O PSDB emitiu uma nota sobre os protestos do dia 15 para tentar pôr um fim à multiplicidade de vozes sobre o assunto. O texto não toca na palavra “impeachment”, mas deixa claro que nenhum debate é proibido. É curioso. As versões e expectativas sobre a atuação dos tucanos no evento são contraditórias. Os petistas acusam seus principais adversários de estimular o ato e mesmo de promovê-lo, de modo um tanto sorrateiro. Por outro lado, é enorme a legião de inconformados com o que consideram a passividade do partido. Então vamos botar os pingos nos is.
Que fique claro: se o PSDB estivesse estimulando, promovendo ou mesmo financiando os protestos, não haveria nisso nada de errado. É um partido político. Tem o direito de apresentar as suas petições. Tem o direito de mobilizar a sociedade. De legalidade discutível, isto sim, é o ato que a CUT vai promover na sexta-feira em defesa do governo. É uma entidade de caráter sindical, alimentada, inclusive, por um imposto. Existe para defender os interesses das entidades a ela filiadas e seus respectivos trabalhadores — muitos deles, é certo, contrários ao governo.
O petismo tenta colar nos manifestantes de domingo a pecha de golpistas e de inimigos da democracia. É um disparate. Quem pede o impedimento da presidente, pouco importa o que cada um de nós pense a respeito, está se manifestando dentro dos limites do estado de direito. Afinal, a medida é prevista na Constituição e regulamentada por lei.
Muitos podem achar que ainda não é hora de fazer esse debate; que não surgiram provas contundentes contra Dilma, que o expediente é ruim para o país, que haveria uma crise dos diabos pela frente… Os argumentos, em suma, podem ser os mais diversos. Uma coisa, com certeza, é estúpida: afirmar que tal reivindicação é golpe. Isso é opinião de quem odeia a democracia.
O PSDB, definitivamente, não é a força oculta do protesto, como quer o sr. Alberto Cantalice, o vice-presidente do PT com vocação para censor e para policial de consciências. Querem saber? É bom que não seja. Melhor que a sociedade se manifeste, na sua multiplicidade, livre de conduções partidárias. É próprio da democracia que os indivíduos tenham pautas ainda não detectadas pelo radar dos partidos. É um sinal de vitalidade.
Não vejo por que tucanos devam tentar jogar água na fervura, como fizeram alguns. Esse é o trabalho do PT e de seus aliados. Mas acho compreensível a prudência do partido. Por enquanto ao menos, o impeachment não é a hipótese mais provável. Se a reivindicação prosperar e se consolidar — e eu acho que há motivos para isso, já escrevi muitas vezes —, será impossível o partido se ausentar.
Sim, Lula e outros líderes de oposição estiveram em manifestações em favor do impeachment de Collor. O único que chamava os protestos de “terceiro turno” era…. Collor, talvez o criador da expressão. Acreditem em quem viveu intensamente aqueles dias: ainda não há um quase consenso na sociedade semelhante àquele. Mas, por óbvio, isso pode ser construído com debate, com a divulgação da verdade, com esclarecimento, com convencimento.
Querem saber? Acho excelente a notícia de que o movimento de domingo seja de brasileiros sem carteirinha, sem pedigree, sem canga, sem dono, sem coleira, sem arreios. Será uma gente nova a tomar praça. Não será chamada pela imprensa de “movimento social”, essa expressão diante da qual muita gente se ajoelha. Serão, isto sim, movimentos individuais. De indivíduos livres. E é disto que precisamos desesperadamente: de indivíduos. Eles formam a verdadeira sociedade. Por Reinaldo Azevedo
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