sábado, 24 de março de 2012
Fernando Henrique Cardoso defende restrição ao desmate
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, disse na última quinta-feira ser a favor do desmatamento zero no Brasil. "Já me manifestei a favor. Porque acho que não há por que se aceitar o desmatamento como uma técnica de utilização da floresta. Existem experiências com comunidades extrativistas que demonstram que se pode conviver com a floresta e dar sentido econômico a ela, sem destruí-la. E a Amazônia não é só floresta, pode-se plantar onde não tem floresta, mas onde tem um bem tão grande, é melhor manter a posição mais estrita", afirmou ele durante o 3º Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus, onde fez uma apresentação sobre os desafios do desenvolvimento sustentável. Questionado sobre sua posição em relação à mudança do Código Florestal, disse que "tem de continuar firme. Tem de manter de toda a maneira as restrições para preservar o meio ambiente". Depois, quanto à votação, mandou uma espécie de recado ao Congresso em relação à disputa de partidos que se formou em torno da questão: "Eu tenho medo que a votação seja utilizada para outros fins que não de dizer se é bom ou mau. Nessa matéria acho que a gente tinha de ter uma posição de convergência nacional. Se é meio ambiente, é uma discussão nacional, não de partido". Fernando Henrique Cardoso lembrou que, desde 1972, quando os problemas do meio ambiente começaram a ganhar destaque, com a conferência de Estocolmo, o mundo avançou na compreensão do problema e na aceitação de que ambiente e crescimento não são discordantes: "Já sabemos que é possível ter desenvolvimento e respeito à natureza juntos. Sabemos o que tem de ser feito e como ser feito. Mas o problema é que isso é urgente. E isso ainda não foi entronizado pela sociedade brasileira nem pelas sociedades de outros países. E ainda não vi muita clareza nessa questão, não há um projeto nacional que entrelace as duas coisas. Não é uma questão se vai ganhar mais ou menos com isso, é um desafio moral, porque o valor que tem nisso é o valor da vida". Fernando Henrique Cardoso comentou ainda sobre a proposta de se substituir o PIB por uma outro tipo de medida que leve em conta o capital natural. Disse que de fato é preciso levar em conta o efeito do crescimento sobre a qualidade de vida: "As pessoas comparam que não crescemos como a China. Mas não precisamos crescer como a China. Nos últimos 10 anos, tivemos um crescimento de 4%, não é tão alto, mas houve uma mudança grande nas condições de vida. Só crescemos 10% no regime militar. São Paulo crescia e a pobreza aumentava". E emendou sobre como isso pode ser relacionado com o momento de crise econômica: "Já que temos o desafio de fazer a economia funcionar de novo, que seja de um modo novo, da economia verde". Ele lembrou que é preciso também pensar com antecipação sobre a necessidade energética, quando questionado sobre o que achava da construção da usina de Belo Monte: "Há 20 anos, 30 anos, teríamos de ter pensado em uma matriz que não precisasse de tantas hidrelétricas com grande inundação, em aumentar a energia eólica, ou fazer uma poupança de energia. Não fizemos isso. E como precisamos de energia para manter um certo nível de crescimento econômico, não tem outro jeito e lá vai Belo Monte. Mas o problema é que se não começarmos a pensar já em alternativas para a nossa matriz energética, daqui a pouco precisaremos de outra Belo Monte. A tendência no Brasil é de que é melhor usar o potencial hídrico porque ele é grande, é renovável e é energia limpa. É verdade, mas vamos tentar usar melhor. Fala-se muito, mas não se faz. As pequenas quedas d'água, em conjunto, podem ser tão eficientes quanto uma grande usina, mas não fazemos isso. Falamos, mas não fazemos".
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