Dilma Bolada, o alter ego descolado de Dilma Rousseff, parece que continua no comando. No Rio Grande do Sul, ela concluiu que, atrás de uma criança, há sempre um cachorro. O que pretendeu dizer com aquilo permanece um mistério, e duvido que vá ter tradução algum dia. Nesta segunda, ela esteve em Itajubá, em Minas, estado de origem de Aécio Neves, um dos pré-candidatos do PSDB à Presidência. E voltou a refletir em voz alta — e, tudo indica, sem o planejamento do marketing. Afirmou o seguinte, segundo transcreve o Estadão Online:
“Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente. Eu sou presidente e não fico tratando… Para mim não é problema a eleição agora (…). Acredito que, para as pessoas que querem concorrer ao cargo, elas têm de se preparar, estudar muito, ver quais são os problemas do Brasil. Eu passo o dia inteiro fazendo o quê? Governando.”
Ai, ai…A revelação certamente mais surpreendente, se a gente se atém apenas ao sentido das palavras, é mesmo esta: “Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente”. Em si, trata-se de uma tolice. Mas é preciso ir um pouquinho além. O que vai nessa tautologia ultrapassa o limite da bobagem e expõe uma cultura política autoritária. Há nisso um eco inequívoco de Lula. Desde que ele chegou ao poder, em 2003, trata a Presidência da República com uma espécie de recompensa natural, à qual o PT teria direito por ser… o PT! Sendo ele quem é no partido, mais de uma vez, tratou o cargo como se fosse mesmo matéria de justiça histórica — como se o Brasil lhe devesse essa recompensa. Lula já fez isso no passado: “Olhem, o Serra está querendo o que nos pertence… Olhe, o Alckmin está querendo o que nos pertence…”. Nesta segunda, foi a vez de Dilma. O que ela pretende caracterizar com essa fala é que todas as críticas de que possa ser alvo derivam do fato de que “há gente querendo o meu [dela] lugar”. Ora, numa democracia, é assim mesmo que funciona: as oposições se organizam para tentar conquistar o poder, que está com os adversários. Com essa fala aparentemente besta, mas metódica, o que se pretende é demonizar os críticos, que seriam, então, meros oportunistas, tentando tomar o que a ela pertence por direito. Há também a evidente desqualificação dos adversários, que não teriam estudado o Brasil o bastante e estariam, depreende-se, despreparados para governar. Aécio Neves reagiu com uma nota: “A presidente Dilma é sempre muito bem vinda a Minas, como é natural da hospitalidade mineira, mesmo não tendo, mais uma vez, trazido respostas para importantes demandas do nosso Estado que estão sob responsabilidade do governo federal. (…) Se não tivesse se afastado por tantos anos de Minas, a presidente, e não a candidata, talvez estivesse apresentando respostas a essas demandas”. Marina Silva ironizou: “Acho que ela dá um conselho muito bom porque aprender é sempre uma coisa muito boa. Difícil são aqueles que acham que já não têm mais o que aprender e só conseguem ensinar”.
Pois é… Uma resposta tem um desnecessário sotaque regional — e a disputa, não custa lembrar, é nacional. Marina também não é o melhor exemplo, e deu mostras disso de sábado retrasado para cá, de pessoa disposta a aprender. Dilma, por seu turno, está em franca campanha eleitoral faz tempo — como evidencia de modo escancarado o programa “Mais Médicos”… A sucessão já está aí, florescendo num impressionante deserto de ideias. Por Reinaldo Azevedo
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