segunda-feira, 2 de março de 2015

PMDB rechaça manobra petista e quer manter o eixo da CPI da Petrobras. A propósito: chegou a hora de investigar o roubo de que a estatal foi vítima na Bolívia, durante a parceria Lula-Evo Morales

O requerimento que criou a nova CPI da Petrobras na Câmara estabelece que a finalidade da comissão é “investigar a prática de atos ilícitos e irregulares no âmbito da empresa de Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras) entre os anos de 2005 e 2015”. O petista Luiz Sérgio (RJ), no entanto, relator, já deixou claro que pretende estender a apuração ao governo FHC. Deixada por conta do PT, chegar-se-ia às capitanias hereditárias. Sabem como é… Um bom jeito de não investigar nada é propor investigar tudo.

Segundo informa a Folha na edição desta segunda, o PMDB decidiu dar um chega pra lá na estratégia petista e se organiza para concentrar a investigação no período estabelecido pelo requerimento. Afinal, foi ele que mereceu a assinatura dos deputados.
Sérgio usa como pretexto para desvirtuar a investigação o depoimento do ex-gerente Pedro Barusco, que declarou ter começado a receber propina da empresa holandesa SBM Offshore entre 1997 e 1998. A própria presidente Dilma Rousseff recorreu a esse depoimento para afirmar que a corrupção começou no governo FHC, fala que logo caiu no ridículo e gerou uma penca de memes na Internet.
Barusco, de fato, fez essa declaração. Mas já resta mais do que evidente que, no caso, um funcionário da estatal se deixava corromper; tratava-se, digamos, de um empreendimento individual. Já abordei esse assunto aqui. Mundo afora, empresas são flagradas corrompendo quadros técnicos do estado e de outras empresas. No Brasil — e em países marcados pelo estatismo —, as falcatruas costumam ser conduzidas por políticos, por homens públicos.
Caso o PMDB não ceda à patranha de Luiz Sérgio, a CPI começa o seu trabalho no rumo: é preciso investigar as safadezas entre 2005 e 2015 porque, nesse período, o que se viu foi a organização de uma máquina para assaltar o estado em benefício de um projeto de poder. É aí que está o centro da questão. Ninguém duvida de que tenham existido antes ladrões na Petrobras ou que outros possam existir depois. Têm de ser exemplarmente punidos. Mas não se pode usar uma CPI para tentar mudar a natureza do crime investigado.
Ainda segundo a Folha, os peemedebistas combinaram com Hugo Motta (PB), presidente da comissão, a criação de uma sub-relatoria para tentar recuperar ativos da Petrobras no exterior. Teria havido irregularidades sobretudo na África.
Bolívia
A propósito: a CPI tem de aproveitar a oportunidade para saber que fim levaram os ativos da Petrobras na Bolívia, expropriados por Evo Morales em maio de 2006. O índio de araque tomou duas refinarias da empresa de arma na mão. Ou melhor: eu sei que fim levaram os ativos; o que nunca ninguém descobriu é se a estatal brasileira foi ressarcida.
Depois do ato hostil, o BNDES andou financiando obras na Bolívia. Só para a construção da rodovia Santo Ignácio de Moxos-Villa Tunari, o banco estatal brasileiro assinou contrato de US$ 332 milhões, uma obra executada pela construtora OAS.
Em 2013, a Petrobras voltou a investir naquele país. As iniciativas fazem parte do pacote de generosidades do petismo com governantes com os quais mantém afinidade ideológica. Só que faz isso com o nosso dinheiro.
Encerro
Vamos ver. A CPI, como é sabido, foi instalada sob o signo da desconfiança em razão do fiasco das duas comissões criadas no ano passado, a do Senado e a mista. Os petistas são os primeiros a espalhar que o PMDB quer usar a investigação para pôr a faca no pescoço do governo e negociar cargos e vantagens.
Caberá basicamente ao PMDB provar que isso é mentira. Por Reinaldo Azevedo

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