Grandes empresas no Brasil, incluindo varejistas e montadoras de veículos, estão demitindo funcionários por causa dos prognósticos ruins da economia, em um desafio para a campanha de Dilma Rousseff à reeleição. As demissões não são novidade na indústria. Desde o ano passado, postos de trabalho têm sido cortados em vários setores, desde o têxtil até a siderurgia, por causa do fraco crescimento econômico, da inflação alta e do dólar baixo. Mas agora as demissões alcançam
setores como o comércio, construção e indústria de alimentos, que estiveram entre os maiores geradores de emprego ao longo da década passada e são menos expostos à conjuntura internacional. Somente o varejo perdeu mais de 78.000 empregos em termos líquidos – já descontando novas contratações – nos sete primeiros meses do ano. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado pelo Ministério do Trabalho, foram criados em média 41.000 empregos no mesmo período dos três anos anteriores. As montadoras de veículos, que estiveram entre os segmentos que mais ganharam com o forte crescimento do Brasil na década passada, também têm demitido milhares de funcionários com a queda da produção. Em julho, o Brasil gerou menos de 12.000 postos de trabalho, o pior desempenho para o mês em quinze anos. O número insuficiente para absorver o crescimento da população mostra que, ao longo do tempo, a taxa de desemprego deve voltar a subir. Por ora, grandes empresas têm evitado demissões em massa. Mas as companhias já vêm cortando algumas centenas de postos por vez ou deixando vagas ociosas, o que, aos poucos, contamina a confiança do eleitorado e o debate político. "Esse tipo de informação, se chegar ao eleitor, pode criar uma apreensão em relação ao que vai acontecer com o mercado de trabalho daqui para frente", disse o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro: "A probabilidade de que notícias ruins sobre emprego pipoquem no noticiário é relativamente alta. Não dá para fazer nenhuma injeção de recursos para evitar isso em dois meses". As demissões têm se espalhado entre grandes empresas do Brasil. A rede varejista Grupo Pão de Açúcar (GPA), maior empregadora do País no setor privado, eliminou cerca de 3.000 postos entre abril e junho, maior corte trimestral em mais de quinze anos. O GPA encerrou as atividades 24 horas nos supermercados em abril e tem fechado lojas de eletrodomésticos desde a fusão que criou a Via Varejo. No primeiro teste do comércio após a Copa do Mundo, as vendas de Dia dos Pais caíram pela primeira vez em cinco anos. "Se a situação grave que estamos vivenciando nesse ano se aprofundar, janeiro vai ser o mês das dispensas mais numerosas da história do nosso comércio", disse Patah. O ex-presidente do grupo GPA e atual presidente do Conselho de Administração da BRF, Abilio Diniz, também promoveu cortes na maior exportadora de aves do mundo. A tarefa foi cumprida pelo presidente-executivo da empresa, Claudio Galeazzi, apelidado de “mãos de tesoura” pelas demissões que realizou em outras companhias como Lojas Americanas e a fabricante de cerâmicas Cecrisa. Como parte do plano para modernizar operações e aumentar a produção no exterior, a BRF reportou 73 milhões de reais em custos de rescisões no segundo trimestre relacionados a “ajustes no quadro de funcionários”. A construção civil, onde em média foram criados cerca de 200.000 empregos ao ano nos últimos três anos, gerou apenas18.000 vagas nos últimos doze meses. Empreiteiras e construtoras diminuíram o número de novos projetos diante da baixa procura. A regiões com pior desempenho no setor foram Bahia e Pernambuco, onde as empresas já cortaram mais de 14.000 postos neste ano. O lançamento de novos projetos imobiliários no Brasil, importante indicador antecedente de empregos na área, caiu 25% no segundo trimestre sobre um ano antes entre as construtoras e incorporadoras listadas na Bovespa. Mesmo nos setores aos quais Dilma tem oferecido subsídios há anos, a maré está mudando no pior momento possível. As montadoras de veículos, que representam um quinto da produção industrial brasileira e vêm se beneficiando de cortes de impostos e crédito mais barato, reduziram sua mão de obra em quase 5% de janeiro a julho diante do encolhimento da demanda doméstica e da queda das exportações. Empresas como Volkswagen e Peugeot Citroen têm reduzido a produção de carros com férias coletivas e programas de demissão voluntária.
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