Joaquim Levy e Nelson Barbosa foram, nesta quinta-feira, extra-oficializados — e vejam como Dilma Rousseff força o estropiamento da língua portuguesa — como futuros ministros da Fazenda e do Planejamento. Mas ainda não tomaram posse. Estarão numa equipe de transição do governo Dilma para o… governo Dilma. Vale dizer: Levy e Barbosa aplanarão o terreno para a posse de… Levy e Barbosa. Parece uma maluquice? É uma maluquice.
O futuro titular do Planejamento não disse nada de aproveitável. Limitou-se a agradecer a confiança e coisa e tal. Levy não! Este falou. E com clareza. Fez um discurso apropriado a um governo, digamos, liberal. E o centro de sua fala poderia ser considerado explosivo se alguém estivesse hoje empenhado em cobrar coerência da presidente Dilma. Mas já ninguém se ocupa disso. Se o futuro ministro conseguir evitar o pior, já está de bom tamanho. Explico.
Levy falou, basicamente, sobre recuperar a credibilidade — o que significa admitir que credibilidade não há. E como fazê-lo? Ele deu a entender que essa confiança nasce da previsibilidade, o que demanda o cumprimento do que se promete. Curiosamente, para que se atinja tal objetivo, a Dilma presidente terá de desmentir a Dilma candidata.
O futuro ministro defendeu que se faça um superávit, no ano que vem, de 1,2% do PIB e, nos anos seguinte, de 2%. Mas não dourou a pílula. Agora vem o centro de sua fala: “Para se realizar essa trajetória para a relação dívida PIB, o superávit primário do setor público consolidado deve alcançar o valor de, no mínimo, 2% do PIB ao longo do tempo (…) desde que não haja ampliação do estoque de transferência do Tesouro Nacional para instituições financeiras públicas”.
Sintetizo: ele está falando, principalmente, sobre o BNDES, sim, senhores! Está afirmando que é preciso pôr um limite à farra que permite ao Tesouro repassar dinheiro ao banco como quem diz “hoje é sexta-feira”. Mas que mal há nisso? Bem, o Tesouro capta dinheiro no mercado pela Selic (11,25%) e empresta a alguns eleitos a 5%. Tanto Marina Silva (PSB) como Aécio Neves (PSDB) falaram da necessidade de impor um limite à esbórnia. A candidata Dilma os acusou, então, de ser inimigos dos bancos públicos — e não apenas do BNDES: também do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.
Levy falou o que aqueles que os petistas chamam “conservadores” queriam ouvir. Como esquecer que, durante a campanha, Lula bateu no peito e se orgulhou de, segundo disse, ganhar eleições contra o mercado? É, diga-se de passagem, mentira. De todo modo, pode-se até ganhar uma eleição contra o dito-cujo, mas certamente não se governa contra ele.
“Então é uma ditadura de mercado, Reinaldo?” Não! As regras a que me refiro são apenas as de bom senso: não gastar mais do que arrecada; não permitir que as despesas cresçam a um ritmo maior do que o das receitas; não tratar o Tesouro como a casa-da-mãe-Joana.
Não foi uma fala subserviente. Nesta quinta-feira, o inefável Gilberto Carvalho, ainda secretário-geral da Presidência e, espera-se, futuro desempregado (ao menos em cargo público), afirmou que, ao entrar no governo, Levy aderia ao paradigma petista de governança. Trata-se, claro!, de uma sandice. É o petismo quem se rende às críticas feitas pelos adversários.
Que coisa! Só o estelionato salva o governo Dilma Rousseff. Por Reinaldo Azevedo
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