A petista gaúcha Andrea Haas, mulher do bandido petista mensaleiro e foragido Henrique Pizzolato, participou na manhã desta terça-feira, 16, de uma coletiva de imprensa organizada por parlamentares italianos da Comissão de Direitos Humanos do Senado para falar sobre o processo de extradição do marido ao Brasil. Pizzolato foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão no julgamento do Mensalão do PT e fugiu miseravelmente para a Itália no final de 2013. Foi preso em fevereiro do ano passado. Em outubro, o Tribunal de Bolonha suspendeu a extradição e liberou o ex-diretor do Banco do Brasil da cadeia. Em fevereiro deste ano, a Corte de Cassação revogou a sentença de Bolonha e o mandou de volta à penitenciária de Modena, onde espera uma decisão final sobre seu caso. No final da audiência, Andrea falou pela primeira vez sobre a fuga do Brasil. A mulher do bandido petista mensaleiro e foragido Pizzolato faz críticas à condução do processo no Judiciário brasileiro e diz que o PT "esqueceu" o ex-diretor do Banco do Brasil.
Estadão - Logo no início do processo de extradição, no ano passado, a senhora disse que acreditava na Justiça italiana. Ainda acredita?
Andrea - Nós acreditávamos na Justiça italiana, mas estamos lutando contra gente muito poderosa. Os dois países estão prontos para sacrificarem, com uma assinatura, o direito e a vida de Henrique.
Estadão - Como a senhora está vivendo com essa possibilidade de Pizzolato ser extraditado?
Andrea - Como disse antes, para mim é terrível pensar que Henrique possa ser extraditado e tenha que pagar sua pena numa penitenciária brasileira. O processo pelo qual foi condenado foi um processo político-mediático que tinha Lula como adversário.
Estadão - Durante a audiência com parlamentares italianos, a senhora falou que o seu marido foi pego como bode espiatório.
Andrea - Na época se buscava a origem do dinheiro que financiou os parlamentares para votarem nas leis de interesse do governo Lula. Na CPMI (dos Correios) foram investigadas várias empresas públicas e privadas, inclusive a Brasil Telecom, que por sinal é italiana. Em relação ao Banco do Brasil, pensaram somente no Pizzolato, como se ele fosse o dono do banco, isso para poderem dizer que o dinheiro que serviu para pagar os parlamentares era um dinheiro público. Essa é a maior mentira. Pizzolato foi usado como bode expiatório para (proteger) essas outras empresas que estavam sendo investigadas, e quem sabe até a Petrobrás... O próprio Banco do Brasil diz que o dinheiro não era de um fundo público.
Estadão - Sobre essa questão que foi levantada agora pela defesa de Pizzolato, a ala de vulneráveis, por que está sendo questionada?
Andrea - A ala de vulneráveis tem uma ação no Brasil. O Brasil, quando fez o julgamento (do Mensalão do PT), não respeitaram a lei que garante a qualquer cidadão o direito de apelar de uma decisão. O País agora ofereceu um simples cela, uma ala de vulneráveis, que são 12 mil detentos, cuidados por 1200 guardas carcerários. É impossível existir um oásis dentro de um inferno. O pior é que o Brasil está oferecendo uma garantia que é ilegal, é inconstitucional.
Estadão - A senhora diz que o dinheiro não era público, e sim privado. Mas o ponto é: esse dinheiro que saiu do banco foi usado para corromper?
Andrea - A dona do dinheiro, a Visanet, que é uma empresa privada, disse que o valor de R$ 73 milhões foi totalmente empregado em campanhas de publicidade de cartões de crédito da marca Visa. Como é que um dinheiro serve para duas coisas ao mesmo tempo, pagar propina e campanhas publicitárias?
Estadão - Na época do mensalão, o PT defendeu publicamente os políticos que foram alvo do processo. Como o partido se posicionou em relação a Pizzolato?
Andrea - Eles o esqueceram. Esse PT que não defende mais a justiça e os oprimidos, que está lá só para se manter no governo, esse PT nunca defendeu Pizzolato. Mas ainda existe aquele lado do PT feito de pessoas que acreditam na velha ideologia do partido, que sabem que Pizzolato foi injustiçado.
Estadão - Quando é que vocês começaram a arquitetar a fuga de Pizzolato?
Andrea - Não é uma questão de arquitetar. É muito simples. Em 2005, quem administrativa o dinheiro da Visanet era a diretoria de varejo. Henrique foi chamado na CPMI e não sabia nada da questão da Visanet. Isso porque a diretoria de varejo também fazia parte da diretoria de administração da Visanet. Eram eles que detinham todas as informações a respeito do fundo Visanet. E nenhum deles foi chamado para depor na CPMI. O Henrique teve que estudar para saber o que falar. Era a diretoria de varejo que recebia a informação do valor que o fundo Visanet estava disponibilizando para o Banco do Brasil e que decidia de que forma esse dinheiro deveria ser usado dentro do banco. É uma coisa tão absurda: de duas empresas como o Banco do Brasil e a Visanet, somente Henrique foi chamado para dar explicação.
Estadão - Foi aí que começaram a entender que "sobraria para vocês"?
Andrea - Depois, a forma como foi apresentada a denúncia pelo Ministério Público, pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, foi totalmente seletiva. Ele se referia a outros funcionários coniventes que nunca foram chamados para depor, a ponto de que foi aberto um outro processo, em primeira instância, para investigar esses outros funcionários, e isso foi mantido em segredo. Toda a sequência dos acontecimentos era totalmente irregular, ilegal, pessoas comuns foram denunciadas pelo Supremo. A questão do Joaquim Barbosa, o mesmo juiz que cumpriu o papel de investigador e depois julgou, ele que apresentou o relatório, isso é contra o princípio do juízo imparcial. O Henrique esperava pela justiça porque tinha muitos documentos que comprovavam a inocência dele, ele acreditava que seria inocentado, mas depois começou a desconfiar porque ninguém veio conversar com ele, nem do partido, sobre o que estava acontecendo, qual era a história verdadeira. Quando uma pessoa faz atos inesperados é porque se sente sozinha ou porque tem medo.
Estadão - Pizzolato votou usando o nome do irmão nas eleições do Rio de Janeiro?
Andrea - Eu não sei. Mas que diferença faz?
Estadão - Faz toda a diferença. O que chega à opinão pública é isso: Henrique Pizzolato se diz inocente, mas falsificou o passaporte usando o nome do irmão morto, votou nas eleições do Rio usando o documento falso e fugiu do País. Se ele é inocente, por que planejou essa fuga? Por que não ficou no Brasil para se defender?
Andrea - Pizzolato foi condenado por um tribunal que não permitiu que se defendesse, que não lhe deu direito ao apelo, nem direito aos embargos infringentes, porque não se podia questionar documentos. Como é quem uma pessoa vai ficar num País onde ela não tem mais nenhuma alternativa para provar sua inocência? O mesmo vale para a revisão criminal. Para que pedir? Para ser votada pela mesma corte? Isso, aqui na Itália, ninguém consegue entender. Foi a primeira vez que o Supremo Tribunal Federal assumiu a questão da execução penal.
Estadão - Como vocês fazem para se manter aqui na Europa. Dizem que estão gastando o dinheiro da propina que Pizzolato recebeu.
Andrea - O Henrique recebe uma aposentadoria do Banco do Brasil, eu também sou aposentada e tem meu pai que nos ajuda. Diferentemente do que achava, os honorários de um bom advogado aqui na Itália são inferiores aos de um bom advogado no Brasil.
Estadão - Pizzolato recebeu propina?
Andrea - Não, mas veja bem, a pessoa para ser subornada tem que ter o poder para fazer alguma coisa. A acusação dizia que o Pizzolato havia favorecido a agência DNA por dois motivos. Um era porque tinha assinado a prorrogação do contrato com a agência. Esse contrato foi assinado no ano de 2000 pelo então diretor de marketing Renato Naesio, e foi prorrogado por ele duas vezes. A terceira prorrogação foi assinada por Pizzolato, mas não foi ele quem decidiu fazer essa prorrogação. Quem decidiu fazer essa prorrogação foi o conselho administrativo do Banco do Brasil. O conselho administrativo do Banco do Brasil é composto pelo presidente e por sete vice-presidentes e foi assinado dia 11 de fevereiro. Pizzolato entrou na direção de marketing dia 17 de fevereiro e o contrato foi renovado em março. Pizzolato simplesmente obedeceu a ordem de seus superiores. Como é que se pode dizer que ele recebeu propina se não era nem ele que fez o que disseram. As acusações também diziam que Pizzolato fez antecipações com dinheiro público do Banco do Brasil para Visanet. Primeiro, antecipação não é crime; segundo, quem determinava pagamentos com dinheiro da Visanet não era Pizzolato, era o gestor do fundo Visanet, um funcionário da diretoria de varejo, que apresentava um documento na Visanet solicitando pagamento para DNA e a Visanet, de acordo com seu próprio regulamento, tinha poder para dizer sim ou não ao pedido do gestor. Quem deveria ter sido investigada era a diretoria de varejo.
Estadão - Vocês já entraram com recurso no Tribunal Europeu de Direitos Humanos?
Andrea - Ainda não. O que fizemos foi informar a Corte Européia dos acontecimentos jurídicos que envolvem o caso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário