Forças turcas entraram na Síria durante a noite para resgatar cerca de 40 soldados que estavam cercados há meses por militantes do Estado Islâmico enquanto protegiam o túmulo de uma personalidade turca reverenciada. O governo sírio descreveu a operação como um ato de "flagrante agressão" e disse que responsabilizaria Ancara por suas repercussões. A ação, que envolveu tanques, drones e aviões de reconhecimento, bem como centenas de soldados no solo, foi a primeira incursão de tropas turcas na Síria desde o início da guerra civil no país quatro anos atrás. Os militares disseram que nenhum tipo de combate aconteceu durante a operação, embora um soldado tenha sido morto em um acidente. Os 38 soldados que guardavam o túmulo de Suleyman Shah, avô do fundador do Império Otomano, foram levados em segurança para casa. O túmulo, que está em um local dentro da Síria que Ancara considera território soberano, conforme acordado em um tratado de 1921, foi transferido. Normalmente, o destacamento é trocado a cada seis meses, mas o último ficou preso no local por oito meses por terroristas do Estado Islâmico. O primeiro-ministro Ahmet Davutoglu declarou em uma coletiva de imprensa que a Turquia não pediu permissão ou assistência para a missão, mas informou seus aliados da coalisão contra o Estado Islâmico assim que a ação começou. "Esta foi uma operação extremamente bem-sucedida, com nenhuma perda de nossos direitos sob a lei internacional", disse, ladeado pelo chefe das Forças Armadas e pelo ministro da Defesa. O governo sírio disse em um comunicado que a Turquia poderia ser responsabilizada pela quebra do tratado depois de não conseguir esperar pelo acordo de Damasco antes de executar a operação. O governo turco informou o consulado sírio em Istambul sobre a operação, mas não esperou por um acordo com a Síria, dizia o comunicado, acrescentando que a operação era uma violação do acordo de 1921. Uma fonte da segurança turca afirmou que a operação foi conduzida através da cidade fronteiriça síria curda de Kobani com o apoio das autoridades curdas locais. Forças curdas, apoiadas por ataques aéreos liderados pelos Estados Unidos, retiraram o Estado Islâmico de Kobani no mês passado. O ministério turco das Relações Exteriores declarou que o túmulo foi temporariamente transferido para um novo local dentro da Síria ao norte da aldeia de Esmesi, perto da fronteira com a Turquia. Davutoglu disse que cerca de 100 veículos militares, incluindo 39 tanques, estavam envolvidos na ação que contou com 572 militares, incluindo comandos das forças especiais. Caças turcos estavam em alerta durante a missão, mas não foi preciso acioná-los, afirmou ele. A Turquia tem relutado em assumir um papel ativo na campanha militar liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico, em parte porque o país quer ver a ação militar atingir tanto as forças governamentais sírias quanto os insurgentes. Mas o governo turco disse no final do ano passado que os terroristas do Estado Islâmico estavam avançando sobre o mausoléu, situado às margens do rio Eufrates, feito território turco com o tratado assinando com a França em 1921, quando a França governava a Síria. Davutoglu disse repetidas vezes que a Turquia iria retaliar qualquer ataque ao túmulo, que estava localizado a 37 quilômetros da fronteira da Síria antes de ser transferido durante a noite. "Países que não cuidam de seus símbolos históricos não podem construir seu futuro", afirmou neste domingo. O comunicado do governo sírio disse que o Estado Islâmico não atacou o túmulo "confirmando a profundidade dos laços entre o governo turco e esta organização terrorista". A Síria acusa a Turquia de apoiar os grupos rebeldes que tomaram o controle de amplas áreas do norte e leste da Síria, incluindo o Estado Islâmico. Duas operações foram realizadas simultaneamente como parte do que foi chamada operação "Shah Euphates", disse Davutoglu, uma para Suleyman Shah e a outra para proteger a área em torno de Esmesi. Ele afirmou que os edifícios que ainda restam no local original foram destruídos para impedir sua utilização depois que os restos mortais foram removidos. Soldados turcos hastearam a bandeira da Turquia no local para onde o túmulo foi transferido. Davutoglu declarou que ele seria devolvido ao seu local anterior assim que as condições permitissem. O Estado Islâmico e outros grupos islâmicos, cuja estrita interpretação salafista do Islã considera a veneração de túmulos como idolatria, destruíram vários túmulos e mesquitas na Síria. Suleyman Shah era o avô de Osman I, fundador do Império Otomano em 1299. Viajando pela Síria moderna, ele caiu do cavalo e se afogou no rio Eufrates, perto do local do mausoléu, de acordo com historiadores.
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