Caso não haja redução de consumo, a Região Sudeste, mais afetada pela estiagem e também a maior consumidora de energia, poderá chegar ao mês de outubro com os reservatórios em cerca de 10% da capacidade. O nível é considerado o mínimo para garantir o abastecimento de energia até o início das chuvas, esperado para novembro. "Mesmo assim, 10% é bastante baixo. Seria uma sobrevivência até entrar em um novo ciclo chuvoso", afirmou o consultor da Excelência Energética, Josué Ferreira, responsável pelas estimativas. Para isso, o regime de chuvas também terá de ajudar. Qualquer volume menor do que 80% da média provocaria um colapso. Aos 70% e sem nenhum tipo de redução de consumo, os reservatórios chegariam ao fim de outubro com 3,41% da capacidade. Na semana passada, contudo, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, comentou em evento no Rio de Janeiro que a desaceleração da economia, os aumentos no preço da energia e a campanha de racionalização do consumo já surtem efeitos. Com isso, o órgão revisou a previsão de crescimento da demanda de energia de 3,2% para 0,2% em 2015: "O ano de 2015 será tão crítico no segmento de geração de energia quanto foram 2014 e 2013". Ao contrário de 2001, quando substituições de eletrodomésticos e lâmpadas estavam em primeiro lugar na lista de tarefas para economizar energia, a receita para a redução de consumo hoje é a mudança de hábitos cotidianos. O presidente do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, cita como exemplos reduzir a duração do banho quente com chuveiro elétrico e juntar mais roupas para colocar na máquina de lavar. Outra recomendação de especialistas é desligar aparelhos da tomada enquanto não são utilizados, desde carregadores de celulares até televisão. Isso evitaria os gastos com o "stand by", elevados no caso de aparelhos que esquentam quando ligados na luz, como é o caso de receptores de sinal de TV a cabo. Mas a orientação não é unânime. "Isso é bobagem", garantiu o diretor do Instituto Ilumina, Roberto D'Araújo. Segundo ele, no caso de alguns aparelhos eletrônicos, o stand by é até útil para manter a corrente elétrica e evitar umidade. A mais radical das orientações é o menor uso dos aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, o que atingiria em cheio o nível de conforto dos brasileiros. "Pode-se desligar o que é supérfluo", disse o diretor-técnico da Associação Brasileira de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Alexandre Moana: "Ou você perde conforto, ou você age com inteligência. Mas até o agir com inteligência tem um limite". Pesquisas qualitativas do Data Popular já identificaram um hábito nas classes mais populares, sobretudo entre os mais velhos, de encarar eletrodomésticos como patrimônio. Assim, segundo Meirelles, a geladeira antiga segue sendo usada no quintal após a compra de uma nova para a cozinha, por exemplo. Os mais jovens, porém, não têm essa relação com os eletrodomésticos. Por isso, o executivo lamenta a falta de investimento contínuo em campanhas educativas sobre uso racional da eletricidade. O governo tem tentado mudar o comportamento dos consumidores com uma campanha iniciada este mês. Mas a avaliação é de que a medida chegou tarde. "Seria prudente que já tivesse sido adotada uma redução lenta e gradual do consumo", afirmou Ferreira: "A racionalização é importante. Se não recuperar (o nível dos reservatórios) no final do regime chuvoso e caso não caia o consumo, talvez seja preciso adotar uma política mais severa".
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