quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Seca dos rios em Manaus revela lixo e degradação ambiental em marina


Durante a seca, toneladas de lixo transformam paisagens que deveriam ser cartões postais de Manaus em depósitos de resíduos. Na Marina do Davi, um dos pontos de maior movimento para quem deseja se deslocar até balneários próximos a Manaus, o cenário desagrada. A Secretaria Municipal de Limpeza Urbana diz que mantém limpeza diária, mas afirma que o local enfrenta reflexos da falta de conscientização de visitantes. Nessa época do ano, é preciso andar cerca de um quilômetro até chegar ao ponto de embarque mais próximo, onde há água o suficiente para as lanchas e "voadeiras" navegarem. No caminho, garrafas, latas, sacolas, plástico, vidro e até madeira dividem espaço entre as embarcações. O que não emerge nas pequenas poças de água que ainda restam, ficou pelo caminho quando o rio secou. O montador Raimundo Antônio de Carvalho, de 42 anos, lamenta o cenário. "Passei 10 anos sem vir aqui, mas antes nunca tinha visto um cenário como esse. A gente nunca espera algo assim, fiquei assustado", relata.


Para a dona de casa Célia Silva, de 38 anos, a culpa do acúmulo de lixo se divide entre a população e as autoridades. "Infelizmente, tem gente que não está nem aí e joga lixo como se ele fosse desaparecer, mas não é isso o que acontece. Quando a vazante vem, o volta e aí fica assim. Penso que deveria haver um trabalho de conscientização maior por parte das autoridades, explicando que isso é ruim para todo mundo" explicou. No local, uma cooperativa de turismo tenta ajudar no processo de limpeza do rio. A empresa instalou duas lixeiras específicas para o depósito de latas de alumínio, material que pode ser reciclado posteriormente. O titular da Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), Paulo Farias, disse que o trabalho de limpeza urbana é feito diariamente no local, porém, a população dificulta o processo de limpeza porque não tem o hábito de levar o lixo produzido nas embarcações à caixa coletora instalada na parte superior da marina. "Nós estivemos lá ao longo do final de semana, só não estivemos ontem por conta do Dia de Finados. As pessoas ao desembarcarem não estão se dando ao trabalho de levar suas sacolas de lixo até a caixa de lixo que esta disponível lá em cima, como sempre esteve. As pessoas estão largando os sacos de lixo diretamente no local onde desembarcam e isso é um procedimento que deve ser evitado. Elas devem levar seus sacos de lixo até a caixa, assim como faziam quando o rio estava cheio", afirma o secretário. 



Farias informou ainda que desde o final de semana um fiscal da secretaria está no local para orientar o descarte correto do lixo. Segundo o secretário, no sábado (31), uma máquina deslocada para a parte de baixo coletou muitos resíduos do local. No entanto, o secretário não soube informar a quantidade de resíduos retirada da área. "A equipe não sai de lá. A Marina do Davi tem coleta diária, tem varrição diária, estivemos lá embaixo no final de semana, agora, é importante que o procedimento seja cumprido. A caixa de lixo está para receber a coleta dos barcos", pontua. O mestre de ecologia, Carlos Durigan, ressalta que o acúmulo de certos materiais prejudicam tanto o ambiente quanto ao homem. Ele destacou que o local sofre influência de resíduo como chumbo, enxofre, metais pesados e outros produtos químicos que podem alterar o ecossistema. "O resíduo sólido que está depositado no entorno de Manaus não vai se degradar tão cedo, para alguns desses materiais são centenas de anos. A questão do acúmulo desses materiais altera o ambiente das espécies que vivem por lá. Durante a seca a gente vê, durante a cheia não, fora os que ficam no fundo. Manaus tem muito problema de resíduos de casas e indústrias, além das embarcações que ficam no entorno da cidade e naquela área da marina. Nessa época de seca vira uma espécie de sopa contaminada. Uma água que tem resíduo de chumbro, enxofre, metais pesados em geral e outros produtos químicos que prejudicam o organismo a longo prazo. Além disso, tem as possibilidades de doenças como a leptospirose", afirma. Durigan concorda com o secretário quanto à responsabilidade da população, mas enfatiza que a cidade precisa de medidas mais eficazes contra o problema. "Só a limpeza não adianta, é preciso uma conscientização da população e uma fiscalização mais forte. Nós ainda não temos um aterro sanitário adequado para o lixo que produzimos, então mesmo quando o lixo é recolhido não se tem um destinamento correto", criticou.

Na Marina do Davi, embarcações dividem espaço com lixo em terra e na água (Foto: Marcos Dantas/G1 AM)Cooperativa de turismo instalou lixeiras para coletar latas de alumínio para reciclagem (Foto: Marcos Dantas/G1 AM)

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