Pois é… Dizer o quê? O PT está de tal sorte desarvorado que não se entende nem sobre as críticas meio marotas que Lula fez ao partido na segunda, durante uma conferência sobre democracia havida no instituto que leva o seu nome. No esforço de se descolar da crise, do governo Dilma e, creiam, também do partido, afirmou que a legenda perdeu a utopia e que os petistas só pensam em cargos e não querem mais trabalhar de graça. A muitos escapou que pregou também a ética do sacrifício: “Nós temos que definir se queremos salvar nossa pele, nossos cargos ou nosso projeto”. Ora, só se preocupa em salvar a pele quem sabe que, por alguma razão, ela está em risco. A fala de Lula deixa claro: petistas têm de pensar no projeto, ainda que possam perder o couro. O petista dos seus sonhos é Delúbio Soares. Lula acha que o governo Dilma o está entregando aos leões.
Na Câmara, houve algum muxoxo de desagrado, ainda que leve. José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Casa, afirmou que seria melhor que as críticas fossem feitas no ambiente partidário. Declarou ainda, segundo informa a Folha: “Só posso dizer que a perspectiva do PT no Nordeste é muito boa. Quem fica apregoando essa história de o PT estar no fundo do poço, estar no volume morto… Vamos esperar as eleições. Já vi tantas previsões feitas e não realizadas”. Rui Falcão, presidente do partido, desconversou: “Prefiro quando o Lula diz que os que acham que o PT vai acabar darão com os burros n’água”.
É bom notar que Dilma também havia comentado a fala do antecessor, que atacara o seu governo. Na conversa com jornalistas, disse: “Todo mundo tem o direito de criticar, mais ainda o presidente Lula, que é muito criticado por vocês”. Entenderam? Lula cutuca a presidente, e a presidente cutuca a imprensa. Que sentido isso faz? Não faz.
Mas a reação destrambelhada, ultrapassando a linha do absurdo, saiu mesmo da bancada do partido no Senado, que houve por bem emitir até uma nota. Eu a reproduzo na íntegra no pé deste post. Há tempos não se via tamanha coleção de asneiras.
Para os senadores do PT, Lula só criticou o partido por culpa dos… adversários da legenda. Nem a URSS de Stálin produziria algo parecido sobre o seu líder. O panegírico rivaliza com as peças mais grotescas produzidas na Coreia do Norte, onde se cultua como fato histórico que uma estrela nunca antes vista iluminou o céu no dia em que nasceu Kim-Il-sung, o primeiro ditador, avô do anão tarado que governa o país, Kim Jong-un. Creio que não teremos a glória de ser governados por Lulinha e depois pelo neto do Lulão.
Segundo os senadores petistas, Lula está acima das circunstâncias históricas e é “o rosto do Brasil no mundo”. O homem carinhosamente chamado de “Brahma” pelos empreiteiros — e os senadores preferem não tocar no tema “petrolão” — seria “uma afronta às elites que sempre apostaram num Brasil para poucos, num Brasil de exclusão e de desigualdades.”
O culto à personalidade vai longe. Para a turma, o ex-presidente é hoje alvo de desrespeito. Está lá: “Desrespeitar Lula é desrespeitar o povo brasileiro, pois sua ascensão pessoal se confunde com a ascensão social e política da nossa população antes excluída”. Ou por outra: antes da chegada de Kim-jong-lula ao poder, não havia país.
O endeusamento convive com a vitimização — essas coisas sempre andam juntas. Diz o manifesto: “No vale-tudo contra Lula, vale até mesmo usar o recurso torpe de expor seu defeito físico, o que revela incurável defeito de caráter”. Como?
Embora Lula tenha descascado o partido, escrevem os senadores:
“A bancada do PT no Senado manifesta sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução de uma imagem que representa o que o Brasil tem de melhor: sua gente”.
“A bancada do PT no Senado manifesta sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução de uma imagem que representa o que o Brasil tem de melhor: sua gente”.
Faltasse uma evidência de que o PT está morto, há agora essa carta. É claro que isso não é um manifesto de um ente disposto a entender uma nova realidade que vai se desenhando no país. No passado, um texto como esse inflamaria muita gente. Hoje, passa apenas como um emblema do patético.
