sexta-feira, 7 de maio de 2010

Do jornalista Reinaldo Azevedo - A “MÍDIA” QUER BOTAR UMA CORDA NO PRÓPRIO PESCOÇO, É ISSO?

Entidades que representam os grupos de comunicação resolveram, como naquela música de Gonzaguinha que traz um dos mais espantosos versos da língua, “pôr a dita-cuja na janela para que passem a mão nela”. Por que isso? Na terça-feira, em conferência na Câmara, informaram que estudam a criação de um código de auto-regulamentação. É mesmo, é? Agora? Em meio à gritaria petista contra a “mídia”, a “imprensa golpista” e boçalidades do gênero? Fica parecendo admissão de alguma culpa, que não existe. Até porque o PT não está interessado em regulamentar coisa nenhuma! Não gosta de notícias negativas, certas ou erradas, e aplaude as notícias positivas, certas ou erradas. O partido reclamou, alguma vez, das revistas, sites, blogs e jornais que reproduzem as verdades eternas da legenda, muitos deles sustentados pelo leite de pata da propaganda oficial e das estatais? O PT tentou censurar a imprensa por meio do Conselho Federal de Jornalismo, tenta conduzir a pauta por meio da distribuição dirigida do capilé oficial e agora propõe às empresas de comunicação que debatam as virtudes da autocensura. “Auto-regulamentação não é auto-censura, Reinaldo”. Depende! Antes me digam o que há de errado com a imprensa brasileira. Eu sou um de seus críticos severos. Acho que está coalhada de esquerdistas, por exemplo. Ainda ontem, numa entrevista concedida pelo tucano José Serra, demonstrei como uma questão falsa, inventada pelo PT, pode ir parar na boca de uma jornalista que aparentemente fazia uma indagação sobre um dado da realidade. Segundo ela, Lula interrompeu o “programa de privatização do governo FHC”. Eu a desafio a mostrar o “programa interrompido”. Não existe! É mentira! Será que ela cairia nas malhas da “auto-regulamentação”? Sou crítico, sim, da imprensa. Mas acho que os males da liberdade se corrigem com mais liberdade, nos limites das leis e da Constituição. É preciso cuidar hoje do direito de resposta, nada mais. Falar em auto-regulamentação agora corresponde a uma espécie de concessão a um bando de censores enraivecidos, que odeiam a democracia e a imprensa livre. Ela funciona e é necessária na publicidade? Parece que a resposta é “sim” e “sim”, mas são atividades diferentes. A imprensa séria tem na publicidade a sua fonte de financiamento, mas seu objetivo primeiro não é vender produtos, mas fazer circular informações e idéias. Há canalhas no jornalismo e nas empresas jornalísticas? Certamente! Há canalhas em todo lugar. Esse debate, agora, é concessão ao obscurantismo; parece a tática assustada de quem fornece os anéis para preservar os dedos. Se um conselho de auto-regulamentação na publicidade decide tirar do ar uma peça que associa a cerveja à libido, por exemplo, um dos bons lugares para debater esse assunto, inclusive para defender que não há nada de errado nessa associação, ainda que muitos fiquem escandalizados, é a imprensa. O Conar, que eu saiba, atua de moto próprio e quando acionado. Uma conselho de auto-regulamentação da mídia — ou sei lá que nome tenha — se converteria logo num muro de lamentações. Todos os agravados por reportagens recorreriam a ele. Dou um exemplo prático. Peguemos o caso das fitas que estão circulando por aí com gravações que comprometem o Secretário Nacional de Justiça, Tuma Jr. Há gente doidinha para impedir que a imprensa publique esse tipo de material. Afinal, o vazamento é ilegal. Certo! Mas a quem cabe guardar o sigilo dessas coisas? Não é à imprensa . Certo como a luz do dia, o conselho sofreria uma pressão que seria, antes de mais nada, de natureza ideológica. A exemplo daquele verso de Gonzaguinha que rivaliza com o melhor Camões, se a coisa está na janela, então passam a mão nela. Ontem, os líderes do governo e do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Fernando Ferro (PE), respectivamente, defenderam a participação do Congresso na criação do tal órgão de auto-regulamentação da mídia. Em breve, alguém defenderá também que seja integrado por um representante do Ministério da Justiça, um do Judiciário, outro do Ministério Público e, claro!, um dos “movimentos sociais”. As entidades podem dizer “não”, sei disso. A presidente da ANJ, Judith Brito, afirmou que a discussão não deve passar por nenhuma instância legislativa e deve ser feita somente no âmbito do setor de mídia. Para quê? Para responder a qual necessidade? Na imprensa, não cabe nenhuma forma explícita ou velada de censura, nem aquela exercida pelos próprios pares. O bem essencial que une e que diferencia os membros desse setor é a liberdade de expressão. Só!!! Um bem submetido aos rigores das leis democráticas. O resto é pressão de quem odeia a liberdade! Querem saber? A meu juízo, esse debate indica que o “mal” atravessou a fronteira e já circula entre aqueles que deveriam ser os últimos guardiões da liberdade.

Nenhum comentário: