terça-feira, 16 de junho de 2015

Morre o empresário Olacyr de Moraes, aos 84 anos


O empresário paulista Olacyr de Moraes, conhecido como “rei da soja”, morreu na madrugada desta terça-feira, em São Paulo. Ele sofria de câncer no pâncreas e estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein, onde foi velado das 8 às 11 horas, em cerimônia restrita a familiares e amigos mais próximos. De lá, o corpo foi levado para o Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, região da Grande São Paulo, onde houve uma cerimônia na presença de filhos e netos. O corpo será cremado nesta quarta-feira. O falecimento foi informado em nota no site oficial do empresário: “É com profunda tristeza que comunicamos o falecimento do empresário Olacyr de Moraes, 84 anos, na manhã desta terça-feira, 16 de junho de 2015, às 3:40 horas da manhã na cidade de São Paulo. Olacyr lutou bravamente contra um câncer de pâncreas descoberto no início de 2014 mas acabou sucumbindo à doença”. No Congresso, o senador Blairo Maggi (PR-MT), um dos maiores produtores de soja do Brasil, lamentou a morte do amigo. "Olacyr foi um visionário que acreditou no potencial do centro-oeste, quando ninguém mais acreditava ser um solo apropriado para o cultivo de grãos. Perdi um amigo e o Brasil um grande homem", disse Blairo Maggi.


Já a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) divulgou nota afirmando que “Olacyr foi um desbravador e empreendedor, apostou na agricultura no Centro-Oeste e investiu na produção e pesquisa de grãos”. O empresário Olacyr Francisco de Moraes nasceu em Itápolis, interior do estado de São Paulo, no dia 1º de abril de 1931, e já esteve à frente de um patrimônio de US$ 2 bilhões. Filho de um vendedor de máquinas de costura, aos 19 anos abriu, com seu irmão, Odimir, e seu pai, Augusto, a empresa de transporte de cargas "Argeu Augusto de Moraes e Filhos Ltda". O pulo do gato foi quando começou a prestar serviços para a prefeitura de São Paulo, primeiro transportando pedras para a pavimentação de ruas e, depois, executando a pavimentação das ruas. Em 1957, abriu a empresa Construção e Transportes Constran Ltda, que passou a cuidar de obras mais complexas. Em 1971, Olacyr transformou a Constran em uma sociedade anônima e investiu parte dos lucros em outros setores, ampliando seus domínios. Nessa época criou o o Banco Itamarati, por exemplo. A chegada ao agronegócio foi em 1967, quando, beneficiando-se dos incentivos fiscais do governo na época para quem investisse na região amazônica, criou a Orpeca S.A. com um grupo de empresários, para criação e engorda de gado no norte do Estado do Mato Grosso. 


Em 1975, a apenas 300 quilômetros de Cuiabá, Olacyr inaugurou a empresa Itamarati Norte S/A, onde passou a produzir principalmente soja, milho e algodão. O título de “rei da soja” veio nos anos 80, quando se tornou o maior produtor individual de soja do mundo. Algumas apostas frustradas, como a ferrovia com que sonhava integrar o Centro-Oeste com o litoral, a Ferronorte, e calotes de governos fizeram seu império ruir. As dívidas chegaram a US$ 1 bilhão. O marco da derrocada foi em 1996, quando não pagou o que devia a investidores internacionais que haviam comprados papéis da Constran. O executivo passou a vender o que tinha. O banco Itamarati foi vendido ao BCN, a fazenda do Mato Grosso do Sul foi vendida ao Incra e a propriedade que mantinha no Mato Grosso foi arrendada a Blairo Maggi, que o substituiu no reinado da soja. A Ferronorte foi vendida à ALL, a Constran, à UTC, e a usina de cana-de-açúcar Itamarati foi passada a sua filha, Ana Cláudia. Em 2011, entrou em nova empreitada: a mineração. Naquele ano, a única empresa que restara de seu outrora bilionário patrimônio anunciou a descoberta da primeira reserva de tálio do País, mineral raro usado para produzir computadores, iPods etc. A reserva fica em Barreiras (BA). Até então, os únicos produtores do mineral eram China e Cazaquistão. "Descobrimos verdadeiras maravilhas. Estou em busca de parceiros estrangeiros. Já mandei gente até para a China", disse ele na ocasião. A descoberta ocorreu por acaso. O empresário buscava calcário para usá-lo como adubo na agricultura e acabou topando com outros minérios. Além do tálio, a Itaoeste — empresa criada em 2002 e da qual Olacyr detém 50% — encontrou manganês, ouro, cobre e outros minerais. Apesar da idade avançada, Olacyr mantinha uma rotina pesada: acordava por volta das 6 horas, lia os jornais e ia para o escritório. Duas vezes por semana, caminhava num parque próximo a seu apartamento de 500 metros quadrados no Itaim, bairro nobre de São Paulo. Em abril daquele ano, festejou até de madrugada seu 80º aniversário, numa recepção para 200 pessoas no Clube A, onde batem ponto os VIPs paulistas. Vivia rodeado de belas e jovens mulheres, companhias inseparáveis desde que se separou de Edna, no início dos anos 90, após quase 30 anos de casamento. Além de jantares e viagens, Olacyr bancava estudos e até plásticas de muitas delas. "São todas minhas amigas. Sair com gente que está se despedindo da vida não dá, né? — dizia ele.


Quatro seguranças cuidavam do empresário, que circulava em um Lexus blindado. "Só viajo para Nova York, Paris. Não quero ver desgraça", afirmava Olacyr. Com o fim de seu império, Olacyr deixou a lista de bilionários, mas ainda acumulava muitos zeros à direita em sua conta bancária: "A venda dos ativos me rende uns R$ 2 milhõezinhos por mês", comentou em 2011. Ele culpou seu “pioneirismo” pela derrocada dos negócios e disse que, "se fizesse tudo de novo, seria mais moderado", para não ter mais problemas. Olacyr de Moraes tinha 84 anos. Deixa dois filhos, Ana Claudia e Marcos, e cinco netos.

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