Lideranças petistas de São Paulo acreditam que a presidente Dilma Rousseff precisará fazer concessões para conduzir a economia, o que incluiria um nome mais palatável ao mercado e ao setor produtivo no comando do ministério da Fazenda. Essa visão, dizem, reconstruiria a credibilidade da presidente e contribuiria para a retomada dos investimentos e do crescimento econômico. Na missão de achar o que alguns chamam "do Meirelles da Dilma", afirmam que o ex-presidente e alcaguete Lula (ele delatava companheiros para o Dops paulista durante a ditadura militar, conforme Romeu Tuma Jr, em seu livro "Assassinato de Reputações") deve ter papel relevante. Os interlocutores reforçam que o fato de a reeleição ter sido obtida com dificuldade torna urgente a retomada do diálogo entre Dilma e os setores econômicos. Não à toa, a presidente assim que reeleita falou em construir as pontes para a recuperação econômica. Para o PT, a importância de costurar um entendimento com a sociedade em geral é fundamental para a continuidade do projeto de 2018, liderado por Lula. Os nomes ventilados até o momento para a Fazenda - Luiz Carlos Trabuco, Henrique Meirelles e Nelson Barbosa - são figuras que Lula gosta e costuma defender. Além disso, tiveram boa aceitação nos mercados, tendo em vista a reação positiva dos ativos nesta terça-feira. O atual chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também é cotado. As fontes ligadas ao PT de São Paulo tomam o cuidado de ponderar, entretanto, que, apesar da participação do ex-presidente na composição do ministério, Dilma dará a palavra final. A decisão da presidente só deve vir após seu período de descanso de 4 ou 5 dias na Bahia, a partir deste final de semana.
Para um dirigente petista próximo a Dilma, Lula "será ouvido e aconselhará" na escolha do novo ministro. "Ela vai consultá-lo, mas quem definirá será a presidente", afirmou. Já na avaliação de fonte bastante ligada a Lula, uma indicação do ex-presidente para o cargo de ministro da Fazenda "é muito importante. Diria definitiva", comentou. "Lula pensa em composição e certamente tem em sua mente nomes que poderiam ajudar o novo governo na gestão da economia", comentou. O presidente nacional do partido, Rui Falcão, já sinalizou que aceitaria um nome de fora da sigla para comandar a Fazenda, embora tenha ponderado que "a linha econômica tem que ser mantida" e que o partido precisa ser ouvido nas decisões. A grande dificuldade de reeleição da presidente foi uma consequência da sua falta de interlocução com muitos setores da sociedade, como movimentos sociais, trabalhadores e empresários, além do seu estilo autossuficiente, avaliou uma fonte próxima a Lula. Em função disso, uma das principais lições que o medo da derrota deve inspirar a Dilma é que precisa adotar uma postura mais flexível e conciliadora para governar no segundo mandato. Lula gosta de apertar a mão das pessoas e sente satisfação em conversar com os interlocutores, inclusive dirigentes de companhias. No caso de Dilma, esse diálogo foi bem mais raro. "Ganhamos as eleições, mas foi difícil de emplacar a candidata para boa parte da sociedade", comentou a fonte. No dia seguinte à eleição, Rui Falcão reconheceu a importância do ex-presidente Lula no novo governo, inclusive para lidar com as dificuldades políticas que virão com a nova composição do Congresso. O presidente petista disse que "ninguém recruta o Lula", mas ressaltou que o ex-presidente terá um papel importante no próximo governo. "Ele vai ajudar muito", afirmou, referindo-se às possíveis dificuldades de articulação política. A presença de Lula no palanque da vitória ao lado de Dilma já sinaliza a disposição de influenciar mais sua afilhada política neste segundo mandato e consolidar seu nome para 2018. Em 2010, quando teria tudo para celebrar a vitória de sua sucessora, Lula preferiu se recolher e disse que a "festa era dela". Já em 2014, o ex-presidente, fundador do partido e seu maior símbolo, mudou a estratégia e decidiu participar da comemoração que trouxe o discurso de "diálogo" e "mudança".
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