Em mais um embate com o vice-presidente da República, Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), colocou em votação um requerimento que pede ao Tribunal de Contas da União a investigação de Temer em relação às assinaturas dele em, ao menos, sete decretos não numerados que autorizaram a abertura de crédito orçamentário sem o aval do Congresso em 2015. Os decretos somaram R$ 10,8 bilhões. Eles são semelhantes aos assinados pela presidente Dilma Rousseff e embasam o pedido de impeachment contra ela. Renan colocou o pedido em votação sem mencionar o seu conteúdo e sobre quem se tratava. Esta foi a última votação do ano realizada no Senado. Após o resultado, o presidente do Senado encerrou os trabalhos legislativos e fez um longo balanço sobre os trabalhos da Casa. De autoria do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o pedido de investigação foi aprovado por voto simbólico. Apesar de ser comum que os senadores aprovem este tipo de requerimento, Renan poderia não ter colocado o texto em votação. Questionado sobre o motivo de não ter explicado o teor do documento, o peemedebista afirmou que não queria "personalizar" a votação. "Há uma prática de que todos são aprovados. [Não mencionei] porque, aí, as pessoas pensariam que estava personalizando o problema e minha característica é exatamente contrária", disse. Este é mais um capítulo na briga entre Temer e Renan, que começou quando o presidente do Senado acusou o vice de atuar para barrar filiações temporárias com o objetivo de frear a articulação alimentada pelo Planalto para favorecer o retorno de Picciani à liderança da legenda. Após ter sido acusado de ter se preocupado apenas com o "RH" do PMDB ao ter coordenado a articulação política do governo, Temer respondeu a Renan, dizendo que o partido não tem dono "nem coronéis". Em uma espécie de tréplica ao correligionário, Renan fez chegar a um grande número de senadores na noite desta quarta (16) que cogitou escrever uma nota de resposta com duas provocações. Ele contou aos colegas que escreveria que o vice trocou de emprego, deixando a carreira política para virar carteiro, em alusão à carta enviada por Temer à Dilma com reclamações sobre a relação entre os dois e chamaria Temer de "mordomo de filme de terror". A expressão foi cunhada em 1999 por Antonio Carlos Magalhães, que, em um embate com o hoje vice-presidente, disse que ele não o impressionava com "sua pose de mordomo de filme de terror". A reação de Renan às movimentações de Temer teve a chancela da bancada do PMDB no Senado, que viu na aproximação do vice com o grupo pró-impeachment do partido na Câmara a criação de uma cizânia interna por causa de uma disputa de poder. Peemedebistas vêem nas ações de Temer uma clara intenção de herdar a Presidência da República caso o impeachment de Dilma se confirme.
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