domingo, 14 de junho de 2015

Fila de navios causa prejuízo bilionário à Petrobras

Na semana em que o governo lançou um novo plano de investimentos em logística, a Petrobras, maior empresa do Brasil, sofre com o gargalo em seu principal porto, o de Macaé, no Norte do Estado do Rio de Janeiro e às margens da Bacia de Campos, maior região produtora de petróleo do País. A área, que começou a funcionar nos anos 1980, opera hoje no limite de sua capacidade, afirmam a própria estatal e especialistas do setor. De acordo com fontes técnicas, a falta de espaço para atracar as embarcações de apoio à exploração de petróleo estaria provocando, em média, uma fila de espera de um dia, com pelo menos 12 barcos. Resultado: em 12 meses, os gastos estimados, diz uma fonte, ficam entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões, ou R$ 1,5 bilhão. O cálculo desse custo considera uma média de aluguel de US$ 100 mil por dia por cada embarcação. Segundo essa mesma fonte, os valores de aluguel variam por tipo de barco de apoio. Outra fonte do setor destacou que em, certos momentos, a espera pode chegar a até três dias, com um número bem maior de embarcações. A Petrobras, porém, negou que exista essa fila de espera e ressaltou que a maioria das embarcações vistas ao redor do porto realiza diversas atividades, como manutenção ou vistoria. As fontes, no entanto, sustentam o cálculo. "É um dinheiro que a Petrobras perde pelo ralo no momento em que precisa reduzir custos. Quando atraca no porto, a embarcação passa por carga e descarga de materiais, equipamentos, alimentação para as plataformas, etc", afirmou uma fonte próxima à estatal. Empresários e especialistas do setor dizem ainda que os custos extras da estatal só não são maiores porque a Petrobras teve de reduzir parte de suas atividades por causa da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. No próximo dia 26, a estatal deve anunciar seu Plano de Negócios 2015-2019, que prevê uma redução de investimentos. O gerente-geral de Logística de Exploração & Produção (E&P) da Petrobras, Ronaldo Dias, afirmou que o Porto de Macaé está operando quase à plena capacidade (90%), mas garantiu que não existe fila de espera de embarcações para atracar. Os seis berços do Porto movimentam 12 embarcações diariamente, que permanecem 12 horas atracadas. A gerente executiva de Serviços de E&P, Cristina Pinho, explicou que o ideal é um porto operar com 62% de ocupação. Mas, afirmou que, apesar de Macaé estar operando com 90% de sua capacidade, o tempo médio de atracação não aumentou. No entanto, os dois gerentes da estatal explicaram que, devido ao fato de Macaé estar no limite da capacidade de operação, a Petrobras já vem ao longo dos últimos anos planejando a ampliação dessa capacidade. Desde 2013, com a adoção de alguns ajustes e mudanças na logística, a Petrobras conseguiu ampliar em 25% a capacidade de movimentação do Porto de Macaé. Além disso, recorre a áreas no Porto do Rio de Janeiro e em Vila Velha (ES) para as embarcações de apoio à produção, tanto da Bacia de Campos quanto do Espírito Santo. E, de olho na futura produção do pré-sal, a estatal corre hoje com licitações para aumentar sua capacidade portuária e evitar prejuízos milionários devido à falta de espaço para a atracação de suas embarcações de apoio. "Apesar de a demanda agora estar menor, a Petrobras pensa a longo prazo e precisa investir em espaço portuário por conta do aumento de produção que virá com o pré-sal", disse uma fonte.


Dessa forma, a estatal já abriu uma licitação para a construção de três berços de atracação no Espírito Santo, segundo fontes que trabalham na proposta. A previsão é que a operação seja iniciada no fim de 2016, destacaram. Porém, em alguns casos, a companhia vem enfrentando atrasos. Há cerca de três meses a Petrobras abriu uma licitação para dois novos berços na Baía de Guanabara. Após o resultado, porém, o segundo colocado entrou com recurso, o que deve atrasar ainda mais o início das obras. Recentemente, a Petrobras viu uma disputa judicial postergar, por quase três meses, o início da construção de seis novos berços no Porto de Açu, em São João da Barra (RJ), onde ela ainda não opera. Em novembro, a Edison Chouest OffShore (ECO) venceu o certame, cuja proposta incluía a construção dos berços no Porto de Açu, hoje da Prumo Logística. Mas uma ação judicial da Prefeitura de Macaé atrasou o processo, e o contrato só foi assinado em fevereiro deste ano, explicou Ricardo Chagas, presidente da ECO: "Até o resultado da licitação ser confirmado pela Justiça, houve um atraso de até 80 dias. E isso atrapalha a todos, pois só podemos fazer o investimento após a assinatura do contrato". Por contrato, destaca o executivo, a entrega dos dois primeiros berços ocorrerá até fevereiro de 2016, mas há a possibilidade de concluir a obra já em novembro. Os quatro berços restantes serão feitos até agosto do ano que vem. — O contrato é de R$ 2,5 bilhões e tem duração de 15 anos, podendo ser renovado por mais 15 anos — disse Chagas, ressaltando que a empresa vai investir R$ 900 milhões em uma área que comporta 15 berços e ainda um estaleiro de reparo naval. O presidente-executivo da Prumo, Eduardo Parente, explicou que, além de ECO e Petrobras, outras empresas já estão se instalando no Açu. Ele citou o contrato com a gaúcha Bolognesi Energia para a construção conjunta de um terminal de gás natural liquefeito (GNL), com capacidade para produzir 15 milhões de metros cúbicos por dia. O projeto deve receber o gás natural que será produzido nas Bacias de Santos e Campos. "O Porto do Açu resulta em um dia a menos de viagem em relação a Macaé. A crise econômica do País tem um ponto positivo, de fazer com que a busca da redução de custos pelas empresas seja de verdade", destacou Parente. Ele disse ainda que assinou com a BG contrato de utilização de uma área para as operações de transbordo do petróleo que será produzido na Bacia de Santos a partir de agosto de 2016. Essa operação consiste em transferir o petróleo de um navio para o outro. Parente disse esperar fechar em breve novos contratos com outras petroleiras, inclusive a Petrobras. 

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