quarta-feira, 30 de março de 2011
Jordânia quer "maior descoberta da história cristã" de volta
O governo da Jordânia tenta repatriar livros feitos de chumbo que, segundo suspeitas de especialistas, parecem ser os mais antigos da história cristã, tendo sobrevivido a quase 2.000 anos em uma caverna do país do Oriente Médio. As relíquias, que estão atualmente em Israel, poderiam trazer à luz novos dados sobre o nascimento do cristianismo e sobre a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo. O conjunto de cerca de 70 livros, cada um com entre 5 e 15 "folhas" de chumbo presas por aros de chumbo, foi aparentemente descoberto em um vale remoto e árido no norte da Jordânia, entre 2005 e 2007. Uma enchente expôs dois nichos dentro da caverna, um deles marcado com um menorá, candelabro que é símbolo do judaísmo. Um beduíno jordaniano abriu os nichos e o que encontrou ali dentro parece ser uma extremamente rara relíquia dos primórdios do cristianismo. Essa é a visão do governo da Jordânia, que alega que os livros foram contrabandeados para Israel por outro beduíno. O beduíno israelense que atualmente guarda os livros nega tê-los contrabandeado e alega que as antiguidades são peças que sua família possui há cem anos. O governo jordaniano disse que fará "todos os esforços, em todos os níveis" para repatriar as relíquias. O diretor do Departamento de Antiguidades da Jordânia, Ziad Al-Saad, diz que os livros parecem ter sido feitos por seguidores de Jesus nas décadas seguintes a sua crucificação. "Talvez eles sejam mais significativos que os pergaminhos do mar Morto (relíquias descobertas nos anos 1940 que contêm textos bíblicos)", disse Saad. "Talvez eles precisem de mais interpretação e conferência de autenticidade, mas a informação inicial é muito animadora. Parece que estamos diante de uma descoberta importante e significativa, talvez a mais importante da história da arqueologia". As "folhas" dos livros, a maioria delas do tamanho de um cartão de crédito, contêm textos escritos em hebraico antigo, a maior parte em código. Se as relíquias forem de fato de origens cristãs, em vez de judáicas, são de grande significado. Um dos poucos a ter visto a coleção é David Elkington, acadêmico que estuda arqueologia religiosa e líder de uma equipe britânica empenhada em levar os livros a um museu na Jordânia. Elkington alega que os livros podem ser "a maior descoberta da história cristã": "É de tirar o fôlego a idéia que tenhamos contato com objetos que podem ter sido portados pelos primeiros santos da Igreja". O acadêmico diz que as relíquias contêm sinais que seriam interpretados, pelos cristãos da época, como imagens de Jesus e de Deus e da "chegada do messias". Na "capa" de um dos livros "vemos o menorá de sete ramificações, o que os judeus eram proibidos de representar porque ele residia no local mais sagrado do templo, na presença de Deus", explica Elkington: "Assim, temos a vinda do messias para obter a legitimidade de Deus". Philip Davies, professor emérito de estudos do Velho Testamento da Universidade de Sheffield, afirma que a prova mais contundente da origem cristã das relíquias está em um mapa feito da cidade sagrada de Jerusalém. "Há uma cruz em primeiro plano e, atrás dela, está o que seria a tumba (de Jesus), um pequeno edifício com uma abertura e as muralhas da cidade. Outras muralhas representadas em outras páginas dos livros quase certamente se referem a Jerusalém", diz Davies, que afirma ter ficado "estupefato" com as imagens, "claramente cristãs". A cruz é o que mais chama a atenção dos especialistas, feita no formato de um T maiúsculo, como eram as cruzes que os romanos usavam para crucificações. "É uma crucificação ocorrida fora dos muros da cidade", diz Davies. Margaret Barker, especialista em história do Novo Testamento, ressalta que o local onde se acredita que as relíquias tenham sido encontradas denota sua origem cristã, e não puramente judaica: "Sabemos que, em duas ocasiões, grupos de refugiados dos distúrbios em Jerusalém rumaram a leste, atravessaram a Jordânia perto de Jericó e foram para perto de onde esses livros parecem ter sido achados". Ela acrescenta que outra prova da "proveniência cristã" é que as relíquias são em formato de livros, e não de pergaminhos: "Os cristãos eram particularmente associados com a escrita na forma de livros e guardavam os livros como parte da secreta tradição do início do cristianismo". O Livro das Revelações se refere a esses textos guardados. Outro possível elo com a Bíblia está contido em um dos poucos fragmentos de texto que foram traduzidos das relíquias. O fragmento, acompanhado da imagem da menorá, diz: "Devo andar honradamente", frase que também aparece no Livro das Revelações. Ainda que a frase possa simplesmente significar um sentimento comum no judaísmo, pode também se referir à ressurreição. Não está esclarecido se todos os artefatos descobertos são parte do mesmo período, mas testes feitos no chumbo corroído dos livros indica que eles não foram feitos recentemente.
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