Nas últimas semanas, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, decidiu participar descaradamente dos desdobramentos da Operação Lava Jato no Judiciário. Reuniu-se com advogados de empreiteiros presos pelo propinoduto na Petrobras, depois teve uma conversa secreta com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pelos pedidos de investigação de políticos, e, neste sábado, assumiu sem cerimônia o papel de advogado da presidente Dilma Rousseff. José Eduardo Cardozo convocou uma entrevista em São Paulo para, numa fala enfática, pinçar trechos da decisão do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, e do despacho de Rodrigo Janot que, segundo ele, indicam que não foram encontrados indícios contra Dilma. Foi o primeiro pronunciamento de um integrante do governo após a divulgação da lista do petrolão. O ministro reconheceu que o procurador-geral não poderia incluir a presidente Dilma Rousseff na lista de investigados porque a Constituição permite apenas que o chefe da nação seja investigado por feitos praticados durante o mandato, conforme determina a Constituição. Mas Cardozo leu trechos pinçados dos documentos de Zavascki e Janot para sustentar uma tese mais conveniente para a petista: para ele, Dilma estaria livre mesmo que não houvesse essa restrição constitucional. "Aqui não há fatos, não há nada que ser arquivado", disse. Reportagem de VEJA revelou no ano passado que, em depoimento às autoridades da Lava Jato, o doleiro Alberto Yousseff afirmou que a presidente tinha conhecimento dos desvios. O fim do sigilo sobre o caso, deliberado ontem pelo ministro Supremo, confirmou o que VEJA havia publicado. Diz o trecho: "Alberto Youssef (Termo de Colaboração 02) afirmou que, em complementação ao termo de declarações realizado na data de ontem, o declarante gostaria de ressaltar que tanto a presidência da Petrobras quanto o Palácio do Planalto tinham conhecimento da estrutura que envolvia a distribuição e repasse de comissões no âmbito da estatal; que, indagado quanto a quem se referia em relação ao termo "Palácio do Planalto", esclarece que tanto à Presidência da República, Casa Civil, Ministro de Minas e Energia, tais como Luis Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffman, Dilma Rousseff, Antonio Palocci, José Dirceu e Edson Lobão, entre outros relacionados; que esclarece ainda que eram comuns as disputas de poder entre partidos, relacionadas à distribuição de cargos no âmbito da Petrobras, e que essas discussões eram finalmente levadas ao Palácio do Planalto para solução; que reafirma que o alto escalão do governo tinha conhecimento". Cardozo também negou que o governo tenha tido alguma influência sobre a montagem da lista. Depois de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), insinuar que teve seu nome incluído por causa do Executivo, o ministro rebateu: "É absolutamente inverossímil e inverdadeiro, seja qual for a razão que motiva essa afirmação, seja por equívoco, seja para criar uma falsa disputa política, que membros do governo tenham feito qualquer intervenção nesse caso para auxiliar ou para prejudicar quem quer que seja", disse ele. O ministro da Justiça ainda ironizou as críticas que tem recebido por sua atuação nos bastidores da Lava Jato: "Não sei como eu poderia colocar palavras na boca do senhor Paulo Roberto ou do doleiro Alberto Yousseff. Não sei como eu poderia ter esse poder transcendental". O "porquinho" petista José Eduardo Cardozo comentou a demora na escolha do substituto de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. A lacuna na corte tem causado críticas dos próprios ministros, e reforça a tese de que o governo busca um nome para reduzir os danos da Lava Jato. "Ninguém está parado nessa escolha, não há negligencia, há um estudo detalhado daquele que pode ser o melhor nome naquele momento para receber uma investidura. Acho que não demorará muito", declarou.
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