domingo, 2 de novembro de 2014
A petista Dilma barra pressão de PT e PMDB por cargos
A presidente petista Dilma Rousseff quer ser “mais Dilma” no segundo mandato. Apesar de fazer um apelo pelo diálogo e de prometer “ouvir mais” o Congresso Nacional, após ser reeleita com minguados 51,64% dos votos, que não representam 35% do total de eleitores do País, ela deu sinais de que pretende enfrentar as crises na seara política e as turbulências na economia sem ceder a pressões do PT e do PMDB, nem se importar com o cenário de 2018. Antes de viajar para um descanso de quatro dias na Bahia, Dilma abriu um sorriso ao ler nos jornais que poderia encaixar o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no Ministério da Fazenda. “Eu vou fazer isso, é?”, perguntou ela, rindo, a um ministro do PT. A sugestão da troca do petista Guido Mantega por Henrique Meirelles foi feita pelo ex-presidente e alcaguete Lula (ele delatava companheiros para o Dops paulista durante a ditadura militar, conforme Romeu Tuma Jr. em seu livro "Assassinato de Reputações") a Dilma no início do ano passado, quando o titular da Fazenda passou a ser alvo de fortes críticas vindas de todos os lados. A presidente resistiu porque nunca gostou de Meirelles. Com o apoio do ex-ministro Antonio Palocci, removido da Casa Civil em 2011, Lula tentou emplacar de novo, nos últimos dias, o ex-presidente do Banco Central, mas Dilma não aceitou a indicação. O ex-presidente também sugeriu para o cargo o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e o ex-secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, hoje colaborador do Instituto Lula. Nelson Barbosa é o preferido do PT, mas, se a escolha ficar restrita a essa lista, Dilma tem mais simpatia por Luiz Carlos Trabuco. Em conversas com amigos, o ex-presidente confidenciou estar preocupado com o novo governo de sua sucessora porque acha que depende dela a manutenção do PT no poder a partir de 2019. O alcaguete Lula prevê tempos difíceis pela frente tanto na política, com os desdobramentos da Operação Lava Jato da Polícia Federal e com a candidatura do desafeto Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados, quanto na economia, já que Dilma terá de recorrer a um pesado ajuste fiscal para cortar despesas. “Se ela fizer um segundo mandato igual ao primeiro, sem ouvir ninguém, estaremos perdidos”, disse o ex-presidente para um interlocutor do Rio de Janeiro. Lula se movimenta para ser candidato ao Palácio do Planalto, em 2018, e pretende ter mais influência no governo Dilma, de agora em diante. Ao mesmo tempo, o ex-presidente quer fazer uma profunda reforma no PT, que, no seu diagnóstico, precisa de uma “chacoalhada” porque envelheceu, se distanciou dos movimentos sociais e não soube se defender das sucessivas denúncias de corrupção - desde o escândalo do Mensalão até as acusações de desvio de dinheiro na Petrobrás. Até agora, porém, os “lulistas” no primeiro escalão estão isolados e têm perdido espaço. Homem da confiança do alcaguete Lula, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, já avisou que não permanecerá no cargo no segundo mandato de Dilma e, se ficar no governo, quer ir para a Funai. Para a cadeira de Gilberto Carvalho, a presidente deve escalar Miguel Rossetto, hoje ministro do Desenvolvimento Agrário, com quem ela já trabalhou no Rio Grande do Sul. Organizadora de três jantares no início do ano com empresários e artistas, que acabaram estimulando o movimento “Volta, Lula”, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, irritou Dilma e retornará agora ao Senado. De todas as indicações com perfil mais próximo de Lula, a única que deve ficar no cargo é Miriam Belchior, atual titular do Ministério do Planejamento. O PT, com 17 dos 39 ministérios, reivindicará Cidades, hoje com o PP de Paulo Maluf. Por ter um orçamento polpudo - R$ 26,3 bilhões previstos para 2015 - e ser responsável por obras de saneamento, mobilidade e habitação popular, a pasta é alvo de vários aliados e pode ir para o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. O PMDB, com cinco ministérios (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e Aviação Civil), também quer aumentar sua cota na Esplanada e pede Transportes ou Integração Nacional. Dilma não se mostra disposta a ceder nesse capítulo. Além de driblar projetos no Congresso que, se aprovados, aumentam os gastos e prejudicam as contas públicas, como os de reajuste salarial, a presidente também enfrenta o mau humor dos aliados que perderam a disputa em seus Estados e culpam o governo pelo fracasso nas urnas. “O PMDB saiu dividido da eleição, mas acredito que a presidente entendeu o recado político”, afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que apoiou a candidatura de Aécio Neves (PSDB) ao Planalto. Questionado se o PMDB dificultaria a vida de Dilma no Congresso, Jucá deixou uma dúvida no ar. “A convivência depende de ambas as partes, que podem atrapalhar ou facilitar as coisas”, respondeu.
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