O mistério sobre Olívio Dutra
Luis Milman
As recentes revelações sobre a existência de uma família oculta no Uruguai, do candidato ao senado Olívio Dutra, feitas pelos jornalistas Vitor Vieira e Políbio Braga, têm gerado uma velada, mas, ainda assim, vasta repercussão. O assunto tornou-se obrigatório entre a companheirada petista e seus aliados de campanha, todos temerosos de que algum concorrente do Galo Missioneiro à vaga ao senado desafiasse o ex-governador a explicar como conseguiu esconder do público, por mais de três décadas, os filhos Ana Ines e Rodrigo Alberto, que teve, na moita, com a uruguaia e ex-tupamara Ines Graciela Albenenda Buzo, em 1983 e 1984, em Porto Alegre. Todos vivem, desde 1985, em Montevidéu. Ninguém sabe como nem porque Olívio Dutra sustentou esta prole na clandestinidade por tanto tempo. Nem que tipo de relação ele mantém com os filhos não-reconhecidos até hoje, se é que alguma relação existe. O que se sabe é que o segredo, compartilhado durante anos apenas pelo círculo petista mais fechado, esfarelou-se. E que o ex-governador continua a fazer de tudo para manter o assunto encoberto por um véu de silêncio. Certamente Olívio não quer ou não pode enfrentar o tema que, para ele, tornou-se uma fantasmagoria. Afinal, como alguém que, ao longo de toda a vida pública, sempre se apresentou como pai de apenas dois filhos, conseguiria subitamente admitir que possui, na verdade, mais dois e, mais grave, que os manteve incógnitos, sabe-se lá de que forma, em outro país por tanto tempo? Descontados aqueles que justificam quaisquer desvios de caráter com argumentos desprezíveis, é difícil encontrar alguém que considere aceitável que um homem deixe de reconhecer os próprios filhos quando sabe que são seus. O caso é mais grave ainda quando se trata de um ex-governador e, agora, pretendente ao Senado que, há apenas poucos dias, declarou preocupar-se radicalmente com os direitos das mulheres. Olívio esqueceu, ao que parece, de sua própria história com Ines Graciela ou da história pessoal da filha Ana Ines que, ao longo de seus 31 anos, não pode dizer quem é seu pai. Os detalhes sobre a relação que Olívio manteve com a mãe de seus filhos uruguaios ao longo do tempo não são plenamente conhecidos, mas já se descobriu que ela enviava emissários a Porto Alegre, secreta e periodicamente, ao longo dos anos, para tratar de questões relevantes para família oculta. Ou seja, Ines Graciela sempre manteve contato com Olívio e, por alguma razão, aceitou a clandestinidade para seus filhos. Mesmo depois de revelada a história, o senhor Olívio Dutra fechou-se em copas. Ele nem sequer respondeu às perguntas, que elucidariam o assunto, enviadas há mais de dez dias para sua página de campanha no Facebook. Sua assessoria pessoal optou por abafar o caso e recomendar que Olivio Dutra assumisse uma postura escapista. Ou seja, que se fingisse de morto, pelo menos até o dia das eleições, para salvar sua candidatura de uma exposição ainda mais danosa à imagem de homem público íntegro que ele sempre procurou projetar. Um verdadeiro Catão gaudério, só que, agora, com o risco de tornar-se desnudo, como as notícias dos últimos dias revelaram. Por ora, apesar de ser um dos temas mais discutidos nas redes sociais e junto aos partidos políticos, o silêncio de Olívio Dutra tem sido respaldado pela mídia tradicional, que finge ignorar o tema, evitando, assim, desfiar relações enoveladas e meter-se se no centro de um potencial escândalo sobre o candidato petista às vésperas das eleições. A mídia tradicional chama esta postura de cautelosa. Mas, em verdade, trata-se da tática do acobertamento de fatos de matriz privada que, se trazidos a público, poderiam causar danos não apenas ao candidato petista, mas também e potencialmente a seus concorrentes. Em outras palavras, cautela excessiva se transforma em covardia e complacência diante de uma notícia politicamente bombástica. Diga-se, aliás, que o PT de Dutra tem, há bastante tempo, esse efeito sobre a grande mídia, especialmente a regional. As conhecidas diatribes de seus integrantes, inclusive as de Olívio, na época em que era governador, foram sempre objeto de abafa inicial e ceticismo, por mais que se avolumassem evidências de tramóias no tempo de seu governo. Basta lembrar a época da CPI da Segurança Pública. Foi necessário que a gravação da voz do fiel escudeiro de Olívio, Diógenes de Oliveira, idealizador e CEO do Clube da Cidadania, ecoasse em meio a deputados atônitos, solicitando que o Chefe de Polícia de então aliviasse com os bicheiros do Rio Grande para, somente assim, se abrirem as comportas da imprensa local para a enxurrada de denúncias sobre as relações do governo do petista com a jogatina. O caso envolvendo o ex-governador numa sombria relação com uma ex-militante tupamara, no início dos anos 80, da qual resultaram dois filhos, tem merecido tratamento idêntico. Ou seja: silêncio, ainda que, à boca pequena, a história corra solta. A grande mídia fez do affair da segunda família de Olívio um tabu, pelo menos até aqui. Tocar no assunto, dizem nos bastidores da imprensa, seria invadir a privacidade do ex-prefeito de Porto Alegre e poderia ser entendido como favorecimento a outras candidaturas. Nada mais falso. Todos têm o direito de conhecer aspectos opacos da vida particular de alguém que postula um cargo eletivo, ainda mais quando esses aspectos foram mantidos em segredo máximo por décadas. Ninguém ainda questionou o ex-governador sobre as consequências de seu caso com a ex-tupamara, que são, sem dúvida, de interesse público. Afinal, um político não tem apenas o dever de parecer probo e sincero, mas de provar que de fato o é, quando confrontado com obscuridades da sua vida. Especialmente quando fatos revelados apenas pela imprensa combativa desmentem suas afirmativas sobre a família e os direitos das mulheres, entre eles o de terem seus filhos reconhecidos pelos pais. Quem se diz transparente não pode afirmar, durante décadas, que possui apenas uma família, quando, na realidade tem uma segunda, paralela e sigilosa. Afinal de contas, é impositivo que se saiba quais são as razões do hoje candidato petista ao senado para esconder dos gaúchos seus herdeiros uruguaios por tanto tempo. Assim, mais do que nunca, agaurdam-se as explicações do senhor Olívio Dutra.
Um comentário:
Não voto no RS, assim, não apoiaria o Bigodudo de forma alguma. Mas creio que a revelação dos filhos não reconhecidos veio junto com outro detalhe que não está tendo o devido cuidado por parte da imprensa. A atuação, no RS, dos grupos que apoiavam a luta armada, lá e aqui.
Leia mais em mujahdincucaracha.blogspot.com/2014/09/guerra-de-bugios-na-eleicao-gaucha.html
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