Todos os principais indicadores de uma recessão econômica mostraram piora no país entre o final do ano passado e este mês. Ainda que seja cedo para um diagnóstico definitivo, os sintomas mostram uma convergência inédita no governo Dilma. O dado mais recente foi o aumento do desemprego nas regiões metropolitanas --até então, o mercado de trabalho vinha resistindo aos efeitos da deterioração da economia dos últimos meses. A população ocupada - excluindo os desempregados e os que não procuram emprego-- caiu a 52,8% das pessoas com mais de 10 anos de idade, o menor patamar em cinco anos. Formou-se um cenário de retração geral: a indústria, em crise desde 2011, fechou o ano passado com nova baixa do volume de produção; as vendas no comércio, que até então ainda mostravam números favoráveis, tiveram queda recorde em dezembro. De lá para cá, o pessimismo se acentuou, e a confiança apurada em pesquisas com consumidores, varejistas e empresários do setor de serviços caiu ao menor patamar dos últimos anos. Nesta sexta-feira, a Fundação Getulio Vargas divulgou mais um dado negativo: o índice de confiança da indústria recuou 3,4% de janeiro para fevereiro. Na comparação com o período correspondente do ano passado, a queda é de 15,7%. Recessão, diz a teoria, é uma queda intensa, prolongada e generalizada da atividade econômica. Na prática, sua identificação nem sempre é consensual. Em uma convenção adotada internacionalmente, uma recessão é sinalizada por duas quedas trimestrais consecutivas do PIB (Produto Interno Bruto, medida da produção nacional). Não se trata, porém, de uma lei. No ano passado, por exemplo, o PIB brasileiro encolheu no segundo e no terceiro trimestres, mas a recessão não ficou inteiramente caracterizada. Naquele período, a queda do produto não chegou a ser expressiva nem generalizada, e os números do emprego se mantiveram em alta. O panorama atual é outro. Com a reviravolta da política econômica após a reeleição de Dilma, torna-se cada vez mais consensual entre analistas a expectativa de uma recessão mais evidente - e ela pode já ter começado. Em elevação desde 2013, os juros do Banco Central terão de subir ainda mais para conter o consumo e a inflação, agravada pelo tarifaço nas contas de luz. Sob penúria orçamentária, o governo eleva tributos e atrasa gastos com custeio e obras públicas, o que reduzirá ainda mais os investimentos necessários para a ampliação da capacidade produtiva do País. Ainda há pela frente a crise da Petrobras, a greve dos caminhoneiros e a escassez de água e energia elétrica. Tudo somado, calcula-se no mercado que o PIB deste ano encolherá mais que o 0,3% de 2009, ano da última recessão brasileira. A projeção central hoje é um recuo de 0,5%, mas a conta tem piorado a cada semana.
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