segunda-feira, 6 de julho de 2015

Em convenção nacional, PSDB expõe a herança maldita do PT e se diz preparado para tirar o país da lama

O PSDB realizou neste domingo a sua convenção nacional. Ninguém pegou leve com o governo do PT e com a presidente Dilma Rousseff, embora, nas falas oficiais, não se tenha pronunciado a palavra “impeachment”. Mas os tucanos fizeram questão de deixar claro que estão prontos, se preciso, para assumir o comando do Brasil. Três, e não dois presidenciáveis, estavam presentes ao encontro: o senador Aécio Neves (MG), reconduzido à presidência da sigla; o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, lançado para a sucessão de Dilma pelo diretório de São Paulo, e, sim, o senador José Serra (SP), que tem sido de uma operosidade impressionante no Senado.

E os três bateram muito duro. Aécio tem a seu favor o apoio, hoje, da maioria dos diretórios e o fato de quase ter batido Dilma no ano passado. Alckmin lidera o Estado em que o PSDB teve o melhor desempenho, saiu vitorioso em 644 dos 645 municípios do Estado, e resistiu de forma impressionante à crise hídrica, que o PT tentou explorar à farta. Serra voltou a ser reconhecido em Brasília como um dos homens públicos mais preparados do país. Há quem diga que o PMDB o corteja — mas, convenham, essa história de tucanos graduados deixarem o partido tem rendido mais calor do que luz. Eu não apostaria dez centavos nisso. De todo modo, melhor um partido de oposição que tem três candidatos considerados sérios a um de situação que não conta com nenhum… Se é que vocês me entendem.
Aécio não economizou. Em seu  discurso, resumiu assim o governo Dilma:
“[convivemos] Com a corrupção endêmica, que grassa no serviço público, gerando escândalos em série, intermináveis e vergonhosos, como os revelados quase diariamente pela Operação Lava-Jato. Convivemos com o uso de truques contábeis, as chamadas ‘pedaladas fiscais’, para fechar as contas do governo. Uma prática que pode levar a presidente da República a ter suas contas rejeitadas, algo inédito em quase 100 anos de história republicana.”
O presidente do PSDB enumerou as consequências:
“E temos, como resultado de tudo isso, um autêntico desgoverno, que abriga caprichosamente uma crônica ineficiência e premia a má gestão. Diante disso, não seria possível esperar qualquer outro resultado, senão as múltiplas crises que se instalaram no corpo do Estado brasileiro. A crise, que inicialmente era econômica, apenas uma ‘marolinha’, parou o país e varreu nossas esperanças. Depois virou também séria crise política, tomada pelo descrédito total dos que estão no poder e de seus padrinhos. Agora, passo a passo, vai se transformando em aguda crise social.”
Tido como habitualmente moderado, comedido, Alckmin também bateu duro:
“O PT chegou ao fundo do poço e cabe a nós a missão de não deixá-los carregar o país junto com eles. Afastado o flagelo do petismo no poder, o Brasil poderá reencontrar sua vocação para o crescimento”.
E decidiu tomar do PT o suposto monopólio do social:
“Somos o partido dos mais humildes, dos trabalhadores, do povo. O PSDB é o partido da educação, que emancipa; da saúde, que cuida de gente; o partido da segurança pública, que salva vidas. O partido daqueles que mais precisam. O partido que nunca usou e nunca usará o nome do trabalhador em vão.”
Serra, por sua vez, viu uma crise inédita:
“O Brasil está atravessando a pior crise desde que me conheço por gente, sem nenhum catastrofismo. Cabe a nós oferecer saídas para a crise. Vai ser difícil, porque o estrago feito pela era petista é gigantesco.”
O senador se referiu ao governo de João Goulart:
“O Jango era de uma solidez granítica perto do governo Dilma, pelo menos sabia escolher gente, era um gigante na administração perto do governo Dilma.” Mas deixou claro que não endossa certas posições assumidas pelo PSDB em votações no Congresso: “Claro que às vezes há tentação, que precisamos afastar de aprovar loucuras fiscais irreversíveis, que comprometem o futuro”.
Entre outras loucuras, deveria estar se referindo à aprovação, pelo Senado, de um reajuste médio para os servidores do Poder Judiciário de, em média, 60%.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, alvo permanente do PT quando governo ou quando oposição, também não amaciou no diagnóstico:
“O Brasil foi quebrado pelo PT e pelo lulo-petismo. Essa crise que vai custar caro para o povo brasileiro é dele, não nossa. Não virá aliança externa para nos ajudar, mas temos força, como brasileiros e brasileiras, de reconstruir o Brasil. Queremos reconstruir o Brasil, tirá-lo dessa tragédia para a qual fomos levados pela incompetência de quem não sabe governar.”
Há algum tempo, FHC lembrou que ele chegou a perder, sim, a popularidade, quando presidente, mas nunca a credibilidade. Voltou ao tema:
“Quando se perde a credibilidade, não há mais como recompô-la. E esse governo perdeu a credibilidade. Não explicou nada, deu volta de 180 graus, mudou sua política sem dizer nada. Não dá mais para acreditar. Quebrou o cristal. E emendou: “Vamos tentar, junto com o povo, levar o país a um caminho de ética, de bem-estar. Não estamos sozinhos, juntos vamos vencer e nos recompor.”
Com dois pré-candidatos claros à Presidência — Aécio e Alckmin — e um eventualmente correndo por fora — Serra —, o PSDB vive o momento efervescente de quem pode se considerar um potencial sucessor do PT. Não pode deixar que cresça um inimigo que o atrapalha com certa frequência. Não me refiro ao PT, mas às divisões internas. Espera-se que já esteja maduro para saber equacioná-las.
Por Reinaldo Azevedo

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