O juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, homologou nesta quinta-feira o acordo de delação premiada do operador Mario Goes, o mais recente réu da Operação Lava Jato a concordar em colaborar com a Justiça em troca de benefícios judiciais. Agora, ele será liberado para cumprir prisão domiciliar. Goes iria depor nesta quinta no processo que apura irregularidades na contratação de empresas para a produção de navios-sondas, mas Moro adiou a oitiva para a próxima segunda-feira por causa da delação. Por ora, o operador permanece em Curitiba para prestar mais esclarecimentos à Justiça na semana que vem. Goes presta depoimentos desde a última terça-feira e indicou, entre outros pontos, como funcionava o esquema de distribuição de dinheiro sujo orquestrado pela construtora Andrade Gutierrez no Exterior. As revelações de Goes devem ser utilizadas pelos investigadores da Lava Jato para conseguir mapear o trajeto do dinheiro de propina pago por empreiteiras para ex-dirigentes da Petrobras como Paulo Roberto Costa e o petista Renato Duque. De acordo com pessoas que atuaram na delação, não houve menção a autoridades com foro privilegiado. Em um de seus depoimentos, Goes esmiuçou pelo menos quinze operações de lavagem de dinheiro ainda desconhecidas pelos investigadores. De acordo com ele, por meio da subsidiária Zagope Angola, vinculada à Andrade, a empreiteira teria repassado propina de 2008 a 2012 para uma conta bancária na Suíça da empresa offshore Phad Corporation, controlada pelo delator. De lá, o dinheiro foi enviado, por meio de contratos falsos, a Renato Duque e ao ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco. O fluxo do propinoduto montado entre a Zagope e a Phad por meio da simulação de um contrato com a Andrade Gutierrez chegou a 6,42 milhões de dólares, de acordo com as investigações. Com o auxílio da Suíça e de outros depoimentos de delação premiada, o Ministério Público já tinha conseguido detectar pelo menos 83 repasses de propina entre julho de 2006 e fevereiro de 2012 envolvendo contas do operador Mario Goes para contas correntes de Pedro Barusco usadas também para o recolhimento de propina ao petista Renato Duque. Neste período, o esquema de propina envolvendo o trio movimentou expressivos 48,2 milhões de reais. "Com o objetivo de ocultar e dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores que são oriundos dos diversos crimes, (os executivos da Andrade Gutierrez) Otávio Marques de Azevedo, Elton Negrão, Flávio Machado Filho e Antônio Pedro Campello valeram-se da empresa Zagope Angola, integrante do Grupo Andrade Gutierrez, para efetuar repasses ao operador Mario Goes no Exterior, os quais posteriormente seriam destinados a Pedro Barusco e Renato Duque", relatou o Ministério Público ao juiz Sergio Moro. Para dar ares de veracidade à contratação de Mario Goes pela construtora Andrade Gutierrez foram simulados, segundo ele, contratos para a "prestação de serviços de consultoria com identificação de oportunidades de investimento nos setores de infraestrutura industrial, rodoviária, portuária, aeroportuária, imobiliária, de cimento na costa atlântica da África" e para a prospecção de oportunidades de investimento na área de óleo e gás na costa atlântica da África. Para os investigadores da Lava Jato, os contratos são "evidentemente falsos" porque "a Phad Corporation era apenas uma empresa de fachada constituída no exterior apenas para a movimentação de recursos, como também Mario Goes não detinha expertise que justificasse a contratação".
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