Ficamos assim: Mônica, a que cuida do caixa, admite que a Odebrecht depositou US$ 3 milhões e que o lobista Zwi Skornicki, outros US$ 4,5 milhões. Mas João, àquela altura, cuidada só de substantivos celestes. Outro baiano antes dele não ligava para quem tinha de pagar o pato: o João Gilberto...
Por Reinaldo Azevedo - Eu já escrevi aqui algumas vezes que não estou entre aqueles que demonizam o direito de defesa. Ao contrário: sem ele, não há democracia. Mas isso não significa que eu deva cair na conversa ou que deva deixar de apontar as tentativas de advogados de apostar na confusão, enrolando narrativas, convertendo tudo num novelo incompreensível, sem fio da meada. João Santana depôs nesta quinta-feira, um dia depois de sua mulher, Mônica Moura. De comum, apenas a admissão de que a conta no Exterior, que recebeu US$ 7,5 milhões, é mesmo sua e que ela recebeu os recursos por campanhas políticas prestadas na Argentina, na Venezuela e no Panamá. Mônica citou também Angola. Ah, bem, claro! Também ele diz que a dinheirama nada tem a ver com as campanhas do Brasil. Mas, ora vejam, a defesa resolveu caracterizar Santana como um criador, como um homem com os pés do chão, mas a cabeça nas nuvens. Oh, não! Ele não lida com dinheiro, essa coisa suja! Seu negócio é a criação. Imaginem se Michelangelo esculpiria Moisés se estivesse preocupado com os mordomos, não é mesmo? Assim é João Santana. Quem cuida da “carnadura concreta”, a gente entende, é Mônica. Santana disse nem saber a origem do dinheiro na conta. Que sensação boa, né? “Nossa, gente! Quem colocou aqui esses US$ 7,5 milhões?” Então ficamos assim: Mônica, a que cuida do caixa, admite que a Odebrecht depositou US$ 3 milhões e que o lobista Zwi Skornicki mandou ver em outros US$ 4,5 milhões. Mas João, ah, João, àquela altura, cuidava só de substantivos celestes. Já houve um outro baiano antes dele que não ligava para quem tinha de pagar o pato: o João Gilberto… Estamos diante de táticas da defesa. Ao negar que saiba a origem do dinheiro, a defesa tenta eliminar a idéia de que se tratasse de uma combinação, de um conluio. Seria muito próprio do meio receber dinheiro sabe-se lá de quem para quitar a dívida desse ou daquele. No caso, Mônica teria recebido da Odebrecht e de Skornicki. E o fez, sim, pelo caixa dois. Mas o Michelangelo não sabia de nada. E ela própria ignorava se a origem do dinheiro era lícita ou ilícita. O casal está tentando se livrar da imputação de lavagem de dinheiro. O objetivo central dos dois depoimentos é livrar a cara do PT. Ainda que, para tanto, tenha de mandar a Odebrecht para a fogueira. E estão mandando. Ele se calou a respeito da empreiteira, mas ela deixou claro que sabia a fonte pagadora e não titubeou em ligar a grana a campanhas eleitorais, o que, note-se, ele também faz. Para livrar suas respectivas caras e a de Dilma, João Santana e Mônica Moura estão transformando a Odebrecht em protagonista de escândalos eleitorais mundo afora. Mas o João, gente, ah, esse não sabia de nada!
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