Do jornalista Graciliano Rocha, no jornal Folha de S. Paulo: "O bancário Ricardo Neis, 47, que atropelou um grupo de ciclistas em Porto Alegre (RS) na semana passada, foi internado em uma clínica psquiátrica nesta terça-feira. No início da noite, os advogados dele confirmaram a internação, mas não revelaram a localização. "Ele está muito abalado porque não estava preparado para tudo isso. A internação foi o melhor caminho para evitar um surto", disse o advogado Jair Antônio Jonco. Na tarde de hoje, Neis já havia procurado atendimento em outro local. Na Clínica Psiquiátrica São José, na zona sul de Porto Alegre, ele foi examinado por um médico e liberado em seguida. Na segunda-feira, após dizer à polícia que acelerou contra os ciclistas para evitar um suposto "linchamento", Neis afirmou que estava abalado e não conseguia dormir. O delegado Gilberto Montenegro, que investiga o atropelamento, informou pediu o indiciamento de Neis sob suspeita de tentativa de homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e sem chance de defesa para as vítimas). A juíza Rosane Michels, do 2º Juizado da 1ª vara do júri de Porto Alegre, recebeu os pedidos de prisão preventiva feitos pela polícia e pela Promotoria e deverá decidir nesta quarta-feira se o bancário Neis será preso ou se continua em liberdade. "Pelas imagens que a Polícia Civil viu, ele fez uso do automóvel como arma, foi isso o que nos levou a pedir a prisão preventiva", afirmou Montenegro hoje pela manhã. Segundo ele, pelo menos 40 pessoas poderão figurar como vítimas no inquérito policial. São tanto ciclistas atropelados pelo carro como outros que se feriram no choque com outras bicicletas no após o Golf preto conduzido por Neis arremeter contra a multidão. O motorista também alegou ter sido ameaçado por ciclistas do movimento Massa Crítica, que promovia o passeio na sexta. Pela sua versão, ele acelerou contra o grupo porque temia ser linchado junto com o filho de 15 anos, que também estava no carro. Montenegro considerou a explicação insuficiente e vê "motivo fútil" para o motorista ter atropelado os ciclistas. Outro agravante citado pelo delegado foi o fato de as pessoas terem sido colhidas pelo Golf quando estavam de costas --sem chance de defesa, portanto. "Ele tinha idéia das consequências do seu ato", afirmou o delegado. O inquérito deve ser concluído até o final deste mês. O caso provocou comoção na cidade porque os ciclistas atropelados integram um grupo que defende o uso de bicicletas no trânsito. A prisão de Neis virou um objeto de disputa entre a Polícia Civil e o Ministério Público. Nos bastidores, delegados acusam a Promotoria de querer faturar publicamente com um pedido de prisão que a Polícia Civil já pretendia fazer. O promotor Eugênio Amorim, que requereu a detenção do atropelador, rebateu a insinuação. "O Ministério Público só pediu a prisão porque percebeu que a polícia não pediria. Ontem à tarde, o delegado Montenegro não me deu nenhum indicativo que pediria prisão. Foi textual em me dizer que não estava com pressa", disse o promotor à Rádio Gaúcha. O promotor afirmou que seu pedido de prisão foi fundamentado no vídeo, depoimento de uma das vítimas e ainda nos antecedentes criminais de Neis (que já foi acusado de ameaça e agressão contra uma mulher). "O clamor social não existe por acaso, mas pela brutalidade do ato. Imagina o cidadão passa por cima de dezenas de ciclistas", declarou. Montenegro refutou a alegada falta de pressa. Segundo ele, só não pediu a prisão do suspeito antes porque queria ouvi-lo em depoimento para oferecer ao Judiciário as versões do autor e das vítimas do atropelamento. O delegado confirmou o mal-estar com a polêmica: "Por causa de um ou dois promotores, não vou entrar em polêmica com Ministério Público".
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