O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, relatou, em depoimento prestado no acordo de delação premiada fechado com a Operação Lava Jato, uma operação considerada "suspeita" na qual o ex-presidente da Petrobras, o petista José Sérgio Gabrielli (PT-BA), autorizou a compra de uma refinaria em 2007. Naquele ano, a Petrobras pagou R$ 2,7 bilhões pela empresa petroquímica Suzano. O ex-diretor da Petrobras revelou à força-tarefa da Lava Jato que o valor desembolsado ficou "em um patamar bem superior ao mínimo fixado no 'range', face a uma decisão unilateral do então presidente Sérgio Gabrielli". O ex-presidente não repassou aos diretores, segundo Costa, "maiores detalhes" sobre o negócio. O ex-diretor revelou à Lava Jato que a Gerência Executiva de Novos Negócios e "os bancos que assessoravam a Petrobras na negociação" haviam estabelecido "um 'range', que representaria os limites máximo e mínimo de precificação" da petroquímica. A decisão que levantou as suspeitas, segundo o delator, foi comunicada por Gabrielli aos outros diretores da estatal do petróleo "em uma reunião de caráter interno da Petrobras na cidade de São Paulo, convocada especificamente para tratar da aquisição". Depois a mesma decisão foi "referendada pela diretoria (em uma reunião de cunho formal) e pelo Conselho da Petrobras". Em outro depoimento, Costa também afirmou que o então chefe de gabinete de Gabrielli, Armando Tripodi, concordou que uma CPI recém-criada no Congresso, em 2010, "deveria ser barrada". O ex-diretor contou ter se reunido com o então deputado federal Sérgio Guerra (PSDB-PE), ex-presidente nacional do PSDB, falecido em 2014, e o deputado federal Dudu da Fonte (PP-PE), No encontro, "se discutiu como barrar a CPI para investigar" a Petrobras. Segundo Costa, a CPI "não era de interesse nem da situação nem da oposição", pois se tratava de um ano eleitoral. Costa disse que levou o assunto a Armando, que "concordou" com a ideia de barrar a CPI. Segundo Costa, conforme o resumo do depoimento feito pelo Ministério Público Federal, "o PSDB queria compensação de R$ 10 milhões para barrar a CPI". O ex-diretor então procurou um executivo da Queiroz Galvão, Ildefonso Colares Filho, que depois lhe teria informado que "fez o repasse em favor de Guerra, sem dizer como isso teria sido feito ou quem recebeu o valor". Ildefonso teria comentado com Costa que uma CPI seria "um mau negócio". "Os R$ 10 milhões foram 'debitados' dos recursos a serem recebidos pelo PP dentro do 1% gerido por Paulo Roberto Costa", afirma o resumo do depoimento produzido pelo Ministério Público Federal. Quando indagado sobre a eventual participação de Sérgio Gabrielli nos "repasses de recursos oriundos da Petrobras para políticos", Costa disse acreditar que sim, "em razão de ter sido indicado ao cargo pessoalmente pelo então presidente Lula". Mas ele não apresentou provas documentais da afirmação. Em 2007, ao falar da aquisição da Suzano Petroquímica, Gabrielli disse que o negócio fazia parte da estratégia da estatal de se tornar um ator de peso na petroquímica. Naquele mesmo ano, a Petrobras havia comprado o grupo Ipiranga, em um negócio de US$ 4 bilhões, em associação com Braskem e Ultra. Na época, um comunicado da Petrobras informou: "A aquisição da Suzano contribuirá para garantir os interesses da Petrobras no movimento de reestruturação do setor petroquímico nacional, especialmente no que se refere à consolidação do Pólo Petroquímico do Sudeste, proporcionando condições para o surgimento de empresas nacionais com escala internacional".
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