As ruas estreitas de Cabo de Santo Agostinho travaram, quatro dias após o início da operação da refinaria Abreu e Lima, com a aglomeração de trabalhadores no pátio do Mercadão, área de comércio popular no centro da cidade, a 20 quilômetros das obras. Cerca de mil trabalhadores – entre eletricistas, montadores de andaimes, soldadores e marceneiros – cercavam os sindicalistas que tentavam justificar o adiamento no pagamento de três meses de salários atrasados. “Queremos a garantia de receber nossos direitos, por que o cálculo das rescisões está errado. A gente quer ir para casa, quer se ver livre disso aqui”, explicou Armando Barreto, de 36 anos. Natural de Belém do Pará, ele expressava a indignação de mais de 4.600 operários demitidos pelo consórcio Alusa em outubro. A assembléia era para homologar as rescisões trabalhistas, condição para o pagamento de benefícios de até R$ 15 mil. Assistidos de longe por dois guardas municipais, os trabalhadores inflamados ameaçaram bloquear a estrada. Muitos aguardavam desde a madrugada e se irritaram com novo adiamento: representantes do consórcio abandonaram o local alegando ameaças à segurança. A empresa alega débitos de R$ 1,2 bilhão da Petrobras e sustou pagamentos de trabalhadores, fornecedores e empresas terceirizadas. São cerca de R$ 130 milhões em dívidas trabalhistas. Nos últimos nove meses, foram mais de 10 mil trabalhadores demitidos em Pernambuco por problemas em outras três empresas subcontratadas da estatal. Com a inadimplência da empresa, os trabalhadores estão ameaçados de despejo. “Será que a Dilma não sabe o que tá acontecendo com a gente?”, duvidou Dernival Oliveira Junior, alagoano de 32 anos, a caminho do alojamento que divide com outros sete operários, no bairro de Garapu. “Ela só não se importa”, retrucou o carioca Jorge Conceição, há quatro anos em Pernambuco. Jorge interrompe a conversa para atender uma ligação da mulher, que não vê há seis meses. Disse para não se preocupar, pois tinha feito um empréstimo com vizinhos para pagar as contas e o supermercado do mês. No alojamento, os operários também dependem de doações de alimentos de igrejas, colegas e do sindicato. “Viemos para trabalhar, não para a humilhação de não saber se tem o que comer ou onde dormir”, diz Valfredo dos Santos, de 37 anos, que enfrenta a situação pela segunda vez em um ano. O alojamento de 60 metros quadrados tem dois quartos, sala, banheiro e cozinha. As camas, armários e ar-condicionado foram retirados pelos responsáveis pelo imóvel e o fornecimento de água foi cortado para pressionar os operários a deixar o local. Para estender a permanência, muitos aceitaram a condição imposta pelos responsáveis do imóvel de fazer reformas nos imóveis. “Isso é trabalho forçado e cárcere privado”, diz o mineiro José Paixão, de 37 anos. A empresa confirma ter contratos com cinco alojamentos, mas alega não ter “nenhuma relação” com as ações de despejo ou relatos de trabalho forçado. “A Alumini vai apurar essa situação com os fornecedores e cobrar explicações”, informou. Na quarta-feira, após cinco horas de audiência, a Justiça do Trabalho celebrou acordo entre a Petrobras, o sindicato de trabalhadores e o consórcio Alusa. Após meses sem assumir os débitos, a estatal depositou cerca de R$ 44 milhões para iniciar o pagamento das indenizações até o dia 19. “Estamos a um ponto do caos total, com trabalhadores queimando ônibus e pousadas. Se acontecer, de novo, quem vai assumir? A responsabilidade é toda da Petrobras, que gerencia a obra, controla cadastros e acessos. Ela não é uma mera contratante, mas age com descaso e manipula as ações judiciais”, diz a procuradora do Ministério Público do Trabalho, Débora Tito.
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