A Polícia Federal terminou nesta terça-feira (23) a coleta de depoimentos relacionados ao caso dos 27 médicos do Hospital Universitário (HU) Polydoro Ernani de São Thiago, em Florianópolis, suspeitos de não cumprirem a carga horária pela qual foram contratados. Na próxima semana, os próprios profissionais investigados começarão a depor. O caso está relacionado a médicos que eram concursados no HU e não cumpriam a carga horária de trabalho. Mesmo assim, recebiam integralmente, gerando um prejuízo de R$ 36 millhões nos últimos cinco anos aos cofres públicos. No dia 9 de junho, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em hospitais públicos e privados, além de consultórios médicos. Foram ouvidas 62 testemunhas desde o dia 18. Foram médicos, enfermeiros e técnicos do Hospital Universitário que se apresentaram voluntariamente ou foram convocados para ajudar na investigação. A partir do dia 30 desse mês, os 27 médicos suspeitos vão começar a dar suas versões. Essa fase deve terminar em, no máximo, uma semana, já que três delegados vão trabalhar exclusivamente na coleta desses depoimentos. As investigações apontam a prática de, pelo menos, três crimes: de prevaricação, que é deixar de praticar ato de ofício, estelionato e falsidade ideológica. Durante a investigação, mais servidores podem ser chamados para depor. A Polícia Federal deve concluir os trabalhos em quatro meses. Depois disso, o caso vai para o Ministério Público Federal. Três dos 27 médicos indiciados pela Polícia Federal de Santa Catarina nunca atenderam no HU. Mesmo assim, cada um recebia o salário de R$ 16.597,12. Outros cinco têm menos de 15% de frequência, e salário de R$ 25.121,93. Oito possuem 30% de frequência, com R$ 18.494,39 de salário mensal, e 11 têm 40% de frequência, ganhando R$ 19.930,12. "Eles tinham vários vínculos com hospitais, clínicas e consultórios particulares. Eles visaram sempre almejar o lucro nos atendimentos particulares, enquanto os atendimentos prestados no Hospital Universitário eram baseados na oferta deles, e não na demanda real. Gerou um prejuízo gigantesco para a população carente de Florianópolis", disse o delegado Allan Dias, da Polícia Federal. A Polícia Federal realizou uma média do total de horas que os médicos efetivamente trabalharam na instituição pública. Ao todo, os 27 médicos trabalharam um total de 283 horas por semana. Por contrato, estes funcionários deveriam ter trabalhado 1.060 horas por semana. Ou seja, eles trabalharam 26,7% daquilo que estava acordado como prestação de serviço. Considerando a portaria nº 1.101/2002 do Ministério da Saúde, cada médico poderia atender até quatro consultas por hora. Em um dia, os 27 médicos deveriam atender por turno 848 consultas, mas a média dos funcionários era de 226. A investigação durou um ano e meio, segundo a Polícia Federal. A polícia recebeu as denúncias por meio de outros funcionários do HU e colocou agentes infiltrados na unidade. Com as provas apreendidas nesta terça-feira, outros médicos, chefes e até diretores do hospital também podem ser indiciados. Além de Florianópolis, os mandados foram cumpridos nas cidades de Itajaí, Criciúma e Tubarão.
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