O empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do governo Collor (1990-1992), afirmou em depoimento à Polícia Federal ter emprestado R$ 600 mil ao cunhado do deputado federal Vander Loubet (PT-MS), Ademar Chagas da Cruz, 48, que também foi o advogado e o coordenador financeiro das campanhas eleitorais do parlamentar. Contraída em 2013 sem qualquer contrato formal, segundo Ramos, a dívida não foi paga. O empresário disse que os recursos foram repassados a Cruz por intermédio do doleiro Alberto Youssef, um dos delatores na Operação Lava Jato. A investigação já havia concluído que dívidas da mulher e da campanha eleitoral de Loubet haviam sido quitadas com recursos repassados pela contadora do doleiro, Meire Poza. Ademar Chagas da Cruz é irmão de Roseli Loubet, mulher do deputado federal desde o final da década de 80, hoje dona de uma casa lotérica em Campo Grande (MS). Intimado pela Polícia Federal a explicar os pagamentos, o advogado compareceu duas vezes à polícia. Na primeira, em Campo Grande, recorreu ao direito de ficar calado. Vinte dias depois, porém, na sede da PF em Brasília, confirmou ter pedido o dinheiro a Leoni Ramos e afirmou que os recursos foram usados para "o pagamento de agiotas, despesas pessoais do declarante [Cruz] e da campanha de Vander de 2012", quando o deputado foi candidato à Prefeitura de Campo Grande. Indagado sobre os recursos não terem transitado nas contas da campanha eleitoral e do PT, Cruz reconheceu "não ter utilizado a metodologia prevista na normatização da Justiça Eleitoral". O advogado disse ter feito pagamento a fornecedores da campanha do petista. Cruz disse que utilizou "essa forma não usual" de uso do dinheiro em razão de "Campo Grande se tratar de uma cidade pequena na qual as pessoas se conhecem e o declarante [Cruz] estava sendo pressionado pelos fornecedores para que houvesse a quitação do débito". O advogado disse que ainda não pagou Ramos porque "também não recebeu a restituição dos valores por parte do Partido dos Trabalhadores". Cruz contou ter conhecido Leoni Ramos por volta de 2009, quando o o ex-ministro de Collor teria lhe procurado para falar de seu interesse em investir no Mato Grosso do Sul, na área de bioenergia, e no projeto de aquisição da empresa de águas do Estado, a Sanesul. Segundo Cruz, ele atuou com Ramos "em nível de consultoria, sem que houvesse uma remuneração", mas os negócios não prosperaram. Ainda de acordo com Cruz, ele pediu inicialmente R$ 1 milhão ao empresário, valor que caiu para R$ 600 mil. Em sua delação premiada, Youssef disse que cerca de R$ 400 mil foram entregues em espécie a Cruz por um de seus entregadores de dinheiro, Rafael Angulo. O doleiro também afirmou que o dinheiro se destinava a Loubet, não a Cruz, que apenas recebeu os valores. Confrontado pela PF com os registros de sua passagem pelo escritório de Youssef em São Paulo, Ademar Cruz reconheceu que procurou o doleiro em janeiro de 12014 para "ver se conseguia mais algum valor emprestado, porém logo após houve a deflagração da Operação Lava Jato". No mesmo inquérito que investiga os pagamentos a Loubet, a contadora Meire Poza procurou a Polícia Federal para revelar ter sido procurada por outro advogado de Campo Grande, Tércio Waldir de Albuquerque, que dizia ser um emissário do deputado estadual Cabo Almi (PT-MS), que em 2012 foi candidato a vice na mesma chapa de Loubet. Uma firma do filho de Almi havia recebido R$ 130 mil da empresa de Meire Poza, segundo ela, mais um dos pagamentos ordenados por Youssef. De acordo com Meire, contudo, Albuquerque lhe disse que "o pessoal do Ceará [...] estava sugerindo" que ela declarasse, "caso perguntada em audiência policial ou em juízo", que os R$ 130 mil foram destinados "à compra de um pacote turístico". A contadora disse à PF que, em resposta à sugestão do advogado Tércio Albuquerque, teria dito que "não iria mentir, pois é testemunha de acusação nas ações penais da Operação Lava Jato". Em seu depoimento à PF, Vander Loubet disse "desconhecer" as operações de pagamento que envolveram Leoni Ramos, Ademar Cruz e a Youssef, que "jamais teve qualquer tipo de contato" com o doleiro e disse não saber as razões pelas quais Youssef citou seu nome "como uma das pessoas que teria recebido valores". Também ouvida na PF, Roseli Loubet exerceu o direito de permanecer calada. Em depoimento, Tércio Albuquerque negou ter sugerido a Meire Poza que inventasse uma explicação para o repasse de recursos ao filho de Cabo Almi. Ele confirmou ter viajado de Campo Grande a São Paulo e que se encontrou com Meire para "informar sua intenção de obter informações a respeito da transferência feita pela Arbor para a empresa Pereira & Moura".
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