Leiam a íntegra da carta. Os religiosos, por favor, segurem, como segurei, a tentação de cair de joelhos e virar o rosto para não se deixar cegar pela sarça ardente. Deus, finalmente, está entre nós. Não é o Filho, não! É o Pai mesmo. E, quem diria?, realmente tem barba e cabelos brancos. Pelo visto, o PT deveria ser o Espírito Santo dessa Santíssima Trindade herética. É uma pena para o país que tenha se revelado um verdadeiro espírito de porco. Segue a maluquice.
*
Luiz Inácio Lula da Silva, nosso querido Lula, é uma das raras e fantásticas lideranças que conseguem transcender os limites de sua origem social, de sua cultura e do seu tempo histórico. Ele figura no rol escasso dos líderes que rompem os limites, mudam a realidade, fazem a diferença na vida das pessoas, fazem História.
Luiz Inácio Lula da Silva, nosso querido Lula, é uma das raras e fantásticas lideranças que conseguem transcender os limites de sua origem social, de sua cultura e do seu tempo histórico. Ele figura no rol escasso dos líderes que rompem os limites, mudam a realidade, fazem a diferença na vida das pessoas, fazem História.
Lula se fez contra os terríveis limites históricos, econômicos, sociais e políticos que lhe foram impostos. É aquela criança pobre do sertão nordestino que deveria ter morrido antes dos cinco anos, mas que sobreviveu. É aquele miserável retirante que veio para São Paulo buscar, contra todas as probabilidades, emprego e melhores condições de vida, e conseguiu.
Lula é aquele candidato que não deveria ter vencido as eleições, mas venceu. Lula é aquele eleito que não deveria ter tomado posse, mas tomou. Lula é aquele presidente que devia ter fracassado, mas teve êxito extraordinário.
Lula é uma afronta às elites que sempre apostaram num Brasil para poucos, num Brasil de exclusão e de desigualdades. Lula é, sobretudo, esse fantástico novo Brasil que ele próprio ajudou a construir. O Brasil para todos os brasileiros. O Brasil da inclusão, da igualdade e da solidariedade.
No cenário mundial, ninguém põe em dúvida a liderança de Lula como exemplo no combate à pobreza, à fome e às desigualdades. Lula é, de fato, o grande inspirador internacional das atuais políticas de inclusão social, reconhecido por inúmeros governos de diferentes matizes políticos e ideológicos. Lula é o rosto do Brasil no mundo.
No Brasil, entretanto, há hoje uma sórdida campanha de deslegitimação dessa grande liderança. Uma campanha que dispensa argumentos racionais. Uma campanha baseada apenas no ódio espesso dos ressentidos.
Entendemos perfeitamente que alguns tenham medo de serem derrotados de novo por Lula em 2018. Mas esse medo não pode dar vazão a atitudes pouco republicanas e francamente antidemocráticas. Tentam transformar suas virtudes em vícios e suas ações pelo Brasil em crimes. Insinuam de forma leviana, acusam sem provas, distorcem, mentem e insultam. No vale-tudo contra Lula, vale até mesmo usar o recurso torpe de expor seu defeito físico, o que revela incurável defeito de caráter.
Falta, sobretudo, respeito ao presidente mais bem avaliado da história do Brasil. Desrespeitar Lula é desrespeitar o povo brasileiro, pois sua ascensão pessoal se confunde com a ascensão social e política da nossa população antes excluída.
Tentam fazer hoje contra Lula o que fizeram contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Usam cínica e seletivamente da imprescindível luta contra a corrupção para tentar destruir um projeto nacional e popular que elevou o Brasil e o seu povo. Um projeto que propicia o efetivo combate aos desvios e que vem livrando o Brasil da grande corrupção da miséria e das desigualdades.
A bancada do PT no Senado manifesta sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução de uma imagem que representa o que o Brasil tem de melhor: sua gente.
A bancada também entende que Lula está muito acima dessa mesquinhez eleitoreira. Lula não será apequenado pelos que se movem por interesses menores e pelo ódio. Lula é tão grande quanto o Brasil que ele ajudou tanto a construir. Lula carrega em si a solidariedade, a generosidade e a beleza do povo brasileiro. Para esse povo e por esse povo, Lula fez, faz e fará História.”
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