O
deputado federal Eliseu Padilha, um dos chefes mais influentes do PMDB no Rio
Grande do Sul, defende o apoio imediato dos gaúchos à candidatura Dilma e acha
que o partido poderá coligar-se com o PT no Rio Grande do Sul. Se depender dos
encaminhamentos que estão sendo feitos por lideranças nacionais do PMDB com o
presidente estadual da sigla, Edson Brum, a tendência é de que o diretório
gaúcho apoie a candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) e do
vice-presidente Michel Temer (PMDB), garantindo um palanque à chapa no Estado.
“Vamos seguir o projeto nacional do PMDB, que, no caso, está sendo o de manter
a aliança PMDB/PT. Vale dizer, o PMDB do Rio Grande do Sul vai fazer campanha
para Temer e para Dilma”, antecipa Eliseu Padilha, defendendo que a decisão da
maioria deverá ser seguida por todos. “O presidente Edson Brum, no dia da posse
(no diretório), sinalizou que gostaria de iniciar tratativas para o PMDB no
Estado acompanhar o projeto do PMDB nacional, fosse ele qual fosse”, relembra,
sugerindo que dissidentes devem deixar a sigla. Em entrevista ao Jornal do
Comércio, Eliseu Padilha avalia, ainda, a construção de uma candidatura ao
Palácio Piratini para o próximo ano e o surgimento de novas lideranças.
Argumenta que, ao discutir alianças, o partido terá de ceder espaços na chapa
majoritária, podendo, inclusive, abrir a vaga ao Senado, hoje pertencente a
Pedro Simon. Diz, também, que não acha impossível PMDB e PT estarem juntos no
Estado em um futuro próximo.
Jornal
do Comércio - Há movimentos para que o PMDB gaúcho apoie a reeleição de Dilma?
Eliseu
Padilha - Sim. O PMDB do Rio Grande do Sul tem se constituído historicamente
como o “joãozinho-do-passo-certo” em relação ao partido nacionalmente. Éramos
dissidentes do PMDB nacional por várias razões e circunstâncias, especialmente
na eleição nacional. A experiência mostrou que tínhamos que mudar de
estratégia, e nisso o presidente (estadual da sigla) Edson Brum, no dia da
posse, sinalizou que gostaria de iniciar tratativas para o PMDB no Estado
acompanhar o projeto do PMDB nacional, fosse ele qual fosse.
JC
- Brum participou de reunião com a cúpula do PMDB em Brasília, no início do
mês, para tratar do apoio ao PT...
Padilha
- Esta reunião, tive o privilégio e a responsabilidade de organizar, entre o
PMDB do Rio Grande do Sul e o PMDB nacional e algumas figuras ilustres do
partido nacionalmente: o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, o
presidente da Câmara (Henrique Eduardo Alves), o presidente nacional do PMDB (senador Valdir Raupp). Então,
se pudesse fazer uma correção, eu diria: Nós não vamos apoiar o PT. Vamos
seguir o projeto nacional do PMDB, que, no caso, está sendo no rumo de manter a
aliança PMDB/PT na chapa majoritária. Vale dizer, o PMDB do Rio Grande do Sul
vai fazer campanha para Temer e para Dilma, mas a nossa mobilização é em função
do PMDB, em função do Temer, que escoa então na presidente Dilma.
JC
- Essa ideia sofre uma grande resistência interna no PMDB gaúcho. O que
aconteceria com quem não se dispusesse a seguir essa orientação?
Padilha
- A democracia não é o regime da totalidade. O regime da totalidade é o
absolutismo. A democracia é o regime da maioria. E quem se dispõe a participar
de um determinado partido político, que sabe que o regime é majoritário, logo,
que é democrático, tem, desde logo, que sua tese poderá ser vencedora ou
derrotada. E, no partido político, aqueles que internamente são derrotados,
normalmente, acompanham a decisão da maioria. Excepcionalmente, alguns saem.
Vou pegar o exemplo do PT e o nascimento do P-Sol. O P-Sol nasceu de alguns parlamentares
e outros líderes pelo Brasil afora que discordaram de posicionamentos do PT.
Então, no nosso caso, o que vemos é que a maioria já quer seguir o projeto
nacional do partido. Política a gente não faz contra, política a gente faz a
favor .
JC
- Então, a tendência é de que, no Estado, o PMDB dê palanque para a candidatura
da presidente Dilma?
Padilha
- A orientação que vejo sair da direção estadual é no sentido de que devemos
acompanhar o projeto nacional do partido. Obviamente, já foi colocado lá na
reunião com o presidente Michel Temer e com o presidente Raupp que o PMDB do
Rio Grande do Sul não vai entrar participando apenas com os votos. O PMDB do
Rio Grande do Sul quer participar também na administração.
JC
- Quando Henrique Eduardo Alves esteve com Tarso Genro (PT) no Palácio
Piratini, o senhor disse que já não achava mais impossível uma aliança entre
PMDB e PT no Estado...
Padilha
- Vamos rememorar. Estávamos pedindo votos para a presidência da Câmara (dos
Deputados) em favor de Henrique Eduardo Alves, e o governador disse: “Olha, eu
não sou eleitor, mas, se depender de mim, o PT inteiro vota com o candidato do
PMDB, Henrique Eduardo Alves”. Na época presidente da Câmara, Marco Maia (PT),
que acompanhava o encontro, provocou-me: “E então, Padilha, será que não é
possível fazermos uma aliança aqui?” Eu disse: “Olha, já não vejo de todo
impossível. Evidentemente que depende das posições. Por exemplo, se o PT
obedecer à orientação do ex-presidente Lula de que, em alguns lugares, para conquistar
o apoio, deve abrir mão (da cabeça de chapa)”. Por que não? Não vejo
impossibilidade. Nesta eleição, acho que é absolutamente impossível, mas, no
futuro, não vejo impossibilidade de, civilizadamente, os partidos que são os
maiores concorrentes (PMDB e PT) cuidarem de um projeto para o Estado.
JC
- Qual seria o argumento para a união?
Padilha
- O Rio Grande do Sul é, e será nos próximos anos, o pior estado em finanças
públicas se não houver uma aliança estadual. Se continuarmos tendo muitas
dissidências, as medidas duras que precisam ser tomadas para recompor as
finanças não serão tomadas, porque, se o governo tomar qualquer atitude, o
grupo que está na oposição - e neste caso a oposição acaba sendo maior - vai
impedir que se façam as mudanças.
JC
- A saída de Mendes Ribeiro (PMDB) do Ministério da Agricultura foi injusta?
Padilha
- A presidente Dilma, por certo, gostaria de continuar contando com Mendes
Ribeiro. Ele foi um dos ministros mais festejados pelos gaúchos de todos os
tempos. Ocorre que ele tem a mesma equipe médica que atendia a ela. Segundo o
médico, ela teria o dever de fazer com que ele fosse cuidar da saúde, porque é
uma doença que exige um cuidado maior.
JC
- No ano passado, Mendes Ribeiro e Germano Rigotto apareciam como principais
nomes para disputar o governo do Estado. Agora, fala-se mais de José Ivo
Sartori, além de Rigotto. A candidatura ao Piratini deve sair desses dois
nomes?
Padilha
- Se quisermos voltar a fazer política, temos que, antes de nos preocupar com
os nomes dos possíveis candidatos, nos preocupar com o programa que vai ser
debatido e oferecido à sociedade. Num primeiro momento, debatê-lo para
aperfeiçoá-lo, colher dados novos. Depois de consolidado, aí, sim: este é o
programa do nosso partido, porque tem as nossas características genéticas. Por
exemplo, é do DNA do PMDB, a liberdade
de expressão. É compromisso nosso a educação. É da história do MDB. É
compromisso nosso a redistribuição da renda. Então, temos que, antes de pensar
nos nomes, pensar no programa.
JC
- Como será construído o programa?
Padilha
- O PMDB do Rio Grande do Sul, conforme manifestações já feitas pelo presidente
Edson Brum, vai, a partir de uma pesquisa qualitativa - dizer os números que não interessam neste caso - saber o que o
povo gaúcho quer do próximo governo. Quais são as prioridades. A partir disso,
com os compromissos históricos do PMDB, é que se deve construir um programa
para o Rio Grande do Sul. E, aí, sim, analisar quem poderá ser o melhor
executor deste programa.
