos de colaboração judicial; só ele teve acesso a aqueles arquivos, que não foram vistos pelos outros membros da CPI, e estão depositados até hoje no cofre-forte da Câmara dos Deputados, no subsolo do Congresso Nacional: ele sabe perfeitamente que o doleiro Alberto Youssef foi a grande estrela do caso Banestado, e foi condenado naquela época pelo juiz Sérgio Moro, tendo ganho a liberdade porque fez a delação premiada, que perdeu agora na Lava Jato, e por isso está preso. A quem o deputado federal petista José Mentor pensa que está enganando? O dinheiro emprestado a Vargas, segundo o deputado, saiu de uma "caixinha"que disse manter em seu gabinete, formada por recursos dele e de alguns de seus assessores, para "custear despesas da ação parlamentar cujo ressarcimento não é permitido pelas normas da verba indenizatória da Câmara". A versão de Mentor contradiz o depoimento de Youssef prestado em acordo de delação premiada fechado com a Operação Lava Jato. Quem você acha que merece mais confiança, Youssef ou Mentor? Em outubro de 2014, Youssef disse que entregara pessoalmente a Mentor, em janeiro ou fevereiro daquele ano, um total de R$ 380 mil em espécie, e não R$ 38 mil. O doleiro afirmou que esses recursos foram obtidos da Arbor – uma empresa da contadora de Youssef, Meire Pozza –, com a emissão de notas fiscais pela empresa IT7 Sistemas, "indicada" por Leon Vargas, irmão de André. Ainda segundo Youssef, o irmão do ex-deputado pediu a ele R$ 2 milhões, e parte dos quais foi entregue "em mãos" a Mentor em São Paulo. André Vargas viria a ser preso pela Operação Lava Jato em 2015. O depoimento de Youssef levou à instauração de um inquérito no Supremo, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para investigar a conduta de Mentor, figura mais sinistra do PT. O petista disse, em seu depoimento no inquérito, que havia emprestado R$ 40 mil ao colega André Vargas. Tempos depois, o ex-deputado teria telefonado para dizer que uma pessoa iria procurá-lo para quitar a dívida. No depoimento à Polícia Federal, Mentor confirmou que havia estado uma vez com Youssef, por volta de novembro de 2003. Na época o deputado era relator da CPI do Banestado, e o doleiro, um dos interrogados na investigação. O deputado, no entanto, disse que "não o reconheceu quando o viu pela segunda vez em seu escritório em 2014, assim como ele [doleiro] também não se apresentou". Mentor afirmou que não sabe o motivo da menção de Youssef aos R$ 380 mil, e não R$ 38 mil, mas "pode imaginar ser uma retaliação à atuação do declarante (Mentor) na CPI do Banestado".
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