domingo, 4 de agosto de 2013

CRISE NA FERRARI PODE GERAR MUDANÇAS GRANDES NA EQUIPE

Depois de quatro dias de testes em Barcelona, na pré-temporada, em fevereiro, Fernando Alonso, relaxado, comentou: “Vamos começar o campeonato com uma base muito melhor que a do ano passado”. Pilotar o modelo F138 o deixou confiante. “Se em 2012 iniciamos o ano com um carro que não conseguia chegar no Q3 (os dez primeiros na classificação para o grid) e no final disputamos o título, penso que desta vez nossas chances são ainda melhores de lutarmos pelo Mundial". O espanhol lançou sobre si responsabilidades ainda maiores das existentes para um piloto da Ferrari e tendo sido já duas vezes campeão do mundo, ainda que por outra equipe, a Renault, em 2005 e 2006. Mas, após o GP da Espanha, quinto do calendário, realizado dia 12 de maio, os resultados comprovavam a projeção de Alonso. Ele venceu a corrida no Circuito da Catalunha e passou a ocupar a terceira colocação do campeonato, com 72 pontos, diante de 89 de Sebastian Vettel, da Red Bull, o líder, e 85 de Kimi Raikkonen, Lotus, segundo. Apenas 17 pontos separavam Alonso do primeiro lugar do Mundial. E para ratificar a condição de postulante ao título da Ferrari, Felipe Massa, companheiro de Alonso, terminou o GP da Espanha na terceira colocação. “Estamos na luta, mas será importante melhorarmos nosso carro nas sessões de definição do grid. Apenas dispor de um equipamento veloz, confiável e capaz de administrar bem o desgaste dos pneus pode não ser suficiente para chegarmos nas etapas finais na condição de podermos ser campeões”, afirmou Alonso. A realidade da Ferrari hoje, contudo, depois de dez provas, é bem distinta da imaginada por Alonso e, curiosamente, pior que no ano passado, quando as idéias revolucionárias incorporadas no modelo F2012 exigiram seis, sete corridas para torná-lo minimamente competitivo. Enquanto na mesma altura do campeonato do ano passado, depois do GP da Hungria, Alonso liderava com 164 pontos seguido por Mark Webber, Red Bull, 124, e Sebastian Vettel, parceiro de Webber, 122, agora o espanhol da Ferrari assiste a Vettel distanciar-se, em primeiro, a cada corrida. O tricampeão do mundo lidera o Mundial com 172 pontos seguido por Kimi Raikkonen, da Lotus, 134, e só então aparece Alonso, com 133. A diferença para Vettel é de 32 pontos, superior ao distribuído por uma vitória, 25 pontos. Para lembrar, em 2012 Alonso tinha vantagem e não desvantagem para Vettel de impressionantes 42 pontos. Esses números são conclusivos: o grupo de engenheiros coordenado pelo projetista Nikolas Tombazis foi muito mais capaz de desenvolver o modelo F2012 do ano passado que o F138 desta temporada. Alonso sabe bem disso. E saiu criticando os responsáveis pela área técnica da Ferrari: “Não sou eu que projeto as peças". Massa não ficou atrás. Em Silverstone, depois de tanto ele quanto Alonso apresentarem desempenho fraco (o espanhol ficou em terceiro e Massa em sexto), o brasileiro afirmou: “Se mudaram o túnel de vento e as novas peças continuam não melhorando o carro, então há outro fator aí para explicar as razões de não evoluírmos”. A Ferrari vive uma crise. É inegável. Na última corrida, na Hungria, Alonso largou em quinto e recebeu a bandeirada em quinto. Massa saiu da oitava colocação no grid, teve problemas no aerofólio dianteiro e terminou em oitavo. Na etapa anterior, Nurburgring, Alemanha, Alonso largou em oitavo e acabou em quarto. Massa, em sétimo e abandonou ao rodar. Alonso somou nos Gps da Alemanha e Hungria 22 pontos. Vettel, maior adversário na luta pelo título, 40. Stefano Domenicali, diretor, sabe que há dois motivos principais para explicar a perda de competitividade da Ferrari: “Temos de voltar para o túnel de vento e estudar o que fazer para melhorarmos nossa aerodinâmica, a maior dificuldade”. E até o presidente da empresa, Luca di Montezemolo, expressou-se: “Não gostei da mudança dos pneus”. Por razões de segurança a Pirelli precisou modificar os pneus que vinha fornecendo este ano. Eles foram concebidos a partir dos dados obtidos com o carro de testes da empresa, um modelo Lotus de 2010, cujas solicitações impostas aos pneus são bem menores que nos carros atuais. Resultado: os pneus deste ano potencialmente poderiam apresentar problemas. E foi o que aconteceu em Silverstone. Os técnicos não respeitaram as condições de uso dos pneus, o traçado é o mais exigente do calendário, com curvas rápidas e mudanças bruscas de direção, e cinco pilotos tiveram um pneu dechapado. A FIA autorizou um teste para a Pirelli com os modelos deste ano, bem como a mudança dos pneus. Essencialmente a Pirelli retornou aos distribuídos em 2012, embora com o composto da banda de rodagem deste ano. Ao menos na Hungria, Mercedes, Red Bull e Lotus demonstraram aceitar melhor esses pneus. Parte da perda de desempenho da Ferrari está sendo creditado pelo time de Maranello às características dos novos pneus. Diante desse quadro, a Ferrari tem dois desafios até o próximo GP do calendário, na Bélgica, dia 25, nos dias em que seus integrantes puderem trabalhar, fora do período entre 3 e 17, férias obrigatórias: criar componentes que melhorem a resposta aerodinâmica do modelo F138 e redesenhar as suspensões a fim de fazer os novos pneus Pirelli garantirem ao carro o seu potencial de aderência, melhor explorado pelos concorrentes diretos, Red Bull, Lotus e agora a Mercedes.

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