quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Crise de energia pode reduzir expansão do PIB em 2013


A possibilidade de uma crise no setor energético pode frustrar de novo as expectativas em torno da recuperação econômica do País e levar o Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 a um crescimento menor que 3%. Segundo economistas, o risco de um racionamento afeta a confiança dos empresários e pode atrapalhar ainda mais os investimentos e a produção, que patinaram no ano passado. José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, disse que não tem dúvidas de que a questão da energia “vai afetar investimentos e o nível de atividade neste ano”. Hoje, a previsão dele para o crescimento do Brasil é de 2,7%, mas pode cair para 2,5% dependendo da extensão do problema elétrico. A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, afirma que é razoável avaliar se as térmicas vão funcionar durante todo o ano, o que pode diminuir investimentos e a produção industrial, num contexto já de muita incerteza de recuperação econômica do País no curto prazo. “Assim, é possível que o PIB cresça menos do que 3% neste ano”, disse. Em sua opinião, o governo pode retomar com doses vigorosas medidas fiscais para estimular os investimentos e a produção industrial, com o objetivo de elevar o PIB. Para o codiretor de Pesquisas para a América Latina do banco Barclays, Marcelo Salomon, o risco de racionamento pode levar a uma redução não só dos investimentos diretos no País, como também dos relacionados a portfólio de ações e renda fixa: “O investidor pode resolver aplicar seus recursos no México, por exemplo, onde as perspectivas econômicas no geral são melhores no médio prazo". Mas, para analistas do banco americano JP Morgan, o risco de um racionamento de energia no Brasil como ocorrido em 2011 é improvável. Segundo Gabriel Salas e Pedro Manfredini, em relatório enviado a clientes nesta quarta-feira, a chance de racionamento de energia permanece inferior a 10%, embora a situação atual de chuvas seja similar à seca observada na temporada de 2000/2001.A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) previu que a manutenção das termoelétricas ligadas poderá levar a um problema de inadimplência no setor. Isso, segundo o presidente da entidade, Nelson Fonseca, porque o dinheiro adicional gasto para mantê-las (cerca de 2 bilhões de reais desde outubro, de acordo com a Abradee), acaba saindo do caixa das distribuidoras, que pagam a conta à vista e só repassam para os consumidores na data do reajuste de cada empresa. “As concessionárias desembolsam o valor no ato e recebem em 12 parcelas mensais. Isso cria um hiato grave para as empresas”, diz o executivo, lembrando que algumas distribuidoras estão pagando os custos agora e só terão reajuste em outubro e novembro. Pelas contas de Fonseca, os gastos com as termoelétricas representam cerca de 50% do Ebtida (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) das distribuidoras e, na atual situação dos reservatórios, o País não pode abrir mão das térmicas: ”Por isso, temos de encontrar uma solução, um acordo geral para evitar uma inadimplência setorial". Fontes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) afirmam que o assunto já começou a ser discutido e poderá entrar na pauta das reuniões de diretoria. Uma idéia seria criar um mecanismo que permita o repasse mensal dos gastos para a tarifa do consumidor. Hoje os valores são acumulados e transferidos para a conta de luz de uma única vez – a cada mês de geração térmica, o impacto na tarifa é de 1%. O que pode reduzir esse porcentual é a retirada de alguns contratos do Grupo Bertin, de usinas que não ficaram prontas dentro do cronograma. O acionamento das térmicas também tem afetado a Petrobras. A companhia precisa comprar no mercado superaquecido gás natural liquefeito (GNL) para abastecer as usinas termoelétricas. No cálculo da consultoria Gas Energy, o prejuízo é de cerca de 240 milhões de reais por mês. Como se não bastasse o cenário de redução do nível de reservatórios, ligamento de térmicas mais caras e risco de racionamento, o atraso na construção de linhas de transmissão também contribui para o complicado cenário do setor elétrico do Brasil. A Hidrelétrica Santo Antônio, em Porto Velho (RO), por exemplo, encerrou 2012 com 9 das 27 turbinas funcionando, mas sem autorização para a entrada em operação da linha que vai levar a energia gerada na usina para o Sistema Interligado Nacional. Desse modo, o mercado deixa de receber 644 megawatts (MW) de eletricidade, o suficiente para abastecer cerca de 3 milhões de residências. Atualmente, 57% dos empreendimentos de transmissão estão com atraso no cronograma. São 238 linhas e subestações com problemas ambientais e outros questionamentos. A assessoria de Santo Antônio informou que até a entrega do Linhão do Madeira, que conectará definitivamente a usina ao sistema nacional, a energia está sendo transmitida por meio da Subestação Coletora de Porto Velho, que garante a conexão da usina ao Sistema Elétrico Regional, alcançando os Estados de Rondônia e Acre. A linha de transmissão prevista para Santo Antonio e Jirau terá 2,4 mil quilômetros, e ligará Porto Velho a Araraquara, em São Paulo. De acordo com informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Licença de Operação deveria ter sido dada até setembro de 2012. Quanto às estruturas, somente 73% estão concluídas. O início da operação comercial, previsto para abril de 2012, já está quase com um ano de atraso. Isso é que é gerenciamento, coisa de dar inveja a português angolano, ou moçambicano.

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