O cenário externo nesta quarta-feira não foi dos mais hospitaleiros, como vocês poderão constatar caso pesquisem — com dados não muito estimulantes das economias alemã e americana —, mas o que teve peso definitivo no mau humor dos mercados no Brasil foi mesmo o quadro eleitoral. Mais uma vez, aconteceu o que já virou rotina: sobe a possibilidade de Dilma ser eleita, descem a Bolsa e o real. O dólar à vista fechou em alta de 1,37%, cotado a R$ 2,487; o comercial subiu 1,46%, a 2,485, maior patamar desde 8 de dezembro de 2008. O Ibovespa fechou em baixa de 2,32%. Quem puxou a queda? As ações da Petrobras: as PN caíram 5,53%, e as ON, 4,93%. Nesta semana, a Bolsa acumula perdas de 7,6%.
Escrevi na terça-feira que existe, sim, um movimento especulativo em curso. Ocorre que movimentos especulativos não existem por acaso. Quando os governos são fracos, trapalhões ou incompetentes, fica mais fácil criar climas artificiais. É da natureza do jogo. Quando lideranças políticas relevantes são irresponsáveis, os “espertos” sempre saem ganhando, contra o interesse coletivo.
E este é, precisamente, o caso do Brasil: a soma de um governo incompetente com a discurseira oca de falastrões. Na terça-feira, num discurso em Itapevi, em São Paulo, Lula, o Babalorixá de Banânia, que jamais cumpriu a promessa de ir cozinhar coelho em sua chácara, disparou: “Hoje eu ouvi dizer que o mercado está nervoso porque a Dilma vai ganhar. Ganhei em 2002 e 2006 e não pedi voto para o mercado. Dilma ganhou em 2010 e não pediu voto pro mercado. A gente pede voto é pras pessoas”.
A afirmação é mentirosa de cabo a rabo. Lula fez mais do que pedir voto para o mercado em 2002. Ele se ajoelhou diante dele. Tanto é que seu partido redigiu a “Carta ao Povo Brasileiro” — texto escrito, diga-se, num banco de investimento e, saibam, com a supervisão tucana. Um dia essa história virá à tona direitinho. Em 2006 e em 2010, o PT não precisou “pedir” o voto do mercado porque já o tinha. Como Lula vive declarando, e é verdade, nunca antes na história “destepaiz” o setor financeiro havia lucrado tanto.
Assim, registre-se, então, a mentira contada por Lula. Mas não só: das quatro últimas jornadas eleitorais petistas, esta é aquela em que o partido faz o discurso mais bucéfalo, mais atrasado. Em 2002, o Apedeuta se ocupava de provar que era o “Lulinha Paz e Amor” inventado por Duda; agora, Dilma resolveu brincar de esquerdista autêntica. Em certa medida, é tudo mentira. Essa gente é mais incompetente do que propriamente esquerdista. E, bem, o esquerdismo é a pior forma de incompetência, e a incompetência, a pior forma de esquerdismo.
O mercado põe preço nas bobagens que vêm sendo ditas por Dilma e nas boçalidades vocalizadas por Lula, mesmo não acreditando nas bravatas. Há especulação? Há, sim. Mas ela só prospera porque há um governo incompetente e trapalhão, que tenta transformar sua inabilidade em ideologia. Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário