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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Banco Central deve manter taxa de juros em 14,25% até 2016, dizem analistas

Apesar das pressões por mudanças na política econômica atual, o Banco Central deve manter a taxa básica de juros (Selic) nos atuais 14,25% ao ano até, pelo menos, o fim do primeiro semestre de 2016, de acordo com os economistas consultados na pesquisa semanal Focus. Para a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que começa nesta terça-feira (20) e termina na quarta-feira (21), a perspectiva de manutenção da taxa básica é praticamente uma unanimidade. Ninguém aposta em corte, e são poucos os economistas consultados que projetam aumento. Na avaliação do mercado, a ação isolada do Banco Central é necessária para evitar um aumento ainda maior da inflação, mas não é suficiente para colocar o IPCA na meta de 4,5% antes de 2019. Até mesmo as estimativas para 2017 e 2018 já se distanciaram desse valor e estão em torno de 5%. Entre os economistas com maior percentual de acerto das projeções, a expectativa é de estourou da meta de inflação neste ano e no próximo, com IPCA de 9,81% para 2015 e 6,72% para 2016. Nos três anos seguintes, segundo esses analistas, a inflação ficaria entre 5,5% e 6%, ainda acima do centro da meta de 4,5%. O próprio Banco Central já afirmou que a queda da inflação depende de uma melhora no resultado das contas públicas, o que além de segurar a demanda contribuiria para reduzir incertezas que travam os investimentos e conter a alta do dólar. Renato Nobile, presidente-executivo do Bullmark Financial Group, afirma que a demora para concretizar o ajuste fiscal adia cada vez mais o início do próximo ciclo de queda de juros. "As armas do BC estão acabando. Ele já fez o poderia fazer. A gente precisa agora que o governo ajude, com um sinal claro de corte efetivo de gastos", afirmou Nobile. Para Nobile, um ajuste fiscal baseado apenas em aumento de receita, com a recriação da CPMF, por exemplo, não é suficiente e irá contribuir para reduzir a produtividade.
 

Pelas projeções da Focus, o País deve registrar três anos seguidos de deficit nas contas públicas, entre 2014 e 2016. E a meta do Ministério da Fazenda de fazer um superavit de 0,7% só será alcançada em 2017 — e não em 2016, como prometido. Claudio Felisoni, presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo), afirma que a inflação atual de quase 10% impede o Banco Central de cortar os juros e que o adiamento das medidas de ajuste já comprometem também as expectativas de melhora da economia em 2016. "Que o ajuste precisa ser feito, não há dúvida. Se vai ser feito, é uma questão política, em uma situação de Executivo fragilizado, com ameaça de impeachment", afirma Felisoni: "Num cenário como esse, você diminui o ritmo de investimentos, o que vai empurrar cada vez mais para a frente uma possível retomada da economia". Os analistas consultados também não veem uma retomada do crescimento tão cedo. A previsão é de retração da economia de 3% em 2015 e 1,22% em 2016. Em 2017, o PIB avançaria 1%. A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo Banco Central para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e, assim, pode consumir mais. Esse aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender um consumo maior. Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento — que ficam mais caros —, a economia desacelera e evita-se que os preços subam, ou seja, que haja inflação. Com a alta da taxa básica de juros (Selic), o BC aumenta a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, começa a "faltar" dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo. Se a taxa cai, ocorre o inverso. É por isso que os empresários pedem cortes nas taxas: para viabilizar investimentos, ainda mais em tempos de economia fraca, como agora. Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa de Valores. Em um cenário normal, é também por esse motivo que as Bolsas sobem nos Estados Unidos ao menor sinal do Federal Reserve de que os juros possam cair. Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida absorve o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.

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