JC
- E os nomes?
Padilha
- Eu diria que não temos nome nenhum. E temos todos os nomes.
JC
- Como assim?
Padilha
- Não temos nome nenhum porque ainda não está desenhado o perfil do que quer o
povo gaúcho do próximo governo e do próximo governador. Depois a gente pode
começar a falar em nomes. Talvez tenhamos muitos nomes que pudessem se adaptar.
Eu me atrevo a voltar a alguns nomes que são de trânsito dentro do partido.
Devo começar pelo (ex-)ministro Mendes Ribeiro, se ele tiver condições de
saúde. Entre os mais falados, está Germano Rigotto, nosso ex-governador.
Seguramente, um nome, dentre todos, talvez o que mais mexa com a emoção do
corpo do partido. Aonde Rigotto vai, em qualquer evento partidário, é
ovacionado. Portanto, é um nome que tem que ser considerado.
JC
- Quem mais?
Padilha
– Depois, podemos ir então para os prefeitos. O prefeito (de Santa Maria) Cezar
Schirmer - em que pese ele tenha passado por este episódio da boate (Kiss),
para o qual não concorreu de forma nenhuma - é um quadro muito qualificado, que
pode, sim, ser candidato. O prefeito Sartori fez uma magnífica administração em
Caxias. É um nome que também está entre os disponíveis para o PMDB. Sei que um
deputado já manifestou interesse em participar: Osmar Terra. Ele não é
candidato. Mas, se a circunstância - o perfil - levar a ele, seguramente estará
à disposição. O deputado Alceu Moreira já falou que se o perfil pudesse ser o
dele, ele estaria com o nome disponível. Aqui no Estado, Alexandre Postal, que
presidiu a Assembleia Legislativa, proclamou-se pré-candidato. Reúne
experiência, conhecimento do Estado. Há dois outros mais jovens que também
poderiam se colocar, apenas estou exemplificando: Giovani Feltes e Márcio
Biolchi.
JC
- As duas forças que devem se enfrentar no segundo turno seriam PMDB e PT?
Padilha
- A história política recente do Rio Grande do Sul mostra que o grande embate
que acontece no Estado é entre PMDB e PT. Em que pese que o PT aqui não seja,
por exemplo, maior do que o PP, sob o ponto de vista de densidade partidária e
de participação nos municípios, o PP é superior ao PT. Mas o enfrentamento
histórico que tem acontecido aqui é PT e PMDB. Neste novo cenário, ainda não
está definido. Não sabemos quais são as composições, as alianças que vão
acontecer envolvendo o governador Tarso Genro e o PT, a senadora Ana Amélia e o
PP. Será que o PSB terá que lançar candidato próprio para ter palanque para o
Eduardo Campos? O PDT vai de candidatura própria, ou vamos manter a nossa
aliança, que tem tido grande sucesso na prefeitura de Porto Alegre, e que pode,
com larga margem de probabilidade, nos garantir o governo do Estado? Ainda é
cedo.
JC
- O seu nome pode vir a ser apresentado?
Padilha
- Não, não. Participo de um projeto nacional do partido. No momento, estou construindo um mapa do PMDB
no Brasil quanto às nossas possíveis alianças, possíveis candidaturas. O
vice-presidente Michel Temer já me convidou para ser coordenador da campanha
dele em 2014.
JC
- Como tem visto os movimentos do governador Eduardo Campos (PSB)?
Padilha
- Não há forma de não reconhecer que se trata de um nome em ascensão no cenário
político nacional. É um governador muito bem avaliado. É alguém que traz implicitamente
a ideia do novo. Ele terá chance de sucesso se, por qualquer razão, o governo
atual, que é favorito, errar na parte econômica.
JC
- A vaga de vice na chapa de Dilma é garantida ao PMDB?
Padilha
- De parte do PMDB, já está mais ou menos definida. Não está de parte do PT.
Mas não acredito que, a partir de todas as pedras que já foram lançadas no
tabuleiro, seja possível se fazer uma mudança muito grande.
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