O acionamento constante das termelétricas para garantir a oferta de energia e preservar minimamente os reservatórios das hidrelétricas está levando essas usinas à exaustão operacional. Para evitar panes, processos de manutenção e de troca de peças, até então planejados para ocorrer apenas daqui a sete ou oito anos, passaram a ser feitos a toque de caixa, sob pena de uma súbita parada dessas usinas térmicas. Na última segunda-feira, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por gerenciar a rotina diária de oferta de energia, deveria ter à disposição um total de 22,1 mil megawatts (MW) de energia térmica para distribuir em todo o País. Mas teve de abrir mão de 5.636 MW por causa da necessidade de manutenção, troca de máquinas, peças e demais restrições operacionais. Esse corte diário de 25% da oferta da geração térmica, média que tem se repetido nos últimos 18 meses, equivale a nada menos que toda a energia a ser entregue pelas hidrelétricas de Jirau (2.184 MW), Santo Antônio (2.424 MW) e Teles Pires (915 MW). Trata-se de um volume de energia suficiente para abastecer diariamente 23,7 milhões de residências, ou cerca de 90 milhões de pessoas, quase metade da população do País. A causa das paralisações está diretamente ligada às limitações técnicas dessas usinas, que não foram projetadas para entregar o volume de energia demandado, afirmam especialistas e empresários do setor. Essas restrições operacionais não são mera casualidade. Na realidade, se baseiam no modelo de contratação de energia feito pelo governo. Até 2012, as térmicas - principalmente aquelas movidas a óleo - só entravam em operação em situações emergenciais para cobrir, por exemplo, a paralisação de grandes hidrelétricas ou para preservar os reservatórios de água. Mas apenas em períodos curtos. Nos últimos dois anos, porém, elas quase não pararam de trabalhar.
“Nossa usina foi concebida para operar entre 8% e 10% do ano, mas tivemos que trabalhar 70% do tempo do ano passado. E seguimos neste ritmo em 2014”, diz Gustavo Dolabella, diretor financeiro da termelétrica Suape II, em Pernambuco. A usina de 381 MW, controlada pela Petrobrás, tem 19 turbinas movidas a óleo. O fato de uma térmica operar a plena carga não significa aumento de ganho financeiro ao seu dono. Pelo modelo de contratação dos leilões de energia, os proprietários dessas usinas são remunerados mesmo quando elas estão paralisadas. Mas eles se comprometem a garantir o abastecimento imediato de energia, sempre que necessário. Com o uso intensivo das turbinas, o que os empresários do setor mais ganham, na realidade, são custos pesados com combustível e demais gastos operacionais, para manter a estrutura em funcionamento. Por isso, dizem os especialistas, muitas térmicas chegam a correr o risco de fechar o ano com saldo negativo, apesar de trabalhar a plena carga. “Ainda que informalmente, temos procurado conversar com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a respeito desse problema. Há uma compreensão sobre a necessidade de se discutir isso”, diz Benjamim Costa, diretor técnico da Termocabo, usina de 49 megawatts instalada em Cabo do Santo Agostinho, no litoral de Pernambuco. Atualmente, a geração térmica tem respondido por 25% do consumo de energia do País. Para dar a dimensão do que isso significa, em outubro de 2011, quando não havia sinais evidentes da crise hídrica, a participação da térmicas na geração total estava na casa dos 9%. Esse índice saltou para 22% em outubro de 2012, chegando a 20% um ano atrás. Dada a situação absolutamente crítica dos principais reservatórios do País, não há sinais de que a geração térmica será aliviada nos próximos meses, mesmo com a chegada do período chuvoso na maior parte do País. Dos 23 maiores reservatórios do País, dez já registravam na terça-feira um volume acumulado de água inferior a 20% de sua capacidade total. E essa lista tende a aumentar nas próximas semanas.
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