Pois é… Na terça-feira de madrugada, dia 20, escrevi um post cujo título era este:
No corpo do texto, repeti parte do título e avancei.
É claro que, para não variar, andei tomando algumas traulitadas, acusado de pessimismo e outras bobagens. Nesta quarta, Joaquim Levy, ministro da Fazenda, participou de um almoço com investidores em Davos, patrocinado pelo banco Itaú. Disse prever um “crescimento flat” neste 2015. Ou por outra: a economia do país deve ter se expandido coisa de 0,3% no ano passado. Logo, este repetiria aquele, com a mesma melancolia.
Depois Levy concedeu uma entrevista. E aí falou aquela palavrinha que eu havia escrito na terça, para desaire dos puxa-sacos oficiais. Referindo-se a seu pacotaço fiscal, afirmou: “A gente pode ter um trimestre de recessão, e isso não quer dizer nada em relação ao crescimento. Tivemos trimestres de recessão recentemente. A gente teve recessão, deu uma melhorada, e é muito provável que a gente vá continuar subindo”.
Levy é, sim, um homem inteligente, embora eu não o considere um formulador de política econômica. Mas tem pouco traquejo para falar em público. Levada a sua fala ao pé da letra, a coisa não faz sentido. É claro que recessão “quer dizer alguma coisa em relação a crescimento”. Como ele mesmo disse, tivemos trimestres de recessão, e o resultado de 2014 é pífio. E, como se sabe, ainda não deu uma melhorada.
E isso tudo, note-se, antes do pacote recessivo. Assim, eu nada mais fiz do que antecipar o óbvio. Se o crescimento tendia a ser “flat” pré-pacote, é muito provável que haja uma recessão pós-pacote.
Levy deu a declaração porque, concorde-se ou não com ele, tem honestidade intelectual. Mas depois a marquetagem planaltina certamente entrou em ação. Horas mais tarde, ele procurou a imprensa para dizer que havia se expressado mal e que havia empregado de forma inadequada a palavra “recessão”. O certo, disse, seria “contração”.
Há uma querela técnica. Para que se tenha uma recessão, dizem alguns, é preciso que haja dois trimestres seguidos com resultado negativo, e Levy estaria se referindo apenas ao primeiro. Sei. Não sou economista — originalmente, nem Levy é. Lido apenas com lógica. Olho o conjunto de medidas do governo em 2014, com crescimento de 0,3%, e o conjunto de medidas de 2015 e mantenho o meu diagnóstico: haverá recessão neste ano. Tudo indica que Levy concorda.
Ele só não pode ser plenamente sincero em sua função, embora, nesse quesito, ele vença Guido Mantega por 10 a 1, não é mesmo?
Sim, há um forte cheiro de recessão no ar. E Dilma continua sumida. Por Reinaldo Azevedo
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