terça-feira, 28 de outubro de 2014

Quero ser governado pela “Vovó Dilma”. Ou: “Não pega porque é do povo brasileiro!”

Bronca da vovó: "Não pega que é do povo brasileiro"
Bronca da vovó: “Não pega que é do povo brasileiro”
Eu sempre fico muito encantado quando políticos decidem mostrar, assim, o seu “lado humano”, especialmente depois de falar com, como direi?, especialistas em imagem. Vi com atraso, mas vi, o perfil de Dilma Rousseff no Fantástico. O vídeo está aqui. A partir dos 9min, vejam lá, a “represidenta” acabou fazendo humor involuntário. Ao comentar a sua doçura de avó, ela contou como é rigorosa em separar o público do privado; ela deixou claro como não mistura as coisas; evidenciou, com terna gravidade, que, com ela, as duas esferas não se confundem. Afinal, isto é uma República! E como ela deixou isso claro? Com a fábula contada sobre o netinho, Gabriel, de 4 anos. Disse a presidente que, no andar térreo do Palácio do Alvorada, só há coisas públicas, inclusive uma bola de cristal — que certamente não anda a mostrar o futuro… — na qual o garoto gosta de mexer. Mas a avó não deixa, não! De jeito nenhum! E ela reproduz, então, a conversa que tem com o infante: “Não pega que é do povo brasileiro. Ele tem medo do povo brasileiro atualmente. Acha o povo brasileiro perigosíssimo (…) Ele adora pegar a bola de cristal, mas o povo brasileiro não deixa”.
Huuummm…
Já sei! Vamos criar, então, a “Lei Gabriel” do governo Dilma, não é? Quero ser governado, entre 2015 e 2018, pela Vovó Dilma. Em que consiste? A “nona” vai demitir todos os apaniguados das estatais. Os cargos de direção só serão exercidos por técnicos de carreira, independentemente de suas vinculações partidárias. Imaginem se a doce senhora decidisse que as estatais só seriam governadas segundo o lema da avó: “Diretor, não pega que é do povo brasileiro”. E se a presidente Dilma, em vez de ter nomeado Nestor Cerveró diretor financeiro da BR Distribuidora, tivesse dito à turma da Petrobras: “Não pega porque é do povo brasileiro”? Imaginem se aquela multidão que exerce cargos de confiança nas estatais, nas autarquias, na administração direta e indireta… Imaginem se essa gente toda tivesse do “povo brasileiro” o medo que, segundo Dilma, tem Gabriel. Seria muito bom que esses valentes também considerassem “perigosíssimo” esse “ente” chamado… “povo brasileiro”.
Ocorre que assim seria se assim fosse. Dilma só passou a admitir que algo de errado havia acontecido na Petrobras quando o seu marqueteiro lhe apresentou números evidenciando que o escândalo na Petrobras poderia lhe tirar a reeleição; quando estava claro, por A mais B que, a coisa, como se diz, “havia pegado”; quando se tornou evidente que o tal “povo brasileiro” — que não é dono só daquela bolota de cristal do palácio, mas também da Petrobras — estava mesmo indignado. Antes disso, Dilma preferiu adotar o discurso fácil e mentiroso de que criticavam os desmandos na estatal só os que queriam privatizá-la. Pessoalmente, eu não veria nada demais que a vovó Dilma fosse um pouco mais relaxada com a criança. Aos quatro anos, Gabriel não ameaça o povo brasileiro, por quem, acho, tem de ser estimulado a sentir amor, não medo. Já a administração pública, ah, esta sim…
A presidente poderia, por exemplo, não ter usado o Bolsa Família para ganhar votos e, pior de tudo, tomar votos. Seu lema, em relação a uma política de Estado, poderia ser este: “Não pega porque é do povo brasileiro”. Dilma me obriga a encerrar assim: ela pode ser mais presidente, isto é, mais permissiva, com o seu netinho. E que seja mais vovó com a coisa pública: “Não pega porque é do povo brasileiro”. Por Reinaldo Azevedo

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