O médico e deputado federal Osmar Terra (PMDB), que foi por duas vezes secretário estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, hoje presidente das Frentes Parlamentares da Saúde e da Primeira Infância, avisa, estarrecido, do desastre que se abaterá sobre o Brasil nas próximas décadas na área da Saúde Público no artigo a seguir:
"A epidemia de microcefalia será uma das mais graves da história da saúde brasileira. Milhares de crianças tendem a nascer com uma diminuição importante do cérebro, o que acarreta danos mentais severos, crises convulsivas e dificuldades motoras para o resto de suas vidas. A multiplicação de casos repercutirá profundamente nas famílias afetadas, na sociedade e nas políticas públicas do País durante décadas. Segundo o Ministério da Saúde, neste ano, já são 2.165 casos suspeitos de recém-nascidos com má-formação em 19 Estados e no Distrito Federal. Os números só não são maiores porque o ministério mudou o critério para notificação. Só contabiliza agora os bebês com circunferência da cabeça menor ou igual a 32 centímetros (antes a referência era 33 centímetros). Em 2016 poderão ser mais de 100 mil casos, uma tragédia sem precedentes. O causador deste dano é o vírus zika – detectado no Brasil, pela primeira vez, em abril deste ano –, da mesma família do vírus da dengue. O mosquito transmissor é o mesmo, o Aedes aegypti. Diante da epidemia, o governo federal não pode esperar. A cada dia dezenas ou centenas de gestantes podem ser infectadas, e seus filhos terão alta possibilidade de nascer com problemas. Como o vírus causa danos ao feto principalmente nos primeiros meses de gestação, as crianças nascidas com microcefalia em outubro foram contaminadas no primeiro trimestre de 2015, antes da comprovação oficial de circulação do zika no País. Outro dado assustador: para cada caso de doença sintomática, existem de 6 a 10 casos com levíssimos sintomas, a ponto de passarem despercebidos. Além da microcefalia, o aumento súbito de pessoas afetadas pela síndrome neurológica de Guillain-Barré, que causa paralisia, tem relação também com o zika. Como não há remédio nem vacina, o eixo principal de seu enfrentamento é o combate ao mosquito, com todos os recursos humanos e materiais possíveis. Temos de agir muito rápido. Forças Armadas, bombeiros e voluntários devem ser mobilizados, num gigantesco e urgente mutirão. Precisamos de uma campanha emergencial e mais intensa, sobre os riscos e cuidados necessários, em todos os meios de comunicação. Mulheres em idade fértil devem ser aconselhadas a adiar a gravidez enquanto houver epidemia. A União tem que prover recursos extraordinários para o esforço de combate ao vírus. Também é fundamental organizar atendimento às crianças com microcefalia. O governo deve priorizar a pesquisa para a produção, em tempo recorde, de vacinas para esse vírus. Para tal, precisa trabalhar com grandes laboratórios internacionais e organismos como a OMS (Organização Mundial de Saúde). São louváveis as medidas tomadas pelo Ministério da Saúde. O ministro decretou estado de emergência nacional na saúde e formou um comitê de crise. Medidas importantes, mas também é decisivo que o governo federal como um todo priorize e aja rapidamente nessa mobilização, sob pena de, a cada dia, piorar a tragédia que se delineia no Brasil".
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