domingo, 29 de setembro de 2013

CAMPANHA DE DILMA ROUSSEFF USOU CADASTRADOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA COMO CABOS ELEITORAIS EM 2010, E PAGOU COM DINHEIRO DE CAIXA DOIS

Moradora de Campo Verde (MT), a cozinheira Sebastiana da Rocha, de 33 anos, trabalhou no segundo turno das eleições de 2010 como cabo eleitoral da campanha da petista Dilma Rousseff. Ela diz ter recebido R$ 600,00 pela distribuição de panfletos, mas não sabia que, na ocasião, havia se tornado uma doadora da campanha.  Em julho passado, ela foi surpreendida com um telefonema do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo programa Bolsa Família, do qual é beneficiária. A pasta recebera denúncia segundo a qual Sebastiana havia doado R$ 510,00 à campanha de Dilma Rousseff e queria questioná-la a respeito disso. No dia seguinte ao telefonema, uma assistente social foi à sua casa e confirmou que ela se enquadrava nos limites de renda do programa: "Achei isso um constrangimento. Estava parecendo que eu era um bandido que estava ali sendo investigado". Somente depois disso ela entendeu: havia sido registrada como trabalhadora "voluntária" do segundo turno da campanha, por isso aparece como doadora na prestação de contas. Assustada com o caso, registrou boletim de ocorrência na polícia e fez denúncia ao Tribunal Regional Eleitoral na qual declara que não fez doação nenhuma. "Nunca me falaram sobre isso. Simplesmente lá a gente assinou contrato de prestação de serviço. Li folha por folha e não dizia nada de trabalho voluntário". Sebastiana diz que estava desempregada na época e aceitou convite de trabalho feito por uma amiga. "Gastei o dinheiro com alimentos, luz e água". Cabos eleitorais da presidente Dilma Rousseff que aparecem como "voluntários" na prestação de contas de campanha de 2010 afirmam que receberam dinheiro pelo trabalho realizado no segundo turno da eleição. A reportagem do jornal Folha de S. localizou 12 pessoas em Mato Grosso e no Piauí que dizem nunca ter atuado de graça, apesar de serem tratadas como prestadores de serviço sem remuneração nos papéis entregues pela campanha ao Tribunal Superior Eleitoral. O motoboy Fernando Araújo Matos, de 23 anos, de Teresina (PI), é um desses "voluntários" de Dilma. Ele rodava a cidade em sua moto carregando bandeiras da candidata do PT. "No segundo turno fiquei só com a Dilma. Recebi R$ 300,00 e o tanque de gasolina". O nome dele e de outros cabos eleitorais aparecem em declarações individuais de "trabalho voluntário" assinadas, nas quais eles atestam estar cientes da "atividade não remunerada". As declarações fazem parte da documentação entregue à Justiça Eleitoral, que considera "doador" quem presta serviço "voluntário". A Folha identificou ao menos 43 "trabalhadores voluntários" na prestação de contas da campanha, totalizando "doações" de cerca de R$ 20 mil. No grupo estão os 12 localizados pela reportagem. Efetuar pagamentos de campanha e não declará-los é crime de caixa dois. O PT nega a prática e diz que suas contas foram aprovadas. No total, a campanha da atual presidente registrou arrecadação de R$ 135 milhões e despesas de R$ 153 milhões. Nas entrevistas com os cabos eleitorais, a Folha mostrou cópias das declaração de "trabalho voluntário". A maioria confirmou a assinatura, mas disse não ter lido o documento antes. "O trabalho não foi de graça. Não sou otário para trabalhar de graça", disse Mariano Vieira Filho, que atuou como motoboy no Piauí. Já Luís Fernando Barbosa Nunes, de 25 anos, também motoboy na campanha de Dilma em Teresina, disse que sua assinatura foi falsificada no documento entregue ao Tribunal Superior Eleitoral. "Nunca ia assinar meu nome errado. Está escrito Luís com z e eu não escrevo assim". Em Cuiabá, a tecnóloga em segurança do trabalho Cristine Macedo, de 48 anos, diz ter ganho cerca de R$ 600,00 para panfletagem: "As pessoas que trabalharam precisavam do dinheiro. Eu trabalhei pelo dinheiro. Se falar em voluntário, ninguém vai trabalhar". Nas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral não há registro de pagamento a nenhum deles no segundo turno. No primeiro turno, todos trabalharam para candidatos do PT ou aliados nos Estados e foram registrados como prestadores de serviço. No segundo turno, viraram "voluntários" de Dilma.